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quinta-feira, 14 de março de 2013

Cinco dramas da saúde brasileira marcam a história de Ray

Dramas da saúde marcam a vida de Ray
Edu Cesar/Fotoarena
Ele sobreviveu a problemas como baixo peso severo e morte da mãe no parto, casos que acontecem em todo País e precisam ser combatidos, segundo metas do Ministério da Saúde
 
O início
Os primeiros algarismos da trajetória estão na concepção do garoto. A cada 20 minutos, em média, uma menina com menos de 19 anos engravida no País. Em junho de 2004, Jéssica Ramirez, então com 17 de idade, entrou para estas estatísticas. Entre um jogo do São Paulo e outro, enquanto torcia pelo time junto com o primeiro namorado, ficou grávida e paralisou os planos de futuro. Precisou deixar “para depois” a escola e a conclusão do Ensino Médio – só uma das diversas sequelas da gestação precoce.
 
Não fazia parte dos sonhos da adolescente ter um filho tão cedo e, talvez por isso, a menina tenha falhado na hora de seguir um dos preceitos fundamentais da gestação segura.
 
“Minha filha estava perdida e, ao mesmo tempo feliz por aquela notícia inesperada. Descobriu a gravidez já com quase três meses e era tanta coisa para ajeitar, que ela acabou não fazendo pré-natal imediatamente. Eu também não insisti”, lembra, com tom arrependido, a avó de Ray, Noemi.
 
A palavra composta “pré-natal” é mantra disseminado aos quatro cantos. Os especialistas consideram uma fórmula simples e barata de proteger a saúde da mãe e do bebê. Fazer com que as gestantes passem por ao menos sete consultas durante a gravidez é uma das metas do Ministério da Saúde traçadas na Rede Cegonha.
 
Apesar das campanhas, o último relatório mostra que 1,8% das mulheres dão a luz sem ter visitado o médico sequer uma vez. Das que passam pelo atendimento, quase metade ainda chega às maternidades sem o ciclo completo de visitas ao obstetra. Não apenas resistência da mulher compõe este cenário, como a própria história de Jéssica mostra.
 
“Quando finalmente lembramos de procurar o médico, foi difícil marcar a consulta. Tentamos por dias”, rememora Noemi que só tinha – e ainda só tem – o Sistema Único de Saúde (SUS) como opção.
 
“Daí, ela começou com uma febre alta, de quase 40 graus, uma dor na barriga forte. Até que um dia desmaiou.”
 
Na primeira vez que visitou o médico, a grávida Jéssica chegou de ambulância e já em coma.
 
Carregava uma gestação de cinco meses incompletos na barriga. A infecção urinária havia evoluído de forma grave. Ray precisou ser retirado do ventre com apenas 28 centímetros e pesando 485 gramas.
 
Nasceu prematuro como 8% dos bebês brasileiros, o que já é uma condição que torna a criança mais vulnerável a infecções de toda sorte. A gravidade está medida em outra régua: dos 40 mil bebês que anualmente morrem sem completar uma semana de vida, 69% chegam ao mundo com menos de 2,5 quilos, pontuou o relatório Brasil Saúde 2010, feito pelo Ministério da Saúde.
 
Ray não tinha pulmão o suficiente nem para chorar. Nasceu em silêncio.
 
Tragédia evitável
No dia 25/11/2004, data de nascimento, o recém-nascido com baixo peso severo foi direto para a UTI neonatal do Hospital São Paulo. Jéssica, dois andares abaixo na mesma unidade hospitalar, dera a luz desacordada e permanecia em estado crítico. Noemi, em vigília ao lado do marido, passava o dia subindo e descendo escadas. Pelos degraus, levava as orações à única filha e ao primeiro neto.
 
“Ele sobreviveu, forte que sempre foi. Minha Jéssica....”, diz sem conseguir completar a frase.
 
No dia 23 de janeiro de 2005, a única filha de Noemi entrou para os números de mortalidade materna nacional. A atual taxa é de 68 óbitos em cada 100 mil mulheres. Para qualquer família, a morte de uma mãe sempre é uma tragédia. Mas o que torna mais dramático nos casos em que o parto e a gestação são as causas diretas da morte é que 90% deles seriam evitáveis, conforme expõe dossiê feito pela Fundação Oswaldo Cruz.
 
Vida que pulsa
O luto da família Ramirez foi vivenciado dentro do hospital. Ray permaneceu internado nove meses e, cada um grama que ganhava, trazia conforto para aqueles pais que experimentavam a sensação de ficar “órfãos” da filha ao mesmo tempo em que aprendiam a ser avós.
 
“Não deixei de ir ao hospital um único dia. Só me ausentei quando sepultei a Jéssica. Superei a morte dela orando pela sobrevivência dele”, diz a avó.
 
Ray surpreendeu os números da saúde que tanto compuseram sua trajetória. Os médicos diziam que ele tinha 95% de risco de morte. Ele fez parte dos 5% que ficam vivos. Os especialistas preparavam a família para a possibilidade de 70% de alguma sequela neurológica ou motora. Ele driblou esta estatística majoritária e está no grupo dos 30%.
 
Assim como todo prematuro, o tempo de desenvolvimento do menino foi diferente. O primeiro passo só deu aos dois anos e meio. A primeira palavra só veio aos quatro.
 
“De primeira, me chamou de avó. Pouco tempo depois, logo nas primeiras frases, perguntou porquê não tinha mãe. Eu expliquei. Ele entendeu. E me deu um abraço longo como resposta”, rememora.
 
Hoje com oito anos e 31 quilos, Ray frequenta o 3º ano do ensino fundamental e não resiste às tortilhas de batata preparada pela avó.
 
A iguaria é feita sempre que o garoto tira nota boa na escola (seu deslize é no comportamento, porque ficar quieto é missão quase impossível para ele).
 
Ray não fica em silêncio por mais de cinco segundos, toca violão e lê revistinha do Homem Aranha, tudo ao mesmo tempo.
 
"Se quisesse, fazia tudo isso cantando o hino do São Paulo", diz ele, provocando a reportagem.
 
“Meu menino tem uma vida que pulsa! Sobreviveu a tanta coisa que eu tenho certeza que o futuro dele será especial”, projeta a avó.
 
Ele também não duvida dos próximos passos, dizendo ter “habilidades secretas”. Ainda não sabe todos os algarismos e estatísticas de saúde que marcam seu histórico, mas traz outras informações sobre seus feitos.
 
“Ano passado, aprendi a andar de bicicleta sem rodinha e não cai nenhuma vez. Todos os meus amigos da rua já se machucaram. Eu, até agora, nada. Ufa”.
 
Super bicicleta
 
Fonte iG

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