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quinta-feira, 26 de julho de 2012

A história do polêmico teste psicológico Rorschach

Poucos dispositivos no mundo da psicologia penetraram na cultura popular de forma tão forte quanto o famoso teste de manchas de tinta de Hermann Rorschach, que ainda divide psicólogos de diversos países

Eu primeiro me deparei com o teste Rorschach de manchas de tinta quando treinava para ser um psicólogo. Eu recebi uma série de cartões contendo manchas de tinta e me perguntaram o que elas pareciam ser (Avaliador: ''O que isso se parece?'' Eu: ''Um morcego''.)

Eu me lembro de pensar que aquilo mais parecia ser uma leitura de tarô do que um teste psicométrico de verdade. Mas quando o teste foi medido e interpretado, ele produziu um resultado assustadoramente preciso da minha personalidade.

Ele revelou coisas ao meu respeito que nem minha mãe sabia. Eu me tornei um fã do teste, ainda que muito cético, desde então. Então, o que é o teste de manchas de tinta Rorschach? É simplesmente um conjunto de cartas com imagens de manchas de tinta dobradas sobre si mesmas para criar uma imagem espelhada.

O Rorschach é o que psicólogos chamam de um teste projetivo. A ideia básica é de que quando é mostrada a uma pessoa uma imagem sem sentido, como uma mancha de tinta, a sua mente irá trabalhar bastante para dar um significado a este estímulo, e tal atribuição de sentido é gerada pela mente.

Ao perguntar à pessoa o que elas veem na mancha de tinta, elas podem estar na verdade falando de si mesmas e como elas projetam um significado sobre o mundo verdadeiro. Mas seu inventor, Hermann Rorschach, nunca tinha a intenção de criar um teste de personalidade.

Klecksografia
Quando criança, o jovem Hermann era um fã de um popular jogo chamado Klecksografia, tão popular que seu apelido era Kleck. A ideia do jogo era colecionar cartões com manchas de tinta que podiam ser comprados no comércio local. Os colecionadores podiam criar histórias a partir das manchas de tinta.

Mais tarde, Rorschach foi estudar psiquiatria e, quando estudava, em 1918, ele percebeu que pacientes diagnosticados com esquizofrenia faziam associações a partir das manchas de Klecksografia diferentes das pessoas normais. Foi então que ele desenvolveu o teste Rorschach como uma ferramenta que servisse de diagnóstico para a esquizofrenia. Mas foi só a partir de 1939 que a ferramenta foi usada como um teste projetivo de personalidade.

O próprio Rorschach era cético a respeito disso. A polêmica em torno da confiabilidade e a validade do teste Rorschach existe desde a sua criação. Hoje, muitos psicólogos na Grã-Bretanha - provavelmente a maioria no país - acreditam que o Rorschach é uma tolice.

Dúvidas e críticas
As críticas ao Rorschach se centram em três coisas: em primeiro lugar, alguns psicólogos argumentaram que o psicólogo que aplica o teste também projeta o seu mundo subconsciente sobre as manchas de tinta ao interpretar as respostas. Por exemplo, se a pessoa testada vê um sutiã, um psicólogo homem pode classificar isso como sendo uma resposta sexual, enquanto uma piscóloga pode classificar a resposta como algo que diz respeito somente à vestimenta.

Em segundo lugar, o teste também tem sido criticado quanto à sua validade. Em outras palavras, ele está medindo o que ele está medindo? Rorschach estava certo de que seu teste media formas desordenadas de pensar - como a que caracteriza a esquizofrenia - e isso nunca foi contestado. Mas sua abilidade para avaliar de forma precisa a personalidade humana continua sendo algo discutível.

Por fim, críticos sugeriram que o Rorschach peca pela falta de confiabilidade. Dois avaliadores, por exemplo, podem chegar a conclusões de personalidade diferentes para a mesma pessoa. Eu também sou cético em relação ao valor científico do Rorschach, mas acredito que ele seja uma ferramenta útil para terapia e como forma de estimular a reflexão sobre o mundo interno de uma pessoa.

Samantha
Eis um exemplo de como eu usei o Rorschach: Samantha é uma advogada de 28 anos. Ela é bem casada e recentemente descobriu que está grávida. Ela e seu marido vem tentando ter um filho desde o ano passado. Eu usei o Rorschach como parte de um programa de treinamento de liderança feito com ela.

Para dar uma amostra do que é o Rorschach na prática, eis algumas de suas respostas: ''São duas pessoas encarando uma à outra. Você pode ver suas cabeças, braços e pernas separados. Há uma grande panela entre eles. Eles estão mexendo na panela, fazendo comida. A coisa no meio é como dois corações, talvez a intenção seja mostrar que eles estão apaixonados?''

"A coisa vermelha no meio parece uma borboleta. Sei que é bobagem, provavelmente porque estou grávida, mas as coisas vermelhas de cada lado se parecem com bebês recém-nascidos ainda presos aos cordões umbilicais. Quando penso nisso, as duas pessoas podem ser uma mãe e um pai carregando uma cesta como a de Moisés.''

''O vermelho no meio representa seus dois corações e também o bebê. Eles podem estar brigando pelo bebê, como em um cabo-de-guerra. Isso me lembra o trabalho, algo em que não penso há séculos. Pais se divorciando e brigando por suas crianças. Deus queira que isso não aconteça comigo.''

Samantha é uma mulher bem ajustada, confiante e bem-sucedida que está vivendo um momento particularmente feliz de sua vida. Está claro como ela projeta os temas de sua vida atual nas manchas de tinta. Há um forte tema de parceria e apego. As duas pessoas fazendo alguma coisa ("mexendo na panela"), alude à gravidez de Samantha. Este tema foi então reforçado. ("as coisas vermelhas de cada lado se parecem com bebês recém-nascidos ainda presos aos cordões umbilicais'').

Ansiedade é a emoção que se contrapõe à dinâmica emocional de Samantha. Preocupações sobre possíveis conflitos futuros com seu parceiro foram incluídos em sua narrativa ("eles podem estar brigando pelo bebê, como em um cabo-de-guerra"). Isso é apenas uma amostra. Há muitas outras coisas no Rorschach de Samantha que abriram as portas sobre como seu mundo psicológico interno impactou a sua vida e o seu trabalho.

Fonte iG

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