Rio de Janeiro – Uma nova técnica que pode levar à produção de vacina contra
a aids, desenvolvida com a participação de cientistas do Instituto Oswaldo Cruz,
é destaque na edição deste domingo (30) da revista Nature, uma das mais
conceituadas publicações científicas do mundo. A descoberta leva a uma nova
abordagem no combate à doença, a partir do estudo de casos de pessoas que
contraíram o vírus HIV mas nunca adoeceram.
O foco do estudo, liderado pelo pesquisador David Watkins, é a célula T CD8,
um organismo conhecido como célula matadora, encarregada de eliminar do corpo
vírus e outros componentes invasores. Em algumas pessoas, a T CD8 tem a
capacidade de matar as células CD4 contaminadas pelo vírus HIV. O estudo inova
no combate à doença, porque até o momento a maior parte das pesquisas vem
centrando esforços em produzir vacinas com a utilização de anticorpos.
Watkins desenvolve suas pesquisas sobre aids na Universidade de Miami há 15
anos e atualmente trabalha em conjunto com os pesquisadores da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) Myrna Bonaldo, Ricardo Galler e Marlon Santana, além do
brasileiro Maurício Martins, que faz parte de sua equipe nos Estados Unidos.
“Descobrimos que um grupo de humanos, raros, está controlando a replicação do
vírus [HIV]. Estão infectados, mas não têm a doença. Isso acontece em uma de
cada 300 pessoas infectadas. Nós queremos entender como essas pessoas estão
controlando o vírus, porque, talvez, possamos desenvolver uma vacina”, explicou
Watkins. “Antes dessa descoberta, não havia certeza do que acontecia nos casos
humanos em que o vírus era controlado. Nossa pesquisa dá uma grande dica de que
são as T CD8 matadoras os responsáveis por isso”, completou.
O estudo do cientista, com o objetivo de uma vacina contra a aids, ganhou
força com um método patenteado pela Fiocruz em 2005, desenvolvido por Myrna
Bonaldo. A pesquisadora trabalha a engenharia de novas vacinas a partir da
utilização da vacina contra a febre amarela como uma plataforma na qual se
introduz modificações genéticas que poderão imunizar contra outras doenças.
A estratégia foi utilizada em dois grupos de macacos Rhesus: parte
deles recebeu compostos indutores de produção de células T CD8 protetoras e
outra parte não. Após, todos os macacos foram inoculados com o vírus SIV,
semelhante ao HIV. Os que receberam os indutores de produção da T CD8
apresentaram importante redução na replicação do vírus. Em relação ao grupo que
não recebeu o composto, chamado controle, a replicação viral foi reduzida em
mais de 50 vezes.
“Estamos tentando entender como essas células matadoras em particular são tão
eficientes para conter o vírus”, disse Watkins, que prefere não fazer uma
previsão sobre a fabricação de uma vacina baseada no processo: “Eu não quero dar
falsas esperanças. Há 30 anos, quando o vírus foi descoberto, chegaram a dizer
que haveria uma vacina em dois anos, o que não aconteceu. Nós temos muitas
pessoas trabalhando duro nessa pesquisa. Agora, infelizmente, ainda vai levar
muito tempo para desenvolver uma vacina. Este vírus [HIV] é muito difícil, muito
variável.”
Fonte Agência Brasil
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