Rio de Janeiro – Um medicamento contra malária desenvolvido pelo Instituto de
Tecnologia em Fármacos da Fundação Oswaldo Cruz (Farmaguinhos/Fiocruz), o ASMQ,
recebeu a pré-qualificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que garante o
alto padrão de qualidade do produto.
A certificação foi anunciada nesta terça-feira (3) na Índia, onde o medicamento é
fabricado graças à transferência de tecnologia da cooperação Sul-Sul (agenda
própria de discussões entre Brasil, Índia e África do Sul criado em 2003 e que
incluem temas como ciência e tecnologia, educação, agricultura, sociedade e
informação, defesa, assentamentos humanos, meio ambiente e clima, transportes,
geração de energia, desenvolvimento social e experiências em administração
pública). Com isso, a dose fixa de artesunato (AS) e mefloquina (MQ),
desenvolvida pelo Farmaguinhos em parceria com a organização Medicamentos para
Doenças Negligenciadas, terá maior facilidade para ser distribuída no Sudeste
Asiático.
O coordenador de pesquisa clínica de Farmanguinhos, André Daher, explica que
o tratamento com as duas drogas já era usado, mas a nova formulação, registrada
no Brasil e distribuída pelo Programa Nacional de Prevenção e Controle da
Malária desde 2008, oferece tratamento mais fácil e eficiente.
“Quando você tem duas drogas associadas numa única formulação previne a
monoterapia, ou seja, o paciente não toma uma droga só. Com isso você garante a
cura radical da doença, previne o aparecimento de cepas resistentes e tem toda
uma questão logística de distribuição desse medicamento dentro do sistema de
saúde pública facilitado, uma vez que você tem uma única apresentação sendo
distribuída. Também melhora muito a adesão ao tratamento, quer dizer, o paciente
toma o tratamento completo e você tem uma chance maior de cura”, disse.
De acordo com o pesquisador, esse é o tratamento para malária com uso do
menor número de comprimidos atualmente e pode ser aplicado a partir dos 6 meses
de idade. “Você tem quatro tipos de tratamento, divididos por faixas etárias,
mas são todos com uma tomada diária durante três dias e não precisa ser ingerido
com nenhum tipo de alimento especial. O fato de ser uma única dose diária
melhora muito a adesão do paciente e ele apresenta maior tolerabilidade, com
menos efeitos colaterais”.
Daher explica que a pré-qualificação da OMS é um tipo de registro
internacional que permite a distribuição para vários países por meio de um
mecanismo de compra centralizado da Organização. De acordo com ele, a fábrica
Cipla, na Índia, conseguiu o certificado para distribuir o ASMQ no Sudeste
Asiático. Agora o Brasil inicia o processo de pré-qualificação para a
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o que permitirá distribuir o
medicamento para a América Latina.
O pesquisador destaca a importância da cooperação que permitiu a
transferência da tecnologia para a Índia. “A gente acha [a pré-qualificação]
muito importante, porque ela coroa uma transferência de tecnologia entre dois
países do sul e uma cooperação tecnológica Sul-Sul. [Brasil e Índia] eram
atores, há até pouco tempo, pouco atuantes no mercado tecnológico e, agora, o
Brasil começa a se posicionar como ator mais importante para a cooperação
Sul-Sul no âmbito tecnológico, inclusive em tecnologias em saúde”.
Segundo a OMS, a malária é a quinta doença que mais mata no mundo. Ela é
provocada pelo parasita do gênero Plasmodiun, transmitido pela picada
da fêmea infectada do mosquito do gênero Anophele, conhecido como
muriçoca, mosquito-prego ou carapanã. No Brasil, 99,5% dos casos são registrados
na região da Amazônia Legal. No mundo, África Subsaariana e Ásia são os locais
com maior incidência. A doença, também chamada de impaludismo, causa sintomas
como dor de cabeça, no corpo, dor abdominal, tontura náusea, fraqueza, febre
alta e calafrios.
Fonte Agência Brasil
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