Apesar de ser muito invasiva, a cirurgia para implantação de pontes (como de safena e mamária) se mostrou mais eficiente do que a colocação de stent --uma espécie de mola que "abre" as artérias -- em diabéticos com problemas cardíacos severos.
A conclusão é de um estudo inédito realizado em conjunto por 140 instituições de todo o mundo. Com 200 participantes, o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP) foi o centro com mais representantes nos 1.900 pacientes do estudo.
O grupo foi acompanhado por cerca de cinco anos. Os primeiros dados, publicados hoje no "New England Journal of Medicine", mostram diferenças significativas.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress | ||
"É a primeira vez que um estudo de grandes propor- ções e envolvendo centros de pesquisa de ponta de todo o mundo compara diretamente os dois métodos em pacientes diabéticos", avalia Whady Hueb, coordenador do estudo no Incor e um dos autores do artigo.
No grupo que passou pela cirurgia, as mortes por problemas cardíacos foram bem menores do que os com stent: 11% contra 7%.
Os pacientes submetidos à cirurgia também tiveram menos infartos após o procedimento. Os diabéticos que colocaram stents ainda tiveram mais chances de voltar para a sala de operações para novos procedimentos.
É o caso de Josué Cardoso, 62,um dos participantes do estudo. Diabético e com hipertensão, em 2009 ele fez uma angioplastia com colocação de stents.
"Tinha ido à feira quando comecei a passar mal. O stent não evitou que a artéria entupisse. Acabei fazendo a cirurgia depois disso", explica.
O trabalho ainda não oferece uma explicação para a superioridade da cirurgia em pacientes diabéticos. Os voluntários ainda serão acompanhados por mais dois anos, e um outro artigo deve dar a conclusão sobre a diferença.
O resultado contraria uma tendência geral de preferência por procedimentos médicos menos invasivos.
As colocação de pontes é uma cirurgia de grandes proporções. Sob anestesia geral, o paciente tem seu tórax aberto e o osso que une as costelas, serrado. O médico constrói um caminho alternativo para restabelecer o fluxo de sangue para o coração usando uma veia retirada do corpo do próprio operado.
Já a angioplastia e colocação de stent são minimamente invasivos e em geral feitos sob anestesia local. Com um cateter, um minúsculo balão é levado até a artéria e, quando inflado, desobstrui o caminho para o fluxo do sangue. Uma pequena "mola" é então colocada no local para manter a artéria aberta.
"Isso não significa de jeito nenhum que a angioplastia com colocação de stent tem de ser descartada. É um procedimento seguro e eficiente. Na hora de decidir, o médico vai fazer uma avaliação específica para decidir o que é melhor em cada momento", explica Roberto Kalil, diretor da Divisão de Cardiologia Clínica do Incor.
Os resultados iniciais do trabalho devem desagradar a indústria farmacêutica. Parte dos recursos para o levantamento foi oferecida por empresas ligadas aos stents.
Exercício não basta
Um outro estudo, que analisou os efeitos dos exercícios físicos na redução de problemas cardíacos em diabéticos acima do peso, foi interrompido dois anos antes do previsto devido à falta de indícios de que as atividades físicas de fato tivessem efeito nesse sentido.
Depois de 11 anos acompanhando mais de 5.000 pessoas, os pesquisadores perceberam que não havia diferenças significativas nos problemas cardíacos entre os que foram submetidos a uma dieta balanceada acompanhada de exercícios físicos moderados e os voluntários que não seguiram esse modelo.
Apesar de não ter diminuído os problemas cardíacos, quem fez exercícios físicos teve outros benefícios, como perda de peso e menos uso de medicação.
Os pesquisadores agora estão investigando os dados para entender por que não houve melhora cardíaca.
Fonte Folhaonline
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