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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

“Hormônio do amor” pode tratar dores crônicas

Médico norte-americano estuda ocitocina há 20 anos e afirma que reposição melhora a fibromialgia. Entenda os motivos
 
A dor é um dos sintomas mais misteriosos da medicina. A origem e o tratamento ainda não são bem definidos pela ciência, o que pode fazer com que alguns pacientes convivam anos com a experiência dolorida, frequente e limitadora, sem solução em analgésicos ou qualquer outro medicamento.
 
Quando a dor não é sequela de uma artrite, enxaqueca ou lesão e passa a ser a doença em si ela recebe o nome de fibromialgia.
 
A estimativa de ensaios feitos pela Faculdade de Saúde Pública de São Paulo é que, em média, três em cada dez brasileiros sofram deste mal, caracterizado pelas dores disseminadas no corpo todo e sem causa aparente. O impacto no bem-estar é tamanho que grupos das principais universidades brasileiras se debruçam sobre o tema para encontrar solução. Neste cenário, um dos caminhos avistados pelo médico especializado em saúde pública da Flórida (EUA), endocrinologista e uma das maiores autoridades em fibromiagia do planeta, Jorge Flechas, está na utilização da “terapia do amor”.
 
Há 20 anos, Flechas começou a estudar os efeitos da reposição da ocitocina, popularmente chamada de hormônio do amor, para pacientes com fibromialgia. O ponto de partida do médico eram as várias áreas do cérebro que reagem na metabolização hormonal da ocitocina.
 
Estudando o corpo, ele atestou que o hormônio – liberado durante a amamentação, relação sexual e namoro, por exemplo - promovia uma queda da pressão arterial, relaxava o corpo e melhorava a circulação sanguínea. Além disso, a parte cerebral chamada amígdala, responsável por estimular o sistema nervoso e promover, em alguns casos, episódios doloridos, ficava “anestesiada”. Além disso, ele acompanhou mulheres com fibromialgia que, quando engravidavam, ficavam livres dos sintomas doloridos. Para ele, a associação à ocitocina, produzida ainda mais na gestação, ficou evidente.

Diante disso, passou a estudar aplicações da injeção em pacientes com dores crônicas e também em mulheres com falta de apetite sexual. O método é experimental e as pesquisas ainda estão em andamento.
 
Na última semana, Flechas esteveem São Paulo para divulgar a eficiência e a versatilidade do hormônio do amor. Ele quer expandir o uso e as pesquisas não só para a fibromialgia, mas também para o autismo e as disfunções sexuais de homens e mulheres.
 
Durante o congresso II Congresso Latino-Americano da World Society of Anti-Aging Medicine (WOSAAM), ele concedeu entrevista ao iG Saúde.
 
iG Saúde: A ocitocina é chamada de hormônio do amor. Por que esta substância é tão versátil, podendo melhorar os sintomas de doenças tão diversas como fibromialgia e a disfunção sexual?
Flechas: Parte da sua pergunta reside no fato de que ninguém na comunidade médica mundial estudou a deficiência da ocitocina sem ser no trabalho de parto ou na função sexual. As implicações podem ser inúmeras e não estarem restritas só à fibromialgia.
 
O fato do hormônio ser encontrado em alguma parte do corpo ou desempenhar alguma função não quer dizer que o mesmo hormônio não desempenhe outras funções tão ou mais importantes do que as que conhecemos. Existem receptores de ocitocina em várias partes do cérebro, atuando em diversas funções corporais, por causa de propriedades bastante abrangentes desta substância.
 
Uma das funções da ocitocina está em ajudar uma mãe a ensinar seu bebê amar, o que acontece nos três primeiros anos de vida da criança. O autismo infantil pode ser diagnosticado pela total ausência de ocitocina.
 
Em adultos autistas, a falta de ocitocina causa disfunção sexual (falta de interesse). Quando administrada a partir de uma fonte externa (injeção ou spary nasal), a ocitocina age na diminuição de produção de outras substâncias (como o cortisol, hormônio do estresse).
 
iG Saúde: Como foram feitos os estudos que relacionaram o uso do hormônio e a fibromialgia? Quais são os resultados?
Flechas: Os estudos em andamento, tanto para homens quanto para mulheres, acontecem com base em evidências colhidas por meio de testes feitos em centros de estudos para o tratamento da fibromialgia. Parte do grupo recebe hormônios e parte recebe placebo (depois são comparados os episódios de dor enfrentados durante a semana pelos participantes do estudo). O tratamento com ocitocina não acontece da mesma forma para todos os pacientes. Cada caso é um caso e a dose a ser ministrada depende do objetivo de tratamento.
 
iG Saúde: Um dos problemas da reposição hormonal são os efeitos adversos futuros. Pesquisas já relacionaram a utilização dos hormônios ao aparecimento de tumores, por exemplo. Os riscos do uso a longo prazo da ocitocina já estão mensurados?
Flechas: Não há contraindicação para o uso da ocitocina, muito pelo contrário. Estudo o tema há mais de 20 anos, e posso garantir que na verdade, o que acontece é justamente o contrário. Hoje tratamos o câncer de mama com ocitocina (há pesquisas que relacionam a reposição à melhora das dores do câncer). O hormônio pode baixar a produção de adreno-cortisol, associado a várias doenças.
 
Fonte iG

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