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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Hospital Dia: uma alternativa sustentável

Por Newton Quadros*

Especialista conta a história do modelo, aborda aspectos como cirurgia ambulatorial, compara o que está sendo feito aqui com experiências de sucesso fora, como, por exemplo, na Espanha

O modelo de hospital dia pode ser muito útil aos sistemas público e privado de saúde do Brasil. Entender a sua origem, desenvolvimento e perceber as suas características técnicas e funcionais é um dos objetivos deste artigo. Outro aspecto muito importante é compreender que, com o desenvolvimento das técnicas e tecnologias cirúrgicas, bem como os avanços nas medicações e técnicas anestésicas permitiram que, obedecendo os critérios de elegibilidade, um hospital dia possa ser um local ideal para a realização de procedimentos de media complexidade.

A realização de procedimentos cirúrgicos de médio e pequeno porte pelo sistema ambulatorial, com curto período de internação dos pacientes, não é uma conduta recente ou inovadora. Este tipo de atendimento ao paciente cirúrgico é descrito desde a Antigüidade. Há registros de que, desde 1920, o Royal Glasgow Hospital for Children, na Grã-Bretanha, já realizava operações ambulatoriais em crianças com bons resultados.

O maior estímulo para o progresso da grande cirurgia ambulatorial ocorreu na década de 1970, com a instalação do Surgical Center, em Phoenix, EUA, como uma unidade independente administrada pelos anestesiologistas Wallace Reed e John Ford, que mostrou resultados interessantes e despertou o interesse de entidades hospitalares neste tipo de atenção ao paciente cirúrgico.

O desenvolvimento da cirurgia ambulatorial está apoiado em razões médicas, psicológicas e econômicas. A resposta hospitalar tem sido positiva com a criação de unidades específicas, com centro cirúrgico isolado, circulação independente, separada funcional e administrativamente do corpo hospitalar. Evita-se a espera e a burocracia das internações, a disputa para a utilização de leitos hospitalares nos primeiros horários do dia e agrega-se a vantagem de menor trauma emocional, reduzido risco de infecção e menores custos dos procedimentos.

Em 2012, nos Estados Unidos da America do Norte o conceito de Ambulatory Surgery Center – ASC está em franca expansão. Calcula-se que existam cerca de 5 mil unidades em todo o pais.

No Reino Unido o “Nacional Health Service” (NHS) dispõe de um guia para hospitais dia, tanto relativo aos aspectos estruturais e às instalações, como em relação aos processos e procedimentos. A “Health Building Note 52”: “Accomodation for day care”, é aplicável tanto para novas instalações, como para as adaptações e ampliações das unidades já existentes e aqueles ligadas a hospitais Gerais. Esta normatização estabelece critérios em relação ao prometo arquitetônico e funcionamento geral, circulação de pacientes, equipamentos, espaços físicos, instalações e engenharia. Alem disso, também define as especialidades e procedimentos que podem se beneficiar do modelo de hospital dia.

No Canadá o Ministério de Saúde revisou em 1984 as diretrizes que definem o modelo público de hospital dia. Essas diretrizes tratam de aspectos relativos a carga de trabalho, recomendações sobre distribuição e gestão de pacientes, recursos humanos, programas funcionais, equipamentos e os demais serviços inseridos no contexto. Também dispõe de uma relação de procedimentos de diagnóstico e terapêutico que podem ser realizados neste tipo de unidade hospitalar.

No Brasil estamos ainda dando os primeiros passos, porém com uma perspectiva muito favorável para o crescimento da oferta deste modelo de unidade hospitalar. Duas unidades se destacam no cenário nacional pelo pioneirismo. A primeira é o Hospital Dia do Grupo PROMEDICA, considerado uma das primeiras unidades de hospital dia no Brasil e o Itaigara Memorial Hospital DIa, que inovou com uma estrutura planejada para ser um hospital dia de referência mundial.

A experiência norte americanca
O relatório Ambulatory Surgery Centers – A Positive Trend in Health Care de autoria da The ASC Association descreve de forma muito positiva o crescimento deste modelo hospital nos Estados Unidos.

“As our nation struggles with how to improve a troubled health care system, the experience of ASCs is a rare example of a successful transformation in health care delivery.”

Na experiência norte americana os médicos passaram a investir nas estruturas de ASCs, em decorrência de problemas com agendas cirúrgicas concorridas, atrasos nas cirurgias e limitação de orçamento para investimentos em equipamentos dos hospitais gerais. A segmentação entre inpatient e outpatient ficou cada vez mais clara e algumas entidades representativas dos Ambulatory Surgery Centers foram fundadas para a defesa dos interesses dessas empresas.

“Thirty years ago, virtually all surgery was performed in hospitals. Waits of weeks or months for an appointment were not uncommon, and patients typically spent several days in the hospital and several weeks out of work in recovery. In many countries, surgery is still like this today, but not in the United States.”

A realidade norte americana acima destacada não parece ter mudado tanto em outras partes do mundo. No Brasil, por exemplo, ainda temos hospitais super lotados com pacientes que poderiam ser tratados em estruturas mais simples e com menores custos. No entanto, e mais grave ainda, podemos verificar que os novos investimentos, especialmente de origem pública ainda adota o modelo de hospital convencional, com alto custo de implantação e operação.

