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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Implantes hormonais são usados para perder peso, reduzir a celulite e ganhar músculos

Implantes hormonais usados para contracepção e supressão da menstruação sempre foram controversos. Agora, que têm sido procurados para fins estéticos, estão mais controversos ainda.
 
Mais de um milhão dessas drogas foram aplicadas no Brasil em 2011, segundo o endocrinologista Elsimar Coutinho, 82, precursor da técnica. Ele calcula que a procura tenha dobrado em dez anos. O aumento esperado para 2012 é de 20%.
 
"Primeiro, você desincha. Depois, dá uma secada, perde celulite, ganha músculo, seu corpo fica duro e a textura da pele, mais firme", descreve a modelo Talytha Pugliesi. Ela atribui o milagre ao implante à base de progesterona colocado há três anos.
 
Pugliesi, 30, viu a medida do seu quadril cair de 91 para 88 centímetros. De quebra, o canudo enfiado sob sua pele a livrou da menstruação.
 
"Chip" fashion
Outra adepta é a modelo Thaís Rumpel, 17. Ela foi orientada pela agência a ir à clínica do célebre ginecologista Malcolm Montgomery, pupilo de Coutinho.
 
A "new face" chegou ao consultório com 62 quilos. Recebeu um tubo de elcometrina (à base de progesterona). Quatro meses depois, estava quatro quilos mais leve.
 
"Muitas meninas põem o 'chip' e emagrecem. A metade das modelos usa. Com os hormônios desorganizados, eu engordava muito", diz ela, cuja medida de quadril pulou de 98 para 93 centímetros.
 
A agência não só indicou o tratamento à garota como adiantou os R$ 3.500 do custo, que a modelo terá de quitar depois de juntar dinheiro.
 
A diretora da agência Elo, Renata Rodrigues, confirma ser comum o envio de profissionais para colocação de implantes: "Se a modelo se queixa de ganho de peso ou menstruação, a gente faz o procedimento, leva ao doutor Malcolm, faz todos os exames".
 
Voz de travesti
O tratamento pode causar efeitos colaterais como perda de cabelo, alteração na libido e mudança na voz.
 
"Meu irmão fala que tenho voz de travesti", diz Pugliesi. O implante que ela usa tem testosterona.
 
A atriz e modelo Letícia Birkheuer, 34, aderiu ao método aos 23 anos, para se livrar das cólicas, diz.
 
Depois de oito anos, tirou o implante para ter filho e há cinco meses o recolocou. Ela engravidou quatro meses após a retirada. Ganhou 22 quilos na gestação. Seis meses após o parto, voltou à forma.
 
Birkheuer diz que o implante a ajuda a manter os seus 65 quilos. "Até pelo fato de não inchar. E reduz muito a celulite, impressionante."
 
O implante é um tubinho de silicone com três centímetros de comprimento por um milímetro de diâmetro. Dentro há um mix de hormônios feito sob medida, segundo médicos que o prescrevem. É aplicado com uma espécie de injeção e anestesia local.
 
Elcometrina é o nome de um dos mais usados. À base de progesterona, bloqueia a menstruação, reduz TPM, cólicas, enxaquecas e risco de endometriose, diz Montgomery. Dura uns seis meses.
 
Segundo ele, ainda "acaba com o sobe e desce hormonal" e anula o efeito do estrogênio em alta, que retém líquido. "A angústia da fome diminui, os pacientes acabam perdendo peso", diz ele.
 
Mas a elcometrina reduz a libido. Por isso, é comum que o ginecologista associe testosterona à fórmula.
 
Outro implante popular é a gestrinona, também à base de progesterona. É esse o tal que promete reduzir celulite e aumentar massa muscular.
 
Mas causa acne e pode abrir o apetite, ao menos nos meses iniciais, de adaptação.
 
Há ainda implantes à base de estrogênio e testosterona, manipulados para atingir o interesse do paciente.
 
Faltam estudos
Especialistas questionam esse uso de implantes. O Conselho Regional de Medicina de SP alerta para efeitos colaterais e a sociedade dos endocrinologistas diz não haver bons estudos sobre a eficácia (leia ao lado).
 
"Tenho 500 trabalhos científicos publicados em revistas médicas de peso", rebate Elsimar Coutinho. Seu estudo mais recente foi publicado em setembro de 2006 na revista "Contraception".
 
Coutinho diz que a busca desses implantes para melhorar a estética é "surpreendente". Ele frisa que a terapia é parte de um programa de anticoncepcionais de efeito prolongado. "A pessoa valoriza mais o efeito colateral do que o resto, isso é comum."
 
Montgomery diz que só aplica implantes em pacientes com indicações médicas como puberdade precoce, menstruação volumosa, enxaqueca, cólica, endometriose, mioma ou menopausa.
 
As doses de hormônio dos implantes são menores que as de pílulas anticoncepcionais, porque não passam pelo sistema digestivo, diz Coutinho. Um implante anual tem cerca de 300 miligramas.
 
O cálculo da dose é individualizado. São considerados índice de massa corporal do paciente, idade, hábitos etc.
 
A entidade dos endocrinologistas aceita como uma vantagem do implante o hormônio não ser processado pelo fígado. Mas aponta que há o risco de ser preciso tirar o implante com urgência.
 
"Uma paciente usava implante com dose alta de estrogênio. Teve câncer de mama e não tinha como reduzir rapidamente a liberação do hormônio", diz a médica Dolores Pardini, da entidade. Coutinho e Montgomery dizem que tiram o tubo no ato.
 
O governo não aprova a comercialização de implantes de gestrinona e elcometrina e alguns tipos de testosterona. A venda é vetada, mas o material para fabricá-los, não. Médicos que receitam os implantes usam os manipulados na farmácia do centro de pesquisa criado pelo próprio Coutinho.
 
O custo de um implante varia de R$ 700 a R$ 3.000.
 
Editoria de arte/folhapress
 
Fonte Folhaonline

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