Descoberta é um importante avanço na terapia celular, já que células embrionárias são capazes de se transformar em outros tecidos
Médicos do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em parceria com o Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conseguiram transformar células do sangue menstrual em células-tronco pluripotentes induzidas (iPS, na sigla em inglês) – reprogramadas para terem as mesmas características de células embrionárias.
Trata-se de um importante avanço nas terapias celulares, que prometem reparar tecidos danificados por doenças ou traumas, já que as células embrionárias são capazes de se transformar em outros tecidos.
A ideia dos pesquisadores é gerar e estudar as células do músculo cardíaco de duas pacientes que têm uma arritmia cardíaca rara, chamada síndrome do QT longo. A primeira tentativa será com mãe e filha – que já tiveram amostras do sangue menstrual colhidas. Por conta da doença, elas sofrem crises de arritmias e podem ter uma morte súbita.
"Com as células induzidas, vamos reproduzir a doença de mãe e filha ‘in vitro’ e estudar as atividades elétricas envolvidas. Isso vai permitir entender o comportamento anormal das células e testar novas drogas", explica o pesquisador Antonio Carlos Campos de Carvalho, coordenador de ensino e pesquisa do INC.
Segundo Carvalho, a descoberta de que o sangue menstrual teria células possíveis de serem reprogramadas ocorreu no laboratório da UFRJ e surgiu da ideia de que o útero sofre uma renovação celular bastante acentuada – o que sugere uma plasticidade maior das células por causa da alta taxa de renovação. Na ocasião, foram coletadas amostras de sangue menstrual de cinco mulheres saudáveis.
"E, de fato, encontramos células mesenquimais, que são raríssimas no sangue periférico (do braço, por exemplo)", afirma.
A pesquisadora da UFRJ Regina Goldenberg percebeu que, em comparação com outros tipos de células, as mesenquimais eram "convencidas" mais facilmente a se comportar como células-tronco embrionárias – ou, dito de melhor forma, o procedimento para torná-las células de pluripotência induzida era mais simples e os resultados apresentados, melhores.
Carvalho diz que o método tem duas vantagens: não é invasivo, evitando a necessidade de fazer uma biópsia do coração das pacientes para coletar essas células; e é mais rápido do que o método atual, feito por meio da coleta de fibroblastos (um pequeno recorte) da pele.
"É uma questão de otimizar a metodologia. Pelo método do sangue menstrual, as colônias de células começam a se formar a partir do 10.º dia. Já pelo método dos fibroblastos, demora cerca de 30 dias", afirma.
Segundo Carvalho, apesar dos resultados positivos com as células do sangue menstrual, os pesquisadores ainda não conseguiram saber qual a quantidade necessária de sangue, nem atribuir a melhor idade para a coleta.
Carvalho diz, entretanto, que a pesquisa ainda não está focando no uso terapêutico dessas células (como aplicá-las direto no coração das pacientes), especialmente por se tratar de uma doença genética. "Nesses casos, a mutação genética responsável pela doença está nas células do paciente. Se reaplicarmos essas células, não estaríamos corrigindo o problema", afirmou.
Os cientistas, no entanto, também sonham com o dia em que as iPS poderão ser usadas em terapias. "Será muito legal quando pudermos induzir pluripotência nas células retiradas do sangue menstrual, corrigir o defeito genético que causa a doença e depois transplantá-las no órgão defeituoso", prevê Regina.
A técnica é especialmente promissora para as mulheres, pois são elas que fornecem as células usadas na reprogramação. "Homens, no entanto, também se beneficiarão indiretamente, caso os genes sejam parecidos com os de uma parente que se submeteu à técnica", diz a pesquisadora.
Os resultados do estudo serão publicados na revista científica Cell Transplantation.
Fonte Estadão
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