Registros Eletrônicos de Saúde integrados e consistentes análises de Big Data apontam para uma saúde com mais qualidade, agilidade e menores custos, mas para isso virar realidade, médicos e pacientes terão de romper a barreira da resistência à tecnologia
Mesmo em um Brasil das emergências superlotadas, da falta de leitos hospitalares, das disputas entre prestadores, médicos e fontes pagadoras, e de uma infindável lista de percalços, a tecnologia olha para o que seria ideal, desejável e, quiçá, resolutivo. Portanto falar em projetos de Registros Eletrônicos de Saúde e aplicabilidade do “Big Data” na atualidade pode ser utópico para os críticos e o caminho do equilíbrio para os defensores.
E é tentando mesmo arrumar a bagunça entre sistemas de informação de saúde que não se conversam em ambientes, na maioria das vezes, adversos, como é o caso do Brasil, que a norte-americana InterSystems investe no conceito de Saúde Conectada, que consiste em compartilhar e integrar informações clínicas entre hospitais, clínicas, farmácias e laboratórios tanto no âmbito regional como nacional.
“Sistemas de saúde são muito divididos e a maioria dos pacientes se trata em diferentes lugares. São várias pessoas, várias organizações tentando fazer a coisa certa, mas ninguém conversa entre si. Um dos pontos cruciais para gente é continuar conectando sistemas de saúde com mais eficiência, para tê-los realmente integrados”, afirmou o vice-presidente de planejamento estratégico da InterSystems, Paul Grabscheid, durante o Global Summit 2013, o maior encontro anual da companhia, realizado em abril deste ano na cidade de Orlando, Flórida (EUA).
A solução Healthshare é a plataforma que suporta o conceito da empresa no mundo, pois completa sua linha de evolução tecnológica, contemplando funcionalidades do robusto banco de dados Caché e do software Ensemble, que integra diferentes sistemas. Com escritório em 25 países e um faturamento global líquido de US$ 443 milhões em 2012, o setor de saúde representa 85% da receita da InterSystems e, no Brasil, essa importância chega a 60% sobre os números locais.
Preparado para a troca de dados clínicos por múltiplas unidades e instituições, o Healthshare ainda encontra barreiras em mercados em amadurecimento, como o brasileiro, que possui, por exemplo, menos de 15% dos quase sete mil hospitais informatizados. Entretanto, segundo o CEO para a América Latina, Carlos Eduardo Nogueira, o País deve evoluir rapidamente nos próximos dois anos, ofertando novas oportunidades, assim como o Chile, com projetos já concretizados por sua cultura de planejamento mais consolidada frente aos demais países latino-americanos.
Além de Brasil e Chile, outras apostas da companhia são China e Oriente Médio, regiões chamadas por Grabscheid de “campos verdes”. “Acho que existem duas partes para o mercado de TI em saúde no mundo. Se pensarmos em lugares como os EUA e Europa Ocidental, falamos em substituição. É muito difícil fazer coisas novas nesses lugares porque os sistemas já estão implementados. Se formos para outras partes, teríamos o que chamamos de “oportunidades de campos verdes”. Países focados em construir, de fato, um sistema de serviço de saúde”, afirma o vice-presidente, ressaltando que enquanto a China decide se vai construir 1.500 ou 2.000 hospitais, nos EUA talvez surjam cinco novos.
Rompendo barreiras
Um dos termos mais mal definidos na opinião de Grabscheid é o conceito do Big Data, mas ao invés de encarar a constatação como algo negativo, ele acredita que é isso que o torna especial. “Eu penso no Big Data de várias formas diferentes. Uma delas está no uso de dados, geralmente, coletados ou produzidos para um propósito que acabam sendo usados para outro”, explica ao mencionar um exemplo do Google, que foi capaz de rastrear um surto de gripe que se espalhava em Boston mais rapidamente do que as autoridades de saúde.
As etapas para seu aproveitamento na saúde podem ser resumidas em capturar, ou seja, acessar e integrar todos os seus dados; compartilhar, envolver todos os pontos de atendimento; compreender, incluir análises avançadas; e agir, que consiste em conduzir ações com base em informações em tempo real.
“Temos muitas informações a respeito dos pacientes, de tratamentos, sintomas e não a usamos para entender a melhor forma de cuidar. Isso porque parte dessa informação é desestruturada”, explica.
Aí está um dos grandes desafios do conceito, que sendo um banco para grandes massas de dados e programas de análise e visualização opera informações mistas – tanto estruturadas como provenientes de redes sociais, textos, entre outros -, sob três condições ou “três Vs”: volume, velocidade e variedade.
