O Inca (Instituto Nacional de Câncer) estreou neste mês uma nova técnica para a retirada de tumores no fígado.
Batizada de hepatonavegação, ela leva para a sala de cirurgia uma torre com rastreador infravermelho capaz de detectar os instrumentos médicos e mostrar sua localização exata em uma imagem em três dimensões do órgão.
Mauro Monteiro, da seção de cirurgia abdômino-pélvica do Inca, diz que foi a primeira vez que a inovação foi utilizada na América do Sul.
Segundo ele, a técnica ajuda a definir a parte do órgão que será retirada e a evitar o corte de vasos sanguíneos, diminuindo sangramentos e facilitando a recuperação.
"O fígado é um órgão muito vascularizado. Se o tumor é profundo, há o risco de atingir os vasos, já que a visualização é difícil", explica. "O cirurgião tem de se basear em tomografias, ultrassonografias e na sua experiência para definir o corte."
Na cirurgia deste mês, porém, as tomografias foram processados por um software que criou uma imagem em três dimensões do fígado da aposentada Júlia Cardoso, 67.
Uma "garra" com sensores foi acoplada aos instrumentos, comunicando-se com o rastreador infravermelho colocado ao lado do leito.
Após a abertura do abdômen, os médicos passaram um desses instrumentos sobre o fígado, estabelecendo uma relação espacial entre o órgão e a imagem 3D na tela.
A partir daí, a posição exata de bisturis e equipamentos passou a ser exibida, permitindo aos cirurgiões observar a proximidade com o tumor e com os vasos sanguíneos. "Isso dá muito mais precisão à cirurgia", diz Monteiro.
Segundo ele, o avanço foi resultado de uma parceria entre a Unigranrio, onde ele leciona, e os engenheiros Raul Queiroz Feitosa e Dario Oliveira, da pós-graduação da PUC-Rio. Foi isso que possibilitou o desenvolvimento do software 3D Liver, que gera as imagens do órgão. O programa é de domínio público.
Depois, entrou no projeto a empresa brasileira Artis, que cedeu o equipamento de navegação. A torre com rastreador e as "garras" com sensores já são usadas em cirurgias neurológicas.
Produção própria
"Em vez de importar, nossa ideia era desenvolver o aplicativo aqui", diz Monteiro. Segundo ele, existem apenas duas empresas no mundo que produzem sistemas para a hepatonavegação. Os preços por unidade variam de R$ 300 mil a R$ 570 mil.
Ele não soube informar quanto foi gasto no projeto brasileiro, mas vê vantagens no investimento. "É uma tecnologia que se paga, pois reduz o tempo de internação."
A boa recuperação da aposentada Júlia Cardoso parece confirmar a tese. Há sete anos, quando foi submetida à sua primeira cirurgia para a retirada de um tumor no fígado, ficou 11 dias internada, precisou de transfusão e teve várias complicações.
Desta vez, voltou para casa em cinco dias. O tumor, porém, era menor. "Fiquei com medo de que fosse começar tudo de novo, mas foi bem mais tranquilo", comemora.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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