Filmes e programas de televisão com cenas coreografadas ajudam a estimular o gosto pela dança desde cedo
Em apenas um mês, Antonella, então com dois anos e um mês de idade, sofreu uma mudança radical. A garota que não ia à escola, quase não se comunicava verbalmente e pouco interagia perdeu a vergonha após quatro aulas de dança. Passou a falar feito tagarela, a socializar com todos ao redor e exibir um vocabulário maior. A transformação social e comportamental comemorada pela mãe, Carolina Seelig, 35 anos, é um dos benefícios que a atividade física ritmada pode trazer às crianças, quando estimuladas desde cedo.
A jovem dançarina, hoje com três anos, também melhorou a coordenação motora, o sentido rítmico, a noção de espaço, o conhecimento do corpo e o equilíbrio. E, desde então, não parou de se sacolejar.
— Se dependesse da Antonella, escolheria fazer aula todos os dias. Qualquer música que ela ouve ganha uma coreografia — conta a mãe.
Relatos como esse suscitam questionamentos entre as mães: existe uma idade correta para matricular os filhos em uma escola em dança? Quais cuidados é preciso ter para preservar o bem-estar dos pequenos?
Membro da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, o médico Benjamin Roitman afirma que não há uma idade ideal para o início da prática. No entanto, recomenda que ocorra a partir dos quatro ou cinco anos. Claro, sempre respeitando os interesses das crianças.
— Ela tem que ter um mínimo de coordenação para concatenar a música e os movimentos corporais. Mas o mais importante é que a criança seja feliz na aula, que sua manifestação seja espontânea e prazerosa — ressalta.
A coordenadora do curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Mônica Dantas, sugere que os pais procurem instituições que trabalham o corpo como um todo, com ritmos variados, sem especialização. A professora, que fez doutorado no Canadá sobre estudos e práticas artísticas, destaca que a atividade vai proporcionar, além dos benefícios físicos visíveis, uma mudança no cérebro da criança. A consequência, continua ela, é uma maior sociabilidade com os colegas e familiares e um estímulo da criatividade e da imaginação.
Com formação em Educação Física e especialização em dança, Angela Tonon Lourenço lembra que é preciso procurar profissionais que entendam a pedagogia das crianças, para não causarem nenhum trauma aos aprendizes. Os exercícios devem ser lúdicos e divertidos.
— As técnicas específicas devem ser trabalhadas de forma gradual. O balé, por exemplo, é bastante exigente. É preciso, acima de tudo, prestar atenção ao que a criança demonstra habilidade — explica.
Como incentivar
Um bom ponto de partida para estimular os filhos a dançar é apresentar programas de TV como Backyardigans e filmes como High School Musical e Camp Rock, que têm cenas coreografadas. Levar os pequenos ao teatro para assistir a espetáculos é uma alternativa (e também um bom programa de final de semana).
A arquiteta Letícia Matos Sá, 34 anos, estimulou desde o nascimento as filhas Laura, seis anos, e Lívia, quatro anos, a escutar não só músicas infantis, mas também as clássicas. Como resultado, a primogênita começou o balé aos três anos, enquanto a caçula passou a frequentar uma instituição de dança ainda mais cedo, aos dois anos de idade.
— A Lívia batia na porta da aula da irmã e chorava porque também queria ensaiar os passos. Quando começou, foi uma realização. No final daquele ano, participou da apresentação da escola, e eu fiquei impressionada com a determinação dela. Não deu nem tchau quando a deixei no palco — admira-se a mãe.
Desde que receberam o DVD do espetáculo, as irmãs não saíram de frente da TV, imitando as coreografias. Situação semelhante ocorre na casa de Antonella que, apesar de ter apenas três anos, já reproduz com fidelidade os passos das meninas de 12 anos.
Preste atenção
:: Os pais não devem sobrecarregar o filho. A criança pode enjoar da rotina intensa e desistir de praticá-la porque se especializou precocemente - algo comum quando o jovem apresenta aptidão. A dança ou o esporte devem configurar como um momento de diversão e descontração.
:: Também é importante que tenham cuidado em não projetar nos filhos sonhos não realizados. A mãe que gostaria de ser bailarina e não conseguiu é a situação mais comum. A psicóloga e psicoterapeuta Nadia Marques alerta que não necessariamente os anseios dos pais devem ser escondidos, mas confrontados com o dos filhos por meio do diálogo.
:: Os pais não devem evitar sonhar com o futuro dos filhos porque, para eles, é muito importante saber o que o pai e a mãe desejam. Mas esse desejo não pode ser imposto. Não é uma questão de disputa de poder, mas uma possibilidade de conversa até que se chegue a um consenso - esclarece Nadia, coordenadora do serviço de atendimento e pesquisa em psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Fonte Zero Hora
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