Médico explica que a medicação usada sem orientação apresenta risco muito alto,
podendo acarretar em graves efeitos colaterais
A automedicação de pacientes com dor crônica é uma prática que deve ser
evitada pelos riscos que acarreta, ressaltou em entrevista à Agência Brasil o
médico José Ribamar Moreno, especialista em dor e coordenador do Centro de
Tratamento Intensivo da Dor (CTIDor), no Rio de Janeiro. A dor crônica
prolonga-se no tempo. Se ela ultrapassa seis meses, o tratamento não deve ser
baseado somente em medicação, quanto mais aquela feita de forma aleatória.
O ideal, segundo Moreno, é que a medicação para esses pacientes seja usada
dentro de um tratamento mais completo.
— Porque as causas da dor crônica, em geral, são multifatoriais. Elas
envolvem aspectos da própria doença, como hérnia de disco, no caso de dor na
coluna, bem como aspectos da reabilitação, ligados à redução da qualidade de
vida provocada pela falta de exercícios e sobrepeso. Uma série de coisas que têm
de ser corrigidas — alerta.
Se a pessoa usar a medicação como única forma de tratamento, pode acabar
tendo efeitos colaterais. E o tratamento será ineficiente.
— A medicação usada sem orientação apresenta risco muito alto — completa.
No caso da dor de cabeça (cefaleia), Moreno disse que a automedicação pode
acabar piorando o quadro e transformar uma doença primária em cefaleia
relacionada aos medicamentos.
Segundo o especialista, anti-inflamatórios usados sem o controle adequado e
em doses incorretas podem provocar gastrite, sangramento digestivo, doenças no
intestino, insuficiência renal, principalmente em idosos. Alguns analgésicos
podem provocar hepatopatias, isto é, doenças no fígado. Os pacientes podem
apresentar tonteiras, desequilíbrio, náuseas, desidratação, relatou.
— A medicação, principalmente no tratamento da dor crônica, tem que ser feita
de forma bem orientada, por um profissional que acompanhe o paciente, se
responsabilize e possa tomar medidas contra os efeitos colaterais — ressalta o
médico.
O tratamento para a dor crônica é muito diferente do que se pratica na
medicina convencional, ou biomédica, para outros tipos de doença. No caso da dor
crônica, é necessário interferir em várias áreas ou dimensões do ser humano.
— Porque o grande problema da dor crônica é o impacto que ela tem na
qualidade de vida do paciente. Então, o que a gente faz é tratar o ser humano
por inteiro — explica.
Esse modelo de tratamento é chamado biopsicossocial, porque além de tratar o
corpo, a mente e o ambiente também são tratados. O tratamento de especialidade
não funciona para a dor crônica. Por isso, a maioria dos centros no mundo
inteiro faz o tratamento multidisciplinar. Ou seja, em uma única clínica o
paciente tem a abordagem para todos os problemas, de maneira planejada, de forma
a ter a otimização do tempo, redução de custo e maior resultado.
José Ribamar Moreno destacou ainda a importância da reabilitação de pacientes
com dor crônica, paralelamente ao tratamento com medicação, uma vez que parte da
dor decorre de uma deficiência que o paciente desenvolve. A transformação na
vida e no comportamento do paciente contribui para que ele restaure essa função
cerebral conhecida como neuro-modulação, que acaba ficando precária em função da
dor.
Uma vida mais ativa, somada à melhoria do sono, à redução do nível de
estresse, a uma dieta com proteção intestinal e a técnicas que melhorem a
qualidade do pensamento, são elementos que podem minimizar os efeitos da dor
crônica.
Fonte Agência Brasil
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