Mesmo tido como promessa para uma assistência de melhor qualidade e menores custos, há ainda aspectos a serem desenvolvidos para seu eficiente uso, conforme sinalizou o professor e presidente do Departamento de Informática Médica & Epidemiologia Clínica da Oregon Health & Scince University, William Hersh. São eles: privacidade e confidencialidade, alto custo, necessidade de mão de obra técnica, com conhecimento de Business Intelligence (BI), por exemplo, e necessidade de infraestrutura de interoperabilidade.
Apesar das barreiras, o aspecto fundamental para que os benefícios – como diagnósticos mais precisos e atendimentos mais ágeis – sejam sentidos, está no comprometimento dos médicos e demais profissionais ao preencherem os dados dos pacientes no sistema enquanto desempenham suas atividades diárias. Uma inserção correta sobre a dosagem e periodicidade de uma medicação é responsável, por exemplo, pelo lembrete enviado ao paciente via SMS para que ele não se esqueça de cumprir as orientações.
Para Grabscheid este é o maior desafio. “Um software no computador é a parte fácil. Conectá-lo a outros softwares já existentes é um pouco mais complicado, mas fazer as pessoas usarem o novo sistema é, de longe, o mais difícil. E não é possível fazer nada apenas colocando-as em uma sala e mostrando como se faz. Você precisa acompanhá-las na prática. Seria interessante conseguir uma semana com cada médico para treiná-lo, mas eles não têm uma semana, nem outro médico para substituí-lo”, lamenta.
Para ele, a tecnologia está conseguindo informações mais estruturadas na medicina, mas os médicos são resistentes a isso. “Eles não querem sentar e perder tempo inserindo informações em um computador. Muitos médicos estão acostumados a tomar notas. Os sistemas estão sendo aprimorados para agilizar o processo de inserção de informação, porque a maioria deles acaba não usando ou usando mal”, conta.
O comportamento indisciplinado, na maior parte das vezes, também dos pacientes em relação às recomendações do médico é outro obstáculo apontado pelo executivo, que enxerga a tecnologia como apenas uma facilitadora para que a comunicação efetiva aconteça, mas totalmente dependente do engajamento de ambos.
Os profissionais mais jovens, segundo ele, mostram-se mais confortáveis com a comunicação eletrônica e diferentes formas de trabalhar, o que sugere uma tendência promissora nesse aspecto.
Mesmo com as barreiras culturais, ditas como as maiores para o líder da InterSystems, os médicos do futuro irão, sim, interagir frequentemente com os sistemas por meio dos dispositivos móveis que já invadiram o cotidiano. Mas o que irá acontecer com os pacientes ainda é um pouco mais nebuloso para ele. “Quando eu converso com as pessoas, elas estão insatisfeitas, existem mais coisas que gostariam de fazer, mais informações que gostariam de ter, mais acesso aos médicos”, alerta, dizendo que o Reino Unido começou a traçar ações para que o paciente possa ter mais poder de escolha, ou seja, ser visto como um verdadeiro consumidor. “Acho que veremos mais iniciativas interessantes como esta.”
Brasil:
• Primeiro projeto de Saúde Conectada no Brasil, início em 2008
• 19 mil usuários entre médicos, enfermeiras e agentes de saúde
• 4 milhões de cidadãos atendidos pelo novo sistema
• 63 centros de saúde, 17 hospitais, 17 laboratórios e 4 UPAS
• Redução de 40% no gasto de medicamento
• Redução de 50% nos pedidos de exames
• Primeiro projeto de Saúde Conectada no Brasil, início em 2008
• 19 mil usuários entre médicos, enfermeiras e agentes de saúde
• 4 milhões de cidadãos atendidos pelo novo sistema
• 63 centros de saúde, 17 hospitais, 17 laboratórios e 4 UPAS
• Redução de 40% no gasto de medicamento
• Redução de 50% nos pedidos de exames
Chile:
• Projeto, que engloba a saúde pública de todo o país, é parte do Plano Estratégico de Saúde do Governo do Chile de 2010 a 2020
• 60% da população do Chile é atendida na atenção primária por meio do sistema da InterSystems (cerca de 9 milhões de pessoas)
• 50% dos postos utilizam o prontuário eletrônico
• Informatização dos hospitais é a nova etapa em andamento
• Projeto, que engloba a saúde pública de todo o país, é parte do Plano Estratégico de Saúde do Governo do Chile de 2010 a 2020
• 60% da população do Chile é atendida na atenção primária por meio do sistema da InterSystems (cerca de 9 milhões de pessoas)
• 50% dos postos utilizam o prontuário eletrônico
• Informatização dos hospitais é a nova etapa em andamento
Fonte SaudeWeb
Nenhum comentário:
Postar um comentário