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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Estudo aponta ligação entre hipotireoidismo e poluição ambiental

Depois de constatar maior incidência em área industrial, médica tenta identificar qual agente químico desencadeia o problema

O aparecimento de casos atípicos de tireoidite crônica autoimune no consultório da endocrinologista Maria Angela Zaccarelli-Marino, em Santo André, fez a especialista desconfiar que a incidência da doença era mais alta na região próxima ao Polo Petroquímico de Capuava. Depois de 15 anos investigando o tema, a professora da Faculdade de Medicina do ABC concluiu que moradores da área tinham incidência cinco vezes maior da doença.

O complexo, que fica na divisa entre Santo André, Mauá e São Paulo, reúne 14 indústrias que fabricam subprodutos de petróleo. De 1989 a 2004, a pesquisadora selecionou 6.306 pacientes que buscaram avaliação endocrinológica em seu consultório. Ela os dividiu em dois grupos conforme a região de residência.

O primeiro, com 3.356 pacientes, era proveniente dos arredores do Polo Petroquímico. Já o segundo, de 2.950 pacientes, vinha de outra área industrial distante 8,5 km da primeira região, porém sem a presença de petroquímicas. Ao fim do estudo, 905 pacientes do primeiro grupo (ou 26,9%) foram diagnosticados com a doença. Já no segundo grupo, 173 (ou 5,1%) tiveram o diagnóstico. A tireoidite crônica autoimune é a principal causa de hipotireoidismo.

Os resultados foram publicados em maio na revista científica Journal of Clinical Immunology. Ao longo do estudo, a pesquisadora fez notificações sobre a situação às secretarias municipais de saúde e ao Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) da Secretaria Estadual da Saúde.

A pedido do promotor de meio ambiente de Santo André José Luiz Saikali, o CVE fez um estudo próprio para verificar o problema. O órgão analisou 1.533 voluntários das duas regiões. Enquanto 9,3% do primeiro grupo tinha tireoidite, apenas 3,9% do segundo grupo apresentava o problema. Os dados foram publicados em 2009 na revista Environmental Research.

Além dos exames que já estavam presentes no estudo de Maria Angela, o CVE fez testes para dosar o iodo nesses voluntários. Havia uma dúvida de que o aumento de casos da doença pudesse estar ligado a um consumo maior de iodo.

— O CVE constatou que não era o iodo. Isso me deu uma certa tranquilidade, pois o estudo foi muito contestado. Ninguém havia falado antes em tireoidite crônica autoimune provocada pelo ambiente. Sugiro uma nova denominação: tireoidite química autoimune — diz Maria Angela, que agora está iniciando um trabalho para identificar quais seriam os agentes químicos que desencadeariam a doença.

Para o imunologista Eduardo Finger, que tem pós-doutorado na área pela Escola de Medicina de Harvard e é chefe do departamento de pesquisa do SalomãoZoppi Diagnósticos, ainda é preciso determinar o que provoca a doença.

— É preciso encontrar o poluente químico que tenha relação comprovada com a doença — afirma.

Tireoidite crônica autoimune
A tireoidite crônica autoimune só começa a dar sintomas quando se instala o hipotireoidismo. Os primeiros sinais são sonolência, queda de cabelo, pele seca, batimentos cardíacos mais lentos. Crianças podem parar de crescer e até desenvolver retardo mental. O tratamento, porém, é simples e envolve a reposição diária do hormônio tiroidiano.

No caso da profissional de informática Noemi Lucena Silva, de 21 anos, a doença foi descoberta aos nove anos. Ela mora ao lado da uma das indústrias petroquímicas e conta que a família ficou surpresa ao descobrir que a poluição pode ter relação com a doença. Recentemente, a mãe de Noemi também foi diagnosticada com problemas na tireoide.

Fonte Zero Hora

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