Um dos programas disponíveis simula o ato
de fumar
e ensina o interessado a enrolar um cigarro
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À medida que o cerco se fecha para a publicidade do cigarro, surge um meio
alternativo de promoção do produto. Levantamento de pesquisadores da Escola de
Saúde Pública da Universidade de Sydney, na Austrália, mostra que, em fevereiro
de 2012, 107 aplicativos para smartphone a venda nos dois principais sites do
setor - Apple e Android - faziam apologia ao fumo.
O estudo, publicado no periódico Tobacco Control, do grupo British Medical
Journal, afirma que o conteúdo pró-fumo dos aplicativos pode estar violando a
Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde
(OMS), acordo internacional ratificado pelo Brasil em 2005.
Desses aplicativos, 48 foram classificados como "simuladores de fumo". Ao se
inalar e exalar perto do microfone, o cigarro virtual queima. Para derrubar a
cinza, é só chacoalhar o aparelho. A fumaça também pode ser manipulada com o
toque na tela.
Outros 42 apps listam as principais marcas de cigarro, discorrem sobre suas
especificações e dão informações de compras. Há programas que ensinam como
enrolar um cigarro, jogos com o fumo como tema, papéis de parede que imitam
maços e recursos que permitem que o consumo de bateria do aparelho seja
sinalizado com a figura de um cigarro queimando.
Esses aplicativos estão disponíveis sob as categorias "entretenimento",
"jogos", "estilo de vida" e até "saúde e exercícios". Alguns alegam ter o
propósito de ajudar a parar de fumar. Mesmo assim, foram incluídos na categoria
pró-tabaco pelo entendimento dos pesquisadores de que representam estímulo ao
hábito.
Para a psicóloga Mônica Andreis, vice-diretora da Aliança de Controle do
Tabagismo (ACT), os programas realmente podem influenciar no consumo do cigarro,
principalmente entre crianças e adolescentes. "Esse tipo de aplicativo é de
fácil acesso a qualquer idade. Não existe nenhum tipo de advertência e vários
estão categorizados como entretenimento. Há um risco de estímulo ao consumo,
seja pelos joguinhos, seja pela simulação do ato de fumar", diz.
Mônica lembra que a Convenção-Quadro orienta que o ideal seria banir qualquer
tipo de publicidade, promoção ou patrocínio feitos de maneira direta ou indireta
pela indústria do tabaco. "Esses aplicativos não seriam adequados nem
recomendáveis. A questão é que entramos em um terreno que carece de
regulamentação: o da internet."
Responsabilidade
Para o advogado Felipe Mendes, da Comissão
Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, não é
possível dizer que os apps são diretamente disseminados pela indústria do
tabaco. De qualquer forma, os responsáveis poderiam ser enquadrados como
violadores da Convenção-Quadro.
Mendes acrescenta que o surgimento desses aplicativos contraria as campanhas
nacionais para que os jovens não experimentem o cigarro. "É uma preocupação
especial da política de controle do tabaco, pois os aplicativos são gratuitos ou
baratos. Hoje, o acesso à internet é extremamente disseminado e boa parte dos
jovens tem internet e um telefone de boa capacidade."
Para lembrar
Em dezembro de 2011, a presidente Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.546, que
proíbe qualquer tipo de propaganda de cigarro, sendo permitida só a exposição
dos produtos nos locais de venda. Enquanto a lei aguarda regulamentação, na
prática, ainda se encontram cartazes nos locais de venda. “A lei representa um
avanço, mas não cumpre totalmente o que a Convenção-Quadro prevê”, diz Mônica
Andreis, da Aliança de Controle do Tabagismo. Para seguir à risca, seria
necessário proibir a exposição dos próprios maços. Como signatário do acordo, o
Brasil é monitorado internacionalmente e divulga relatórios sobre ações
antitabagistas.
Fonte Estadão
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