A agência europeia de medicamentos aprovou a primeira droga de terapia genética do mundo ocidental, de uma pequena companhia de biotecnologia. Este é um marco para as novas tecnologias médicas que corrigem genes defeituosos.
A autorização formal da Comissão Europeia abre caminho para o lançamento, no meio do ano que vem, do tratamento para uma doença genética ultrarrara que vai custar cerca de 1,2 milhão de euros (R$ 3,1 milhões) por paciente, um novo recorde de preço para a medicina moderna.
Depois de mais de 20 anos de experimentos e uma série de decepções, a aprovação da União Europeia para o Glybera, que trata a deficiência de lipoproteína lipase (LPLD, em inglês), é um incentivo significativo para o campo da terapia genética.
Joern Aldag, executivo-chefe da uniQure, baseada em Amsterdã, disse que mais tratamentos desse tipo devem surgir e argumentou que o preço alto é justificado porque a terapia genética restaura a função natural do corpo e não oferece somente uma solução de curto prazo.
"O tratamento traz mais benefícios ao paciente que a clássica estratégia de reposição de proteínas e por isso achamos que devemos ser adequadamente recompensados", declarou em entrevista por telefone na sexta-feira (2).
Pacientes com LPLD, que afeta somente uma ou duas pessoas a cada milhão, não conseguem processar as partículas de gordura no sangue e correm o risco de inflamações do pâncreas agudas e potencialmente fatais.
A aprovação segue a recomendação positiva da Agência Europeia de Medicamentos em julho.
A companhia privada está agora trabalhando com os governos em potenciais estratégias de preços, que provavelmente vão variar de país a país, antes da abertura comercial na segunda metade de 2013.
Aldag disse que alguns países preferiam a ideia de um pagamento único na hora do tratamento, mas outros estavam interessados em um sistema de anuidades, que provavelmente envolveria a cobrança de cerca de 250 mil euros por ano, por cinco anos.
Esses pagamentos anuais colocariam o Glybera em uma faixa de preços semelhante à de custosas terapias de reposição enzimática para outras doenças raras, como o Cerezyme, para doença de Gaucher, da unidade Genzyme da Sanofi.
A uniQure também está se preparando para pedir a aprovação regulatória do Glybera nos Estados Unidos, Canadá e outras regiões.
Retrocessos
A ideia de tratar doenças por meio da substituição de genes defeituosos por cópias funcionais ganhou força em 1990, com o sucesso dos primeiros testes clínicos de terapia genética do mundo, contra uma rara doença chamada Imunodeficiência Severa Combinada (SCID, em inglês).
Pessoas que têm SCID - também conhecida como "doença do menino da bolha" - não conseguem combater infecções e geralmente morrem na infância.
O campo então sofreu um sério retrocesso quando um adolescente do Arizona morreu em um experimento de terapia genética em 1999 e dois meninos franceses com SCID desenvolveram leucemia em 2002.
Na China, a empresa Shenzhen SiBiono GeneTech conseguiu a aprovação para uma medicação de terapia genética para câncer de cabeça e pescoço em 2003, mas nenhum produto foi aprovado até agora na Europa ou nos Estados Unidos.
Mais recentemente, algumas grandes companhias farmacêuticas também vêm explorando a terapia genética. A GlaxoSmithKline, por exemplo, assinou um contrato em 2010 com pesquisadores italianos para desenvolver um tratamento para a SCID.
Fonte Folhaonline
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