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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Santa Marcelina melhora gestão para sair dos 50 anos no vermelho

Considerado o maior hospital da zona leste paulistana, a entidade acumula grandes números em sua trajetória. Filantrópico, direciona 87% da sua atuação ao SUS e lida com déficit de R$ 36 milhões
 
Neste ano, o Hospital Santa Marcelina, localizado na zona leste de São Paulo, completa 51 anos. Porém, mais significativo do que o tempo de sua existência são os números que a entidade vem alcançando durante sua trajetória.
 
A essência da instituição teve início em 1958, ano em que a Congregação Santa Marcelina adquiriu uma chácara em Itaquera para cuidar das irmãs idosas e doentes. No entanto, a vontade de zelar pelo próximo, ultrapassaria as barreiras do território e a chácara seria transformada em um grande hospital. E foi com essa inspiração que a madre superiora Sophia Marchetti, que no futuro se tornaria a primeira administradora da instituição, decidiu começar a atender à população.
 
Em 1961, a obra foi finalizada. Naquela época, o hospital tinha o objetivo de atender aos 60 mil habitantes da região. A operação tinha 150 leitos, um laboratório pequeno de análises clínicas, uma sala de parto, duas salas de cirurgias e duas salas de emergência. O corpo de colaboradores era composto por sete médicos, 30 funcionários e 20 irmãs, que realizavam a maioria dos trabalhos.
 
Ao longo do tempo, a região cresceu, e surgiu a necessidade de expandir o hospital, não apenas para suprir a demanda de moradores locais, mas também para servir de referência em atendimento para moradores de outras regiões.
 
“É o maior hospital da região leste paulistana”, afirma o administrador hospitalar da instituição, Fabrício Santana. E os números não mentem. O corpo clínico tem mais de 800 médicos entre contratados, residentes, internos e terceiros. São 4817 colaboradores, também incluindo os terceirizados, e o hospital possui 701 leitos sendo 77 direcionados à terapia intensiva. Com taxa de ocupação acima de 90%, o hospital realiza, anualmente, cerca de 30 mil internações e 17 mil procedimentos cirúrgicos. O Santa Marcelina é classificado como terciário e quaternário, por ser um centro universitário que atende demandas de alta complexidade.
 
Durante esses anos, a instituição passou por muitas mudanças estruturais, mas sua essência vem prevalecendo ao longo dos anos. “Desde a sua fundação, as irmãs pregam que no Santa Marcelina não cuidamos da doença e sim de pessoas. Não queremos ter uma equipe de médicos robotizados que não se envolvem”.
 
O cuidado dedicado às pessoas extrapolou as imediações do hospital e, hoje, além da sua estrutura convencional, o Santa Marcelina é composto por mais três OSS (Organização Social de Saúde): o Hospital Itaim Paulista, Hospital de Itaquaquecetuba e Hospital Cidade Tiradentes (veja mais informações na tabela).

Na atenção primária, a instituição é responsável pelo Programa Saúde da Família (PSF), implantado em 1996 por meio de uma parceria com a Secretaria Estadual de Saúde e, em 2001, com a Secretaria Municipal de Saúde.
 
Gigante pela própria natureza e, filantrópico, mantém 87% do seu atendimento dedicado ao SUS. O restante é direcionado à saúde suplementar, responsável por cobrir dos custos gerados pelo atendimento público.

“Às vezes temos de fazer milagres. Como somos uma instituição filantrópica, fica difícil gerenciar os números. Há um déficit de R$ 36 milhões por ano. Parte desse valor é coberto com o atendimento das operadoras. Para fechar a conta, recorremos aos empréstimos bancários, caso contrário a matriz não permanece”, afirma Santana.

Gestão em processos


O executivo sabe que não só de esperança se faz uma boa gestão. E, diante dos custos da instituição, é necessário padronizar a rotina. Por isso, o hospital está implantando, nos últimos três anos, um sistema de gestão por processos. Este projeto engloba, principalmente, os setores que precisam ser melhorados como: centro cirúrgico, pronto-socorro e maternidade. “Quem trabalha com SUS precisa ter processos. Se isso não ocorre, não há como sabermos o que vai acontecer no mês seguinte”.

 
Para isso, o Santa Marcelina está com uma nova cultura de comportamento, que visa fazer com que os gestores administrem melhor o que está a sua volta e não apenas apaguem incêndios. E, mesmo com as atividades estabelecidas recentemente, já apresentam alguns resultados.
 
Uma das ações de destaque diz respeito à segurança do paciente. Com a adoção do Protocolo de Manchester, o hospital administra melhor no fluxo pronto-socorro. Caso o paciente apresente fator de maior risco, o corpo clínico toma as devidas providências, direcionando-os para outro setor, onde pode receber os cuidados necessários.
 
A transmissão dos valores institucionais é trabalhada diariamente nas imediações do hospital. Mas não foi fácil colocá-la em prática. Isso porque dentro do Santa Marcelina predominava o pensamento de que cada gestor tinha responsabilidade apenas pelas questões relacionadas ao seu trabalho. “Devemos enxergar um hospital de forma sistêmica, os colaboradores precisam ter a consciência de que são parte de um todo”.
 
Essa política de unicidade foi implantada no departamento de compras. Ciente da relevância deste departamento e de seu potencial para geração de custos, o administrador decidiu integrar entre todo o complexo, incluindo todos os hospitais, rede de saúde e rede básica. Além disso, definir políticas de recursos humanos, qualidade, avaliação de desempenho e segurança da informação são itens que estão no radar do Hospital Santa Marcelina para esse ano.

