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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Parto humanizado ou cesárea?

À medida que cresce o número de cesáreas realizadas no Brasil, cresce também o movimento pelo parto humanizado. Você sabe a diferença?

Você já leu aqui que o parto cesárea, ou cesariana, é uma importante conquista da medicina moderna. Graças a este tipo de cirurgia, milhares de mulheres que se encontraram em uma situação de gravidez de risco puderam realizar o sonho de serem mães.

A polêmica que envolve a cesárea acontece quando ela é indicada com hora marcada. Estima-se que de cada 10 cesáreas realizadas, nove são com hora marcada. “Este tipo de cirurgia só deve acontecer quando há riscos para a mãe ou para o bebê, mas muitas cesáreas eletivas são feitas hoje sem necessidade”, explica o ginecologista e obstetra Eduardo Souza, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP).

Por ser um procedimento cirurgíco, a cesárea coloca mulher e bebê em risco – os mesmos riscos de qualquer cirurgia – mas, neste caso, quando a escolha é feita por uma comodidade, por exemplo, o risco é considerado desnecessário. “A situação pode se agravar mais se houver um erro na idade gestacional, fazendo com que o bebê nasça prematuramente. Quando a criança nasce antes de pelo menos 39 semanas gestacionais, há um risco maior para complicações, entre elas problemas respiratórios e hipoglicemia”, completa o obstetra.

O pós-parto também oferece uma série de consequências para a saúde das mulheres e, mesmo assim, a cesárea é o tipo de parto mais realizado no Brasil – 80%, um número bem maior do que os 15% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O parto humanizado
Uma corrente que cresce em oposição ao número elevado de cesáreas é a do parto humanizado ou natural. A principal diferença deste parto para a cesariana é que o momento do nascimento é respeitado. “Sem dúvida, o bebê que passa pelo parto vaginal, passa por contrações, nasce mais dinâmico, com uma expansão pulmonar melhor do que o bebê que nasce de cesárea com data marcada, por exemplo”, explica o ginecologista Antônio Júlio, especialista em obstetrícia com enfoque em parto natural, do Hospital Santa Catarina.

De acordo com o obstetra, respeitar o processo fisiológico natural não é só importante para o bebê, mas também para o psicológico dos pais. “Em bebês que nascem de cesárea marcada, ocorrem cerca de 60% a 70% mais icterícia [amarelado causado por excesso de bulirrubina no sangue] do que em bebês de parto normal. Por mais que não seja grave, o bebê fica mais um dia no hospital para tomar banho de luz. Para a mãe, sair do hospital com o bebê no colo é uma coisa, voltar no outro dia para pegar o bebê, é outra. É uma situação frustrante.”

Escolha inicia no pré-natal
Segundo Júlio, o parto humanizado começa na escolha de quem irá realizar o parto. Se a opção for por um obstetra, ele explica que, para realizar este tipo de parto, o médico precisa rever tudo o que aprendeu e reaprender a fazer. “Parece simples, mas cada parto tem uma maneira de se desenrolar. O obstetra que deixa de fazer parto normal desaprende. É preciso ter vivência”.

A rotina de exames e ultrassonografias é a mesma. A diferença neste período é a relação que se estabelece entre a paciente e o obstetra. “O perfil da mulher que procura o parto humanizado é uma mulher com muita informação, mas também com muitas dúvidas e às vezes desconfiada. Neste sentido, há uma maior solicitação por informação”, explica. “Respeitar a paciente é um dos requisitos básicos e é preciso estar sempre disposto a discutir todas as dúvidas e questionamentos”.

Durante a gestação a mãe é encorajada a praticar atividades físicas, principalmente exercícios que fortaleçam a musculatura do assoalho pélvico, como a ioga, o que facilitará o parto natural.

Em casa ou no hospital?
Como o princípio da humanização do parto é respeitar as vontadades e desejos da gestantes e realizar um parto o mais natural possível, muitas optam pelo parto domiciliar. Mas como esta pode não ser uma opção acessível à todas as mulheres, o Ministério da Saúde criou em 1999 os Centros de Parto Normal, ou Casas de Parto, como são chamadas, para promover o parto natural.

Carolina Robortella Valente é jornalista e mãe. Apesar de ter optado por uma Casa de Parto, sua filha Elis não quis esperar e nasceu em um parto domiciliar não planejado, mas que deu certo. Ela contou com a ajuda de uma doula (pessoa que auxilia) e uma obstetriz. No blog “Me pari”, ela faz o relato deste momento.

Entre as razões que a fizeram optar por este tipo de parto, ela diz que em casa a mulher se sente mais à vontade para ouvir seus instintos. “Porque não ficarei sendo examinada de meia em meia hora, vivendo assim intervenções que podem desacelerar o trabalho de parto (TP). Porque poderei estar acompanhada o tempo que eu quiser da minha doula, do meu marido. Porque poderei comer quando eu tiver vontade. Na minha casa, tenho certeza de que eu mando no meu parto, o parto é meu e não do médico. E se precisar, terei um “plano B”, como um hospital que eu ja tenha pesquisado sobre”, diz.

