Método propõe transplantes cruzados entre dois ou mais pares de doador-receptor Foto: Salmo Duarte / Agencia RBS |
A teoria de combinação de marcado, que rendeu aos norte-americanos Alvin Roth
e Lloyd Shapley o Prêmio Nobel de Economia 2012,
ajudou a reduzir a fila de espera por um transplante de rim na região de New
England, nos Estados Unidos. A premiação, anunciada na segunda-feira, dá corpo a
uma discussão interna no meio médico sobre as vantagens e desvantagens do
sistema de intercâmbio de órgãos.
O professor de Economia da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) Giácomo Balbinotto Neto, que também desenvolve estudos sobre
transplantes de rins no Estado, em parceria com alunos, explica que a teoria de
combinação criada por Shapley e aplicada por Roth na área da saúde gera uma
lógica de mercado sem que haja preço, como é o caso dos transplantes.
— O objetivo é proporcionar o melhor "casamento" entre os pares quando o bem
não tem valor monetário, mas é escasso — esclarece.
Em economia, essa relação se dá entre trabalhadores e vagas, aplicação também
proposta por Roth, que utilizou o sistema na alocação de médicos residentes em
hospitais dos Estados Unidos.
O método que deu origem ao Programa de Transplante de Rins em New England
consiste no intercâmbio de órgãos entre dois ou mais pares de
doador-receptor, gerando uma cadeia, onde um doa um rim para o outro que doa
para o primeiro. A combinação é calculada por meio de um programa
computadorizado que aplica o algoritmo desenvolvido por Roth, levando em conta
critérios médicos e matemáticos.
Especialista em transplante de rins, o médico Valter Garcia, da Santa Casa de
Porto Alegre, declara que ainda não se apropriou profundamente da contribuição
de Roth para o sistema de transplantes, mas comenta preliminarmente que a doação
cruzada é discutida desde a década de 1980 e utilizada desde os anos 1990 na
Coreia e em países europeus.
— É claro que pode beneficiar pacientes, mas há questões éticas e filosóficas
sensíveis que precisam ser levadas em conta — observa.
Como exemplos, o médico cita a possibilidade de um dos pares ter sucesso na
cirurgia e outro não, e o fato de todas as cirurgias terem de ser feitas ao
mesmo tempo, para evitar a desistência de algum dos envolvidos. Segundo Garcia,
já houve discussões internas no Conselho Federal de Medicina sobre a adoção do
sistema no Brasil e a decisão foi negativa.
Ao anunciar o prêmio, o Comitê Nobel anunciou que o reconhecimento coroa "os
esforços para encontrar soluções práticas para problemas do mundo real". Lloyd
Shapley, tem 89 anos, e é da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Alvin
Roth, 60 anos, é professor de Harvard.
Fonte Zero Hora
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