Consultores da PwC mostram quais são as ferramentas disponíveis para se inovar na Saúde como atitudes de quebra de barreira entre médico e paciente, maior participação de multiprofissionais, mHealth, entre outras
Onde está a inovação no campo da saúde? Uma resposta ligeira, sem reflexão muito profunda, naturalmente dirá algo como: drogas de menor efeito colateral, novos métodos terapêuticos, sistemas de diagnóstico jamais antes imaginados ou a mais espetacular tecnologia aplicada para as mais distintas necessidades. E dentro do consultório, na relação entre médico e paciente, quanto se tem inovado no Brasil ou mundo afora?
Um estudo divulgado recentemente por uma das mais importantes e renomadas clínicas do País revelou que, da porta para dentro, muito pouco mudou nos consultórios nos últimos 50 anos. Basicamente, alguns novos equipamentos surgiram para colaborar nos diagnósticos, as cadeiras são mais confortáveis e a decoração é propositadamente pensada para criar um ambiente mais doméstico e aconchegante.
Entretanto, entre médico e paciente continua a existir a mesa, uma barreira que separa dois mundos e compromete o relacionamento. Ao longo das últimas cinco décadas, agregou-se ainda a figura do computador, ao qual o profissional da saúde dedica uma parte da consulta para inserir dados, análises e hipóteses passíveis de investigação. E, claro, o equipamento cria mais uma barreira entre os dois interlocutores.
Com esse diagnóstico em mãos, a clínica que conduziu o estudo decidiu fazer algo diferente e optou por uma medida “radical”: posicionar a mesa que separava o médico do paciente ao lado deles, encostada na parede e com o computador sobre ela. Médico e paciente viram o muro cair: passaram a se olhar frente a frente, sem a barreira, e, com franqueza, puderam entrar na nova era do compartilhamento de informações e analisar, conjuntamente, o que o computador tinha a mostrar.
O resultado? Os médicos puderam apresentar aos pacientes filmes para demonstrar como uma cirurgia seria realizada, e as explicações sobre anatomia ficaram mais claras e foram mais bem compreendidas. Segundo o mesmo caso apresentado, a confiança dos pacientes em relação à condução do tratamento cresceu expressivamente, o que decorre, também, de uma responsabilidade partilhada entre os dois lados nas decisões sobre os rumos da terapia. Naturalmente, aumentou o grau de satisfação dos clientes.
Porém, ao mesmo tempo em que percebem que credibilidade e confiança são fatores de enorme peso na fidelização dos pacientes/clientes e que algum grau de transparência fortalece o relacionamento com eles, gestores da área também precisam estar muito atentos a como progredir na aplicação de propostas desse tipo. Principalmente, porque tais avanços não podem ser confundidos com uma transparência total das informações. Com maestria e cuidado, o médico terá de lançar alguns de seus apontamentos sem atrair a atenção do paciente, que, de outra forma – por exemplo, por ter lido as hipóteses levantadas pelo médico na ficha –, poderia ter dúvidas e ficar inseguro sem necessidade. Dedicar alguns minutos ao preenchimento das informações e análises após a saída do interlocutor da sala parece uma solução simples e eficaz.
“A cura pela rede”
Criar e instituir protocolos são tarefas importantes. Estimular mais diálogo entre médicos e pacientes também. E, nesse contexto, é fundamental compreender a nova era em que a saúde está inserida. Uma notícia publicada pela Folha de São Paulo, no Caderno Ciência da edição de 14 de outubro, dá uma ideia das mudanças em curso. Intitulada “A cura pela rede”, a reportagem narrava a história do artista e professor de design digital Salvatore Iaconesi, que sofre de câncer no cérebro. Aos 39 anos, esse italiano criou, em setembro, o blog “La Mia Cura Open Source”, no qual convida as pessoas a, entre outras atividades, “participarem da cura” dele.
Para tanto, publicou na internet todos os exames e dados clínicos que tinha em mãos. Segundo a reportagem, no mesmo dia em que o blog foi lançado, dois médicos escreveram e comentaram imagens de ressonância magnética e outros exames. Depois de um mês, foram mais de 60 manifestações de especialistas. Diante desse fenômeno, Iaconesi selecionou as informações e análises que julgou mais pertinentes e dialogou com os médicos responsáveis pelo tratamento. Segundo ele, percebendo a abordagem científica dada ao tema por meio do regime colaborativo, os médicos que o acompanham se mostraram interessados em analisar os dados e decidiram, por exemplo, reformular a alimentação no hospital. O tratamento prossegue.
Lógico que, para tudo, é preciso dosar o remédio: a diferença entre a cura e o veneno está na dose. O Dr. Google pode ser útil, mas também uma barreira quando mal utilizado. Hoje, sabemos que, em um contexto de grande prevalência de doenças crônicas, o segredo será levar o paciente a conhecer melhor sua doença e, principalmente, hábitos de vida saudáveis. E, o que é ainda mais relevante, sair de um estado de contemplação, como no caso do paciente que sabe ser importante parar de fumar, para a ação, fazendo-o realmente abandonar o cigarro. Essas atitudes inovadoras de quebra de barreira, aliadas à maior participação de uma equipe multiprofissional e de outras tantas tecnologias de mHealth, podem ser parte da solução.
Ainda que com medidas, à primeira vista, simples, como alterar a posição da mesa em um consultório, as inovações podem ser uma resposta firme, capaz de ampliar a credibilidade e proporcionar avanços na relação entre médico e paciente.
*Marcelo Orlando, sócio da PwC Brasil e líder para serviços no setor de Saúde, e Carlos Suslik, Diretor da PwC Brasil e especialista em consultoria em gestão no setor de Saúde
Fonte SaudeWeb
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