O obstetra Antônio Júlio diz que, apesar de o parto que ele realiza ser feito em ambiente hospitalar, ele tenta reproduzir o domiciliar. “Chega até a haver uma confusão nesse sentido. Com toda a evolução tecnológica e na medicina, parece ser uma coisa retrógrada esta opção. Porém, estamos falando de um parto que tenta reproduzir o feito em casa, só que com a retaguarda de um hospital”, explica.

E, assim como no parto domiciliar, a orientação é que seja feito o mais natural possível, com o mínimo de – ou sem – medicação. As dores são controladas naturalmente, seja mudando a posição, utilizando água morna, corrente ou massagens nos lugares que incomodam mais. Porém, por se tratar de um hospital, é possível – caso a gestante peça – optar pela anestesia. “Dor é algo muito pessoal e só quem sente pode dizer se é suportável ou não. A mãe que opta pelo parto humanizado pode, sim, eventualmente, tomar anestesia”, diz.

Algo que assusta as mulheres com relação ao parto natural é o tempo de duração. Mas Júlio afirma que não há nada o que temer. “Não existe essa coisa de parto que durou um dia ou dois. Um parto não demora mais do que oito ou 12 horas, em casos muito especiais 16 horas. E em grande parte desse tempo, principalmente no início, a enfermeira obstetra tem todas as condições de auxiliar a mãe. Destas horas, o médico, na verdade, participa de duas ou três”, diz.

Carol se preparava para ficar até 12 horas em TP, mas foram apenas três. E, assim que Elis nasceu, conta, as dores cessaram. “A bolsa estourou e ela saiu de uma vez. Em uma contração só. Eu já não sentia mais nenhuma dor. Assim que a bebê saiu, minhas dores todas se foram”, diz no relato.

Mitos da cesárea
O curioso na descrição de Carol é que ela tem 12 cm de cicatriz vertical na barriga, resultado de uma operação de redução do estômado pelo método Bypass. “Pesava 132kg e emagreci, no total, 45 kg. Haviam me falado, assim que fiquei gravida, que operados não podiam fazer parto normal porque poderiam entrar em coma”.

Este é o tipo de informação que leva milhares de mulheres aos hospitais para uma cesárea e ser enganada para a realização de uma cesárea é considerado violência obstétrica. Carol, que hoje está em formação para se tornar uma doula, diz que entre as “desinformações” mais comuns são dizer que o bebê tem a circular de cordão, que a mulher é “pequena demais para a passagem do bebê”, que “não tem dilatação” ou “pouco líquido amniótico”.

A melhor posição
Seja em casa, nas casas de parto ou no hospital, existem diferentes posições que facilitam a hora do parto. “O que irá definir qual será a ideal é o conforto da mulher no momento em que ela estiver em trabalho de parto”, explica o obstetra Júlio. São pelo menos seis posições diferentes: ginecológica, sentada, de cócoras, de joelho ou de quatro, de lado e o parto na água.

Sobre o parto realizado na água, o obstetra alerta para que, se realizado no ambinte hospitalar, a mãe atente para as condições do local. “Em alguns locais as banheiras oferecidas geralmente tem espaço exíguo que não permitem uma boa mobilidade da gestante e nem do obstetra”, explica.

Nem todo parto normal é humanizado: principais diferenças entre o parto clássico e o natural

Relação paciente e obstetra: no parto clássico, o obstetra é quem define como será o parto. No natural, o obstetra respeita as vontades da paciente e suas individualidades.

Presença do pai ou de terceiros: historicamente, a presença do pai foi sendo retirada da sala de parto. No parto humanizado há um incentivo para que a futura mamãe esteja acompanhada de alguém que lhe dê apoio afetivo e emocional, seja o pai ou outra pessoa, para dar conforto e segurança.

Jejum: habitualmente a grávida é indicada a ficar em jejum antes do parto. Esta indicação é feita principalmente pelo anestesista. No entanto, no caso de um parto natural que pode demorar de oito a 12 horas, é necessário que a mãe tenha energia, já que precisará colaborar e fazer força. Nesse sentido, a mãe que vai passar por um parto natural é incentivada a se alimentar.

Hora do parto: “Na faculdade, aprendemos assim: a mãe chega ao hospital com quatro dedos de dilatação, você coloca essa mãe em um soro que vai aumentar as contrações, rompe a bolsa assim que tiver as condições necessárias e faz o parto o mais rápido possível. No natural, nós esperamos o parto acontecer no seu devido momento. Para que a pressa?”, explica Antonio Júlio.

Episiotomia: a episiotomia é uma incisão feita na região do períneo (área muscular entre a vagina e o ânus) para ampliar o canal de parto e prevenir que ocorra um rasgamento irregular durante a passagem do bebê. Segundo Júlio, esta incisão era feita em 100% das vezes quando ocorria um parto normal. No entanto, nem sempre é necessária. “Quando o bebê está para nascer, ele não sai de uma vez. Ele vem e volta e, às vezes, isso é suficiente para lacear o períneo e a criança pode, sim, sair sem romper a musculatura”, diz.

Fonte O que eu tenho

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