Outro fator importante na realidade norte americana e que não difere da realidade brasileira refere-se a população de terceira idade, que cada vez mais, em maior numero, necessitará realizar procedimentos cirúrgicos em percentual crescente e para atender esta demanda os sistemas de saúde precisam se preparar desde já. Neste contexto as estruturas de hospitais dia podem desempenhar um papel importante no planejamento dos meios para atender a esta demanda. A previsão é de que as pessoas inseridas no segmento de terceira idade terão uma demanda cirúrgica, que crescerá cerca de 47% até 2020 e as unidades de hospitais dia poderão atender com qualidade, segurança e com custos bem mais competitivos do que os hospitais convencionais.

A experiência espanhola
Na Espanha o conceito de hospital dia também evoluiu ao longo do tempo e é adotado como uma excelente alternativa de prestação de serviços de saúde, seja para o sistema público, denominado Sistema Nacional de Saúde, seja para o setor privado.

“La Hospitalización de Día ha tenido, dentro del Sistema Nacional de Salud y en el ámbito privado, un considerable desarrollo durante los últimos veinticinco años, que se ha traducido en un incremento notable en la eficiencia en la atención a pacientes, que con anterioridad eran ingresados en unidades de hospitalización convencional.”

O sistema público de saúde espanhol utiliza e incentiva o surgimento de novas unidades de hospital dia e a maior justificativa desta ação refere-se a redução dos custos da assistência e a redução das filas nos hospitais gerais.

Dados de saúde nacionais pesquisados pelo IBGE
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE publica o relatório Pesquisa de Assistência Médico Sanitária – AMS. Esta pesquisa, que em 1999, 2002, 2005 e 2009 contou com apoio do Ministério da Saúde, investiga todos os estabelecimentos de saúde, sejam públicos ou privados, com ou sem internação, em todo o Território Nacional, com o objetivo básico de revelar o perfil da capacidade instalada em saúde no Brasil e a formação de um cadastro atualizado dos estabelecimentos de saúde.

Alguns resultados divulgados na pesquisa de 2009 são interessantes de serem tratados:

(a) O número de estabelecimentos de saúde em atividade total ou parcial aumentou de 77 mil em 2005 para 94 mil em 2009 (22,2%). Das 52 mil unidades assistenciais públicas em atividade, 95,6% são municipais e, das 42 mil unidades particulares, 90,6% têm fins lucrativos.
 
(b) O número de estabelecimentos sem internação acompanhou o crescimento do total de unidades, aumentando 22,7% em relação a 2005 e chegando a 67,9 mil em 2009, o que corresponde a 72,2% do total pesquisado.

(c) Entre 2005 e 2009, o país ficou com menos 390 estabelecimentos com serviços de internação no setor privado. O setor público aumentou sua oferta de internação em 112 estabelecimentos, resultando em uma perda líquida de 280 unidades. Apenas a região Norte registrou aumento (2,3%) na oferta de serviços de internação, enquanto todas as demais regiões tiveram queda, com destaque para o Centro-Oeste (-7,8%). Os leitos para internação também tiveram redução de oferta: menos 11.214 leitos entre 2005 e 2009. Dos 431,9 mil leitos registrados, 152,8 mil (35,4%) eram públicos e 279,1mil (64,6%) privados. A taxa nacional em 2009 foi de 2,3 leitos/mil habitantes, abaixo do parâmetro estabelecido pelo Ministério da Saúde, de 2,5 a 3 leitos/mil habitantes; apenas a região Sul se manteve nessa faixa, com 2,6 leitos/mil hab. Entre 2005 e 2008, o número de internações registrou queda de 0,2%, com quase 23,2 milhões de internações, dos quais 15,0 milhões foram no setor privado.

(d) Acompanhando a tendência observada nos estabelecimentos com internação, os leitos também tiveram redução de oferta em 11214 leitos na comparação entre 2005 e 2009. No total, foram registrados 432 mil leitos, sendo 152,9 mil (35,4%) públicos e 279,1 mil (64,6%) privados. Mais uma vez, a região Norte foi a única a ter aumento de 4,2% no total de leitos em relação a 2005.Os leitos privados no país tiveram uma queda de 5,1% no período considerado. Os parâmetros do Ministério da Saúde são de 2,5 a 3 leitos por mil habitantes. A taxa nacional em 2009 foi de 2,3 leitos/mil habitantes. A região Sul foi a única que atingiu o parâmetro oficial, com 2,6 leitos, enquanto as regiões Norte e Nordeste continuaram as mais desprovidas (1,8 e 2,0 leitos por mil habitantes, respectivamente).

(e) O número de internações por cem habitantes recuou de 12,8 em 2005 para 12,2 em 2009. No Norte, o indicador ficou em 11,5 e no Nordeste em 10,5. Entre 2004 e 2008, o Sudeste apresentou queda relativa de -11,7% e o Norte de -9,2% na taxa de internação.

Há indicadores que denotam a clara redução do numero de internações, do tempo de internamento e da oferta de leitos hospitalares no pais.

Considerações finais
O modelo de hospital dia não substitui o hospital convencional. Este sempre será de fundamental importância para a sociedade. Porém os hospitais gerais ficarão cada vez mais concentrados na alta complexidade, traumas e transplantes, enquanto que as unidades de hospital dia serão direcionadas para a realização de procedimentos de média e pequena complexidade, com maior produtividade, menores custos operacionais e com melhores resultados para a sociedade.

Newton Quadros: Administrador de Empresas, Especialista em Qualidade Hospitalar. Sócio e presidente do Conselho de Administração do Baía Sul Hospital Dia, em Florianópolis, Santa Catarina

Fonte SaudeWeb

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