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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Criança com autismo é capaz de avaliar o que a torna feliz

Pesquisa utilizou questionário com suporte de imagens para que crianças com o problema pudessem respondê-lo

Uma das grandes dificuldades ao se avaliar a qualidade de vida de crianças é que a maioria dos questionários disponíveis são respondidos por pais, responsáveis ou profissionais. No caso da criança com autismo tal fato é ainda mais marcante, já que são poucas as pesquisas sobre o tema.

Pessoas com autismo apresentam déficits de interação social, linguagem e interesses restritos e estereotipados. Por isso, muitas vezes parece difícil conseguir informações mais precisas sobre o autista sem a intervenção de alguém que mantenha um contato mais direto. Contudo, um estudo realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP mostrou que é possível extrair da própria criança com autismo as respostas sobre sua qualidade de vida e o que a torna feliz.

A autora da pesquisa, a terapeuta ocupacional Marília Bernal, utilizou no estudo duas escalas, uma que avalia o comportamento adaptativo das crianças, em áreas de atividades de vida cotidiana, linguagem e socialização, e uma escala que se propõe a avaliar os traços autísticos por meio de pontuação de sintomas. Ao todo, 30 crianças entre quatro e 12 anos com autismo de "alto funcionamento" (com melhor linguagem verbal e adaptação ao meio em que vivem), de instituições especializadas no problema, foram submetidas a um questionário. As perguntas eram sobre atividades e situações cotidianas, com um suporte de imagens, que auxiliavam nas respostas das — algumas eram representadas por carinhas felizes e tristes.

Este mesmo questionário foi adaptado para a terceira pessoa, a fim de que os responsáveis e professores pudessem respondê-lo também. Nos resultados foram comparadas as três amostras.

Crianças mais felizes
Respostas diferentes foram constatadas apenas em quatro perguntas referentes aos itens: "sala de aula", "lição de casa", "quando pensa na mãe" e "quando brinca sozinho". Para os professores as crianças em sala de aula, fazendo a atividade de casa e pensando em suas mães, são mais felizes do que quando avaliadas pelos familiares. Já os familiares (quase todas mães) avaliariam as crianças mais felizes quando brincam sozinhas do que os seus professores.

A resposta dos três grupos ao questionário demonstrou que a qualidade de vida das crianças estudadas é satisfatória. No entanto, duas revelações chamaram a atenção: o questionário mostrou ser sensível para a análise da qualidade de vida de pessoas autistas mesmo quando respondido por adultos. Também demonstrou acessibilidade e facilidade para que o autista o compreenda e por si só e possa respondê-lo.

— O resultado do estudo foi muito importante porque demonstra a viabilidade de se encontrar meios ainda melhores que extrapolem a barreira comunicacional com o autista. Além de ser possível a valorização da resposta da própria criança com autismo — explica a responsável pelo levantamento.

A pesquisa também demonstra que há a necessidade de se validar métodos já pré-existentes ou de se buscar por novas formas de avaliar pessoas com autismo tendo por base respostas que venham delas.

Além disso, a pesquisadora ressalta que as constatações são importantes para a estruturação de serviços que atendam esta população.

Fonte Zero Hora

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