No geral, gestores do setor aprovam a iniciativa da ANS, mas alertam para alguns desafios como, por exemplo, mobilizar o corpo clínico a abraçar a causa
A apresentação de novas diretrizes na remuneração entre hospitais e operadoras de saúde proposto pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) repercutiu durante Simpósio Gestão Financeira e Custos Hospitalares, realizado no dia 30 de novembro, organizado pelo Instituto Mário Penna. A proposta promete revolucionar o mercado e a expectativa é que a agência lance o edital no início de 2013 para selecionar oito grupos de hospitais e operadoras, que devem iniciar a implantação do piloto ainda no próximo ano.
Além da questão dos custos, o grupo – *formado por entidades representativas de classe -discutiu sobre temas como tangibilização dos serviços, sustentabilidade, multiplicidade das formas de remuneração, engajamento dos médicos, ajuste de risco, livre concorrência, remuneração por desempenho, contratualização e padronização.
“Vamos lançar o edital para que os hospitais e operadoras tenham acesso ao conhecimento gerado pelo GT e façam os ajustes necessários para adaptar à realidade. Não temos uma proposta formatada, mas sim uma série de diretrizes definidas em conjunto depois de muita discussão. Esperamos fazer com que a relação entre prestadores de serviços e operadoras passe a ser mais proveitosa”, explica o gerente de relações com prestadores de serviço da ANS Carlos Figueiredo. Segundo ele, no cenário atual, os custos das transações são crescentes, há uma burocracia desnecessária, o que gera a necessidade de mudanças estruturais para que os propósitos de cuidado ao paciente e promoção da saúde sejam preservados.
Pacotes
Afonso José de Matos, presidente da Planisa e mediador do grupo de discussão, acredita que a maneira como hospitais e operadoras se relacionam se deve a uma falta de organização de informações, o que dificulta a remuneração pelos serviços prestados. O executivo informa que o trabalho liderado pela ANS propõe um “pacote” de 20 procedimentos padrões, para que todos os interessados tenham condições de prever os custos e serem remunerados adequadamente sem surpresas.
“Como atualmente não há uma formatação, o atendimento de cada paciente é baseado na avaliação do médico. O que fizemos foi identificar serviços que podem ser enquadrados em um padrão, para garantir a qualidade e facilitar o processo de remuneração”, detalha. Conforme ele explica, nesses “pacotes” estão inseridos os materiais que devem ser utilizados, procedimentos, profissionais de saúde envolvidos e estrutura de hotelaria, por exemplo.
Matos ressalta que em um primeiro momento, o principal benefício da implantação das diretrizes será a melhoria no atendimento a partir do estabelecimento de protocolos. Com maior gestão, a expectativa é que no médio e longo prazo seja possível estimar uma redução nos custos de operação, pois haverá maior previsibilidade sobre o que será necessário diante de determinados quadros de pacientes.
O também palestrante do evento e diretor corporativo de Práticas Assistenciais do Hospital São Camilo, Fábio Luís Peterlini, acredita que um dos principais desafios de se implantar essas diretrizes será mobilizar o corpo clínico a abraçar a causa. “Atualmente a maioria dos hospitais trabalha com um quadro aberto de médicos, o que implica em uma relação menos próxima entre os hospitais e profissionais. Para implantar uma mudança como esta será necessário ter uma gestão bem estruturada para gerar engajamento”.
Na opinião de Peterlini existem exemplos de hospitais que tiveram sucesso em implantar propostas parecidas com a proposta para o Brasil. É o caso dos Estados Unidos, que tem vários centros de saúde que adota o modelo hospitalista. Para que o conceito de gestão centralizada seja implantado com sucesso é importante contar com um diretor técnico respeitado, aliado a profissionais com conhecimento médico e de gestão.
“Para sensibilizar os médicos em questões ligadas à gestão é importante abastecê-los com informações sobre desempenho. Esses profissionais geralmente são bastante competitivos e querem dar o melhor de si para os pacientes. Mostrar como isso está sendo feito é bastante produtivo”, conclui.
Na avaliação do superintendente financeiro do Instituto Mário Penna (IMP), Antônio Carlos de Lemos Rezende Filho, ao propor esse trabalho a ANS está cumprindo o seu papel em promover a harmonia entre os players envolvidos na cadeia produtiva de saúde. “Muitas vezes os diferentes agentes não se encaram como parceiros, o que gera desconfiança e custos adicionais com auditorias”.
Na opinião dele, para corrigir a forma como as empresas do setor vinham se relacionando é importante promover uma discussão ampla e aberta. Desta forma, o IMP deve, a partir do primeiro trimestre de 2013, fazer parte de um grupo que irá debater sobre questões do setor voluntariamente.
*Participaram da discussão a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), o Conselho Nacional de Saúde (CNS), a Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), a União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas) e a Unimed do Brasil.
Fonte SaudeWeb
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