Rio de Janeiro – Mais da metade das pessoas que procuram a emergência
hospitalar no estado do Rio com problema de pé diabético acabam sofrendo
amputação. A constatação está em um levantamento feito pela Sociedade Brasileira
de Angiologia e Cirurgia Vascular - Regional Rio de Janeiro (SBCV-RJ), entre 6
de agosto e 14 de setembro deste ano, com pacientes do Sistema Único de Saúde
(SUS) de 30 hospitais do estado. Eles foram acompanhados durante todo o tempo de
permanência no hospital. De acordo com o presidente da SBCV, Carlos Eduardo
Virgini, o número de amputações é preocupante.
“O pé diabético é uma complicação
muito grave, muito comum, em qualquer emergência hospitalar você encontra vários
pacientes internados, e o que é mais grave é que eles acabam sendo amputados.
Nós vimos, por exemplo, que de cada dez pacientes que se internam nas
emergências, seis amputam, um índice altíssimo, é uma coisa muito grave, que
precisa ser discutida na sociedade. A gente precisa procurar formas de amenizar
essa questão”, disse.
No período da pesquisa, foram 193
casos de pacientes diabéticos com lesão no pé. 59% eram homens, com mais de 62
anos de idade e mais de 11 anos de diabetes. De acordo com Virgini, o principal
motivo que leva à amputação em diabéticos é a falta de cuidados preventivos.
“Tem a ver com o fato do paciente
não ter conhecimento da doença, não cuidar bem da lesão, que pode começar com um
arranhão que não é bem tratado. Mas, sem dúvida, a falta de acesso ao
atendimento básico é uma questão essencial. Ou o paciente vai ao posto de saúde
tratar da ferida ou ele vai no final da linha, chega na emergência com uma lesão
muito avançada, com infecção, com infecção do osso, aí não tem muito o que fazer
e acaba sendo amputado por causa disso. Falta o atendimento no meio do caminho,
intermediário”.
De acordo com o médico, para
prevenir essas amputações é fundamental a educação sistemática do paciente, da
família e das equipes de atenção básica, além de organizar o atendimento das
equipes multidisciplinares e em nível secundário.
O assunto foi debatido em audiência
pública ontem (8) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), dentro das
atividades da 8ª Semana Estadual de Saúde Vascular.
A médica endocrinologista Solange
Travassos, integrante da União de Associações de Diabéticos do Estado do Rio de
Janeiro (Uaderj), declarou que a diabetes foi a causa de 4,6 milhões de mortes
no mundo em 2011. A cada cinco segundos uma pessoa fica diabética e uma morre a
cada dez segundos por causa da doença.
De acordo com Solange, os dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 80% dos diabéticos vivem em
países pobres e que 183 milhões de pessoas não sabem que têm a doença e,
portanto, não se cuidam. Consequentemente, quando ocorre o diagnóstico, metade
dos pacientes já desenvolveu complicações crônicas como alterações na retina,
nos rins e o pé diabético, um problema vascular e neurológico que normalmente
começa com a perda de sensibilidade nas extremidades do corpo.
Sobre as amputações, a
endocrinologista disse que o problema é antigo e mundial, sendo a diabetes a
maior causa de amputação não traumática em todo o mundo, por falta de
prevenção.
“Quando você tem uma política de
prevenção eficaz, quando o paciente é bem tratado, quando ele tem o pé examinado
em toda consulta, quando ele tem acesso aos medicamentos que ele precisa para
atingir a meta de tratamento, isso não acontece. Então é muito triste você ver
uma pessoa perder algum dedo, um pé, uma perna, o que seja, sabendo que se
fossem tomadas algumas medidas um pouco antes, isso poderia ter sido
completamente evitado”, ressaltou.
A gerente do programa de diabético
da Secretaria Municipal de Saúde, Cláudia Ramos, disse que, desde 2009, o
governo passou a ter como foco melhorar a atenção primaria à saúde, o que demora
um pouco a refletir nos números e estatísticas.
De acordo com ela, o Rio de Janeiro
estava muito atrasado na área de atendimento, mas agora conta com 191 unidades
de atenção primária, para acompanhar as doenças crônicas não transmissíveis
diretamente nas comunidades. “Hoje nós temos mais de 70 clínicas da família e
800 equipes completas. A Rocinha, por exemplo, que era uma prioridade, está com
100% de cobertura”, declarou.
Segundo a gerente, o Rio de Janeiro tem cerca de 300 mil diabéticos, que
contam com atendimento específico pelas equipes da Saúde da Família. A insulina
também está disponível em todos os pontos de atendimento da secretaria, com um
médico capacitado para receitá-la ao paciente.
Fonte Agência Brasil
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