Médico especialista em geriatria escreve sobre quando a doença é incurável e a importância dos cuidados paliativos
Por que a morte é tão temida em nossa sociedade? Por que não se fala sobre ela? Muitas explicações poderão ser dadas e para cada indivíduo há uma resposta, de acordo com suas angústias e medos. Para muitos, o medo de sofrer no fim é o que pesa mais, assim como o medo do isolamento social.
Felizmente acontecimentos recentes em nosso país trouxeram o assunto morrer à tona e nos faz refletir sobre como está sendo a finitude de nossa vida. De acordo com artigo publicado na revista inglesa The Economist que estudou a qualidade de morte no mundo em 2010, o Brasil foi situado em seu ranking, entre os três últimos.
O avanço da tecnologia na medicina criou uma falsa expectativa de que somos imortais e a formação médica ainda é focada na cura. Aparelhos inteligentes podem manter a respiração, os batimentos cardíacos e substituir os rins. Transplantes de órgãos naturais ou artificiais, sondas de gastrostomia e traqueostomias prolongam a vida muitas vezes às custas de muito sofrimento. A maioria dos médicos não aceita a morte apesar de reconhecer que seu paciente está no fim.
Infelizmente as doenças que mais levam à morte são incuráveis e progressivas levando a muitas limitações físicas e sofrimento. Estou falando de câncer, doenças cardíacas, pulmonares, renais e neurológicas que com o envelhecimento populacional aumentam exponencialmente.
Mas, se não tem cura o que fazer? Há pouco tempo atrás alguns profissionais de saúde usavam um jargão do “não há mais nada a ser feito” que só criava ainda mais pânico ao paciente e seus familiares. Realmente para a doença propriamente dita pode não ter o que ser feito, mas para o doente, a pessoa que sofre, há muito o que ser feito. É escolha médica e se chama Cuidado Paliativo.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cuidado paliativo é a abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares que estão diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida. Ele requer o tratamento impecável da dor e de outros problemas físicos como enjôo, falta de ar, cansaço, sonolência além de abordar questões psíquicas, sociais e espirituais.
Nada tem a ver com eutanásia. É uma prática que entende a morte como processo natural e auxilia o paciente a viver tão ativamente quanto possível até a sua morte. São intervenções que precisam, na maioria das vezes, de profissionais capacitados para essa função e que saibam trabalhar em sintonia.
Em nosso país, os cuidados paliativos já foram reconhecidos como especialização médica e muitos profissionais de saúde foram treinados por outros mais experientes nesta prática. Existe uma instituição chamada Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) que procura organizar os serviços e pessoas envolvidas nessa área, desde 2005.
Portanto, quando recebermos o diagnóstico de uma doença incurável e progressiva, saberemos que existe uma prática de saúde que vai cuidar de nós até o final e esse desfecho poderá ser combinado com o médico e sua equipe multiprofissional.
* Dr. Filipe Gusman é médico especialista em geriatria e atuante em cuidados paliativos , na Clínica São Vicente
Fonte SaudeWeb
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