Joshua Lott/The New York Times Roger Siegel, 84, que diz perceber problemas de memória não vistos por seu médico, em sua casa no Arizona (EUA) |
"Ele insistia que as coisas estavam mudando, mas teve resultados excelentes
em todos os exames", contou Rebecca Amariglio, neuropsicóloga do Hospital
Brigham and Women's, em Boston.
Cerca de sete anos mais tarde, porém, o homem começou a demonstrar sinais de
demência. Hoje, Amariglio pensa que ele tinha reconhecido uma modificação
cognitiva tão sutil "que ele foi o único a identificá-la".
Creighton Phelps, chefe interino do setor de demências do Instituto Nacional
do Envelhecimento dos EUA, disse que pacientes como esses eram descritos como
"os saudáveis preocupados".
"Não achávamos válido levar essas queixas em conta."
Hoje, contudo, os cientistas vêm descobrindo que algumas pessoas que
apresentam essas queixas podem, na realidade, estar detectando sinais precoces
de Alzheimer.
Estudos apresentados na quarta numa conferência da Associação do Alzheimer em
Boston mostraram que pessoas com alguns tipos de preocupação cognitiva têm mais
risco de apresentar a patologia de Alzheimer no cérebro e de ter demência.
As pesquisas apresentadas por Amariglio concluíram que pessoas com mais
preocupações com a memória e a habilidade de organização têm mais chance de ter
amiloide, proteína crucial ligada ao Alzheimer, no cérebro.
E, numa mudança importante que ganhou destaque na conferência, os
pesquisadores estão identificando uma nova categoria chamada "declínio cognitivo
subjetivo" --a percepção que a própria pessoa tem de que sua memória e suas
habilidades de pensamento estão piorando, antes mesmo de outros terem notado o
fato.
Nem tudo é demência
Especialistas enfatizam que muitas pessoas com essas queixas não apresentam
demência mais tarde. Certo grau de declínio da memória reflete apenas o processo
normal de envelhecimento e algumas preocupações refletem angústia psicológica.
Pessoas que esquecem o que foram buscar na cozinha ou os nomes de pessoas
pouco familiares provavelmente estão envelhecendo normalmente. Pessoas que
esquecem detalhes importantes de acontecimentos recentes, perdem-se em lugares
familiares ou perdem o fio da meada de programas de televisão podem não estar
seguindo um processo normal, especialmente se apresentam mais problemas que
outras pessoas de sua idade.
Ainda não está claro se a preocupação afeta as mudanças que as pessoas
percebem ou se o próprio fato de se preocuparem eleva o risco de demência no
futuro.
Pessoas que têm histórico de demência na família podem relatar problemas
simplesmente porque já estão familiarizadas com a doença e seu componente
genético.
Especialistas ainda não sugerem exames para verificar a presença de "declínio
cognitivo subjetivo", porque são necessárias mais pesquisas e não existe
tratamento eficaz contra a demência.
Richard Caselli, professor de neurologia na Clínica Mayo, disse que, quando
pacientes mencionam problemas cognitivos, ele não recomenda exames de imagem
para procurar Alzheimer. "Se fizéssemos uma tomografia e disséssemos
'descobrimos amiloide em seu cérebro', não haveria nada a fazer."
Contudo, os exames subjetivos podem ajudar a identificar pessoas com risco
maior de demência a determinar se poderão adiar ou prevenir o Alzheimer com
tratamentos como uma droga antiamiloide que será testada para prevenir a
demência em indivíduos cognitivamente normais com amiloide no cérebro.
Paciente de Caselli, Roger Siegel, 84, nota problemas há pelo menos cinco
anos e diz que hoje se recorda de 30% do que gostaria.
"Tomo banho e fico na dúvida se lavei aquela perna ou não." Com livros,
"esqueço quem é tal personagem".
Nem sua esposa nem o médico percebem essas dificuldades. "Sei que minha
cabeça está ficando fraca, mas, segundo ele, estou ótimo."
Caselli explicou que só recentemente houve um declínio nos exames de Siegel.
"É possível que se encontre num estágio inicial de uma síndrome degenerativa que
está progredindo lentamente."
Agora, os médicos buscam desenvolver exames cognitivos subjetivos
padronizados, para identificar pessoas com maior risco quando houver tratamentos
disponíveis.
Fonte Folhaonline
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