Informatização


Para suprir as demandas tecnológicas de sua estrutura, o Santa Marcelina conta com todos os setores informatizados. Neste ano, a instituição passou a gerir os leitos com a ferramenta Kan Ban, que permite visualizar em um quadro, em tempo real, cada etapa do atendimento realizado, localizando os gargalos que explicam a razão pela qual muitos pacientes ficam no hospital além do tempo esperado.

No Kan Ban é utilizado um quadro que representa cada um dos pacientes. Eles são identificados com cores distintas, considerando o tempo de permanência e mostrando também o diagnóstico e procedimentos pendentes.
 
A solução foi implantada no hospital como uma das iniciativas do projeto SOS Emergência, ação do governo federal para qualificar o atendimento de urgência e emergência.
 
Santana conta que o Kan Ban contribui com a melhoria de processos, pois possibilita ter uma visão ampla dos procedimentos realizados e, caso seja necessário interferir em determinado momento, é possível mobilizar o corpo clínico e agir. Além disso, a instituição conta também com o sistema MV, que trabalha para tornar o processo clínico-assistencial e administrativo mais ágil.
 
O hospital tem a meta de fazer uma integração administrativa- financeira com os outros hospitais e na rede básica. O objetivo é que quando um paciente passar por um hospital, possa ser identificado em todo complexo. Para esse plano virar realidade, será necessária a participação do poder público e a criação de um prontuário eletrônico único. “Queremos minimizar custos e aperfeiçoar o atendimento. Não queremos nossos pacientes repetindo exames desnecessários”.

Parceiros assistenciais


Parceiros desde 2001, o Hospital Santa Marcelina e a TUCCA – Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer, inauguraram, no fim do ano passado, o Centro de Atenção Integral à Criança com Retinoblastoma.

Conhecido como o tipo de tumor ocular mais comum na infância, essa enfermidade pode levar o paciente à morte, conta Santana. Mas, se diagnosticado, precocemente, pode apresentar índices de cura de 90%. Para realizar o diagnóstico da doença foram adquiridos de dois equipamentos, o RetCam3 e o Ultrassom A/B Wavestar.
 
A instituição também está construindo uma Casa de Apoio à Criança com Câncer, destinada à acomodação de famílias e crianças que vem de fora do Estado. “Esse espaço vai ter estrutura de atendimento multiprofissional, para proporcionar conforto e bem-estar a esses indivíduos”.
 
Em consonância com seu propósito assistencial de ser referência em tratamento oncológico, o hospital ganhou um mamógrafo Alpha ST fabricado pela GE do Brasil, em parceria com a Américas Amigas, Associação da Sociedade Civil de Interesse Público, dedicado a promover ações que combatam a mortalidade ligada ao câncer de mama. Segundo Santana, a instituição atendia cerca de 500 mulheres por mês com apenas um mamógrafo.
 
“Temos um volume de atendimento absurdo, que ultrapassa 13 mil atendimentos/dia. Infelizmente há um desgaste natural dos equipamentos. Por mais que exista planejamento e se adquiram novas máquinas, muitas vezes nosso orçamento não permite que essa vontade seja concretizada”.
 
Orçamento
Vontade de fazer a diferença há, mas apenas ela não é suficiente para tirar uma instituição com mais de 50 anos do vermelho e a saída é a captação de recursos como nota fiscal paulista, parceria com pequenas empresas e campanhas. Mas para Santana, uma solução para esse gargalo seria a ampliação de formas de obtenção de capital.
 
“Acho que deveríamos ter leis de incentivo para a saúde, pois as atuais ainda são muito precárias. Uma saída para os problemas orçamentários seria a criação de uma Lei Rouanet para o setor”.
 
O administrador não acredita que essa questão caiba apenas às entidades governamentais. Para ele, a saúde é um patrimônio social e deve ser visto desta forma. Sendo assim, o financiamento de parte desta conta poderia vir de grandes empresas também.

Educação


Entre muitas metas estabelecidas pelas irmãs Marcelinas, o sonho de possuir uma escola para ensinar aos futuros médicos como atrelar profissionalismo e amor pelo paciente finalmente foi realizado. No último mês de julho, foi inaugurado o curso de medicina na Faculdade Santa Marcelina.

“Pelo fato de o hospital ser universitário, acreditamos que podemos fazer com que os profissionais tenham um diferencial qualitativo para atender à população”.
 
O objetivo do curso, segundo o executivo, é transmitir um bom conhecimento técnico e humanização na assistência. Na opinião dele, é preciso melhorar a capacitação dos médicos no Brasil. Ele é favorável à decisão do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) de instituir o exame obrigatório para os recém-formados. “É preciso melhorar a habilitação destes estudantes e fiscalizar, de forma mais atenciosa, os cursos disponíveis no mercado”.
 
Observando as dificuldades do sistema de saúde, o Hospital Santa Marcelina, em parceria com a faculdade, elaborou uma grade de ensino diferenciada em que os alunos serão inseridos no Programa Saúde da Família durante toda a sua formação.
 
Além disso, disciplinas que fazem parte da vida do médico, mas não são incluídas na formação clássica como gestão da saúde, introdução à pesquisa cientifica e medicina baseada em evidências farão parte da grade curricular.
 
Aspectos como humanização também serão contemplados, com a participação dos Doutores da Alegria. “Pretendemos mostrar uma atuação mais holística do médico com o paciente, principalmente na faixa etária pediátrica”, conta o coodenador do curso, Pedro Vital.
 
O curso conta com 50 vagas e alcançou nota máxima na avaliação do MEC. Os alunos poderão fazer estágio e residência dentro do próprio hospital.
 
Em mais de 50 anos de trabalho, as irmãs marcelinas deixaram sua marca no sistema de saúde de São Paulo, e mais específicamente, na zona leste. E ainda mostram fôlego para estender essa trajetória por muitos e muitos anos.
 
Fonte SaudeWeb

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