Doença é responsável por 5% de todos os quadros demenciais e pode ser curada
com cirurgia para drenar líquido do crânio
Quando o idoso começa a perder memória, é comum que a família fique em alerta
para a possibilidade de Alzheimer. O que geralmente não se considera é a
hipótese de os sintomas estarem ligados à hidrocefalia de pressão normal, doença
responsável por 5% dos quadros de demência.
A boa notícia é que, diferentemente do Alzheimer, responsável por metade dos
quadros demenciais, ou das demências vasculares, segunda maior causa do
problema, a hidrocefalia dispõe de tratamento cirúrgico capaz de reverter os
sintomas cognitivos e devolver ao paciente a capacidade de pensar e se
comunicar.
De acordo com o neurocirurgião Fernando Campos Gomes Pinto, chefe do Grupo de
Hidrodinâmica Cerebral do Hospital das Clínicas da USP, a doença, que atinge
principalmente idosos, também pode vir acompanhada de alterações na marcha e
incontinência urinária.
Os sintomas decorrem do acúmulo do líquido cefalorraquidiano, que banha o
crânio e a medula espinhal. O excesso desse líquido afeta áreas importantes do
cérebro, como lobos frontais, tálamos e gânglios da base.
“A pessoa tem uma vida normal e, aos poucos, começa a ter o quadro clínico
que apresenta os três pontos principais: dificuldade para andar, incontinência
urinária e perda da agilidade mental”, diz o neurocirurgião.
O diagnóstico é feito com tomografia de crânio e ressonância magnética.
Segundo o neurocirurgião, existem dois tratamentos cirúrgicos possíveis, que têm
o objetivo de drenar esse líquido excedente.
Antes da cirurgia, o paciente é submetido a um teste: sob anestesia local,
são retirados 40 ml de líquido da medula espinhal. O procedimento reverte
momentaneamente o excesso de líquido que banha o sistema nervoso. Caso os
sintomas melhorem nas horas seguintes, existe 90% de chance de a cirurgia ser
eficaz.
O bacharel em Direito Farid Abraão, de 73 anos, achava que fosse natural da
idade ter declínio no raciocínio e dificuldade para andar. Por insistência dos
filhos, marcou consulta com um neurologista. A hipótese de hidrocefalia só
apareceu no segundo profissional que consultou.
Constatado o problema, submeteu-se à cirurgia em junho. “Comecei a ficar
melhor imediatamente. Não tive mais problema de incontinência e minha marcha
melhorou sensivelmente. Minha memória está boa.”
No caso da professora universitária Ana Maria, que preferiu não divulgar o
sobrenome, a doença a manteve afastada do trabalho por um ano. Ela demorou
alguns meses até se decidir por fazer a cirurgia, em abril. “Foi a melhor coisa
que fiz. Continuo me recuperando. Se deixasse passar mais tempo, poderia ser
irrecuperável.”
Fonte Estadão
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