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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Indústria recruta obesos para produzir remédios mais eficazes

Novas vacinas, comprimidos e antibióticos precisam sertestados em humanos com excesso de peso antes de chegarem ao mercado

Os manequins já estão mais largos para vestir os 48% da população brasileira com excesso de peso. Uma dúvida agora acompanha a comunidade científica: será que os remédios podem continuar sendo produzidos em “tamanho único”?

Os especialistas já sabem que a obesidade é gatilho de uma lista extensa de doenças crônicas (como câncer, diabetes e hipertensão), além de agravar problemas infectocontagiosos – gripe, tuberculose e pneumonia são exemplos.

Agora, o foco é descobrir o quanto esta condição compromete a ação dos comprimidos, injeções, xaropes e pomadas e, assim, produzir medicamentos mais eficazes e seguros para quem está com o IMC acima de 30.

“A dosagem padrão pode não surtir efeito em quem tem tecido de gordura a mais no corpo. Mas, ao mesmo tempo, aumentar a quantidade da medicação pode ampliar o efeito tóxico, um veneno para o paciente”, explica o fundador da Associação Panamericana de Infectologia, Raúl Istúriz, ao citar as cautelas presentes hoje nas pesquisas sobre novas opções de antibióticos.

O dilema aparece não só nos antibióticos. Está em outras classes terapêuticas, como ansiolíticos e antiinflamatórios, afirma Ogari Pacheco, presidente do laboratório brasileiro Cristália, parceiro do governo federal para a produção de novas drogas.

“Só para citar mais um exemplo temos o caso das anestesias. A gordura em excesso funciona como uma espécie de esponja e compromete a dispersão do anestésico no organismo. É um perigo pra realizar cirurgias”, alerta Pacheco.

“Tudo isso precisa ser levado em conta na produção de todos os tipos de medicações.”

A indústria e os centros universitários produtores de novos medicamentos já sabem que quando suas invenções chegarem ao mercado vão encontrar, do outro lado da prateleira, um grupo cada vez maior de consumidores com excesso de peso. A solução para sanar os desafios na produção foi aumentar a participação dos pacientes obesos nos ensaios clínicos (necessários para a produção de novas drogas). Até as crianças gordinhas foram recrutadas.

Alvo infantil
Isso porque, no público infantil, o aumento do peso em desacordo com a altura também é crescente. O fenômeno aproxima doenças que, por vezes, precisam serem controladas com medicamentos. Um problema adicional é que a maioria dos remédios disponíveis hoje foi testada em adultos no passado e pode não funcionar para crianças obesas e hipertensas.

Os primeiros dados do levantamento feito pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo evidenciam esta realidade. Foram avaliados 4.699 estudantes entre 7 e 18 anos. Dos participantes, 15,7% estavam com sobrepeso e 16% obesos. Mais da metade deste grupo tinha pressão arterial acima do normal e o mau colesterol estava alto, em 14,7%.

“Neste contexto, a tendência é que as crianças obesas e não obesas participem mais e mais dos protocolos de ensaios clínicos. Isto está acontecendo no mundo todo” informa o diretor do Instituto de Atenção Pediátrica da Costa Rica, Adriano Arguedas, que é consultor de farmacêuticas na América Latina.

Dupla ação no câncer
Outra tendência, em especial na área farmacológica do câncer, é tentar encontrar terapêuticas com duplo mecanismo de ação: seguras e eficazes para os obesos e que também auxiliem os pacientes a reduzir medidas com o tratamento.

“O obeso tem deficiência na produção da insulina (hormônio ligado à absorção do açúcar). A dificuldade promove o crescimento de uma molécula que é replicadora das células cancerosas”, explica o oncologista Fernando Maluf, diretor do Centro de Oncologia do Hospital São José e diretor do Onco-vida.

Segundo ele, por este motivo, muitas fórmulas estão sendo idealizadas, e testadas, para atacar os tumores malignos e simultaneamente auxiliar o paciente a brigar contra a obesidade.

Este empenho por parte dos produtores foi evidente no último congresso mundial de câncer (ASCO, sigla em inglês), realizado no mês passado, informou Maluf. Nele, foi apresentada uma nova quimioterapia para tratar câncer no endométrio que tem esta dupla ação para combater a obesidade (os dados ainda são preliminares) – previamente testada em um grupo de cerca de 900 doentes, quase todos com o IMC elevado.

Ainda no ASCO, foi apresentado um novo medicamento para tratar o câncer de mama, que mira as células cancerosas como um GPS. Carlos Barrios, oncologista do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, e um dos coordenadores das pesquisas sobre esta nova droga, confirma a tendência do aumento dos testes em obesos.

“Nosso próximo passo é avaliar se os mesmos resultados promissores que já identificamos serão repetidos nas pacientes com excesso de peso, diabéticas e hipertensas.”

Mesma dose
Outra área empenhada em responder esta questão foi a das vacinas. É mais recente a cultura de vacinar adultos e produzir doses voltadas aos maiores de 60 anos. Os estudos científicos para a aprovação dos imunizantes acabaram encontrando uma gama expressiva de obesos como público-alvo de seus produtos.

Mas, segundo informaram os produtores das vacinas mais recentes que chegaram ao mercado –gripe, pneumonia e HPV – não foi constatada a necessidade, informaram as fabricantes, da alteração das doses para os com excesso de peso.

Fonte iG

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