Teólogo e neurologista comentam relato, que foi destaque em revistas
internacionais nas últimas semanas
Com o respaldo científico do professor de Harvard que é, o neurocirurgião
Eben Alexander afirma que o Paraíso existe. A declaração, estampada na capa da
revista Newsweek de 7 de outubro, uma das principais revistas semanais dos
Estados Unidos, ganhou repercussão nos últimos dias.
Não se trata de uma descoberta científica, mas de uma experiência pessoal do
cientista. Alexander foi levado ao hospital em uma manhã de 2008 porque tinha
acordado com muita dor de cabeça. Foi diagnosticado com meningite bacteriana. A
bactéria estava instalada no cérebro e sua chance de sobrevida era quase zero.
Em coma e desenganado pelos médicos, ele acordou uma semana depois, totalmente
consciente — e convencido de que esteve no Paraíso.
A descrição até que remete a uma "viagem" alucinógena, mas vinda de um
especialista em cérebro, de reconhecida carreira acadêmica, ganha contornos
alucinantemente intrigantes. Será mesmo verdade que o Paraíso existe? E seria
possível experienciar o Paraíso?
O médico conta que estava em cima de nuvens rosadas que contrastavam com um
céu azul escuro por onde cruzavam seres transparentes. Não seriam nem anjos, nem
pássaros, mas uma "forma superior". Ele sentia como se estivesse naquele lugar
há muito tempo e não tinha nenhuma memória de sua vida terrena. Os sentidos se
confundiam, "como uma chuva que você sente mas não te molha", descreve o
cientista. Uma mulher de olhos azuis o acompanhava, calada, em cima de uma asa
de borboleta. Segundo ele, a tal mulher nem precisava falar: "Se ela te olhasse
daquele jeito por cinco segundos, sua vida inteira até aquele momento já teria
valido a pena".
A mulher de olhar arrebatador, que não era de amizade, nem de sedução, mas
algo inédito para olhos mundanos, disse que ele era muito amado e que iria lhe
mostrar muita coisa por lá, mas eventualmente ele poderia voltar. E ele voltou
para contar tudo em um livro que chega às livrarias norte-americanas em 23 de
outubro.
Experiência ou alucinação?
De acordo com o neurologista Roberto Rossatto, do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre, relatos como o do professor de Harvard são raros. A sensação de
vazio, de ausência de memória de atividades anteriores, é mais comum entre os
pacientes que voltam do coma.
O médico explica que a meningite bacteriana, causa do coma de Alexander,
afeta o córtex cerebral, que é responsável por funções como pensamento, visão e
movimento.
— Uma disfunção ocasionada pela doença pode fazer com que o cérebro produza
alucinações após o tratamento — esclarece Rossatto.
Do ponto de vista teológico, o Paraíso é uma dimensão supratemporal e
supraespacial, uma vida onde tempo e espaço não existem mais e não há memória da
vida na terra. Assim, seria impossível ir e voltar, afirma o padre, teólogo e
professor de Bioética da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), José
Roque Junges.
— Há relatos anteriores de que a pessoa vê uma luz, mas volta. No entanto,
ver de longe é totalmente diferente de experimentar. Não há como ter uma
experiência empírica do Paraíso, por isso sua existência não pode ser comprovada
por meio da ciência — comenta Jungues.
Para o padre, esse tipo de relato manifesta uma visão positiva da morte — uma
luz. Porém, o que há depois dela, é um mistério também para os que creem no
Paraíso.
— Se, por um lado, acreditamos que há outro tipo de vida após a morte, por
outro, não sabemos exatamente o que ela é — admite.
Fonte Zero Hora
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