Blogueiro questiona o modelo de incorporação de tecnologias brasileiro. Segundo Stephen Stefani, nasce uma geração de técnicos que parecem mais distantes do paciente
- As contrações estão mais freqüentes e intensas, doutor!
- Pode levar a paciente para sala de parto – orienta o médico.
Entram na sala de parto, olham ao redor, e um dos médicos menciona:
- Meio vazio por aqui…. traga equipamentos, enfermeira….. o EEG, monitor de PA e desfibrilador…..
- … E aquela máquina que faz PING! – completa o outro médico
- Isso…. e traga o aparelho mais caro , no caso do administrador aparecer…
Com a sala cheia de equipamentos os médicos, agora mais satisfeitos questionam
- … mas ainda parece que falta alguma coisa…-
- O que será?
Simultaneamente se olham.
- Ah! … a paciente!
A equipe se coloca a procurar, no meio dos equipamentos, e a paciente é localizada. Na sequência, é informada sobre a sorte que tem de ter a sua disposição a máquina que faz PING e o aparelho mais caro.
Esta cena é do filme Monthy Python: o Sentido da Vida, do grupo inglês de 1983. Impressionante como ainda é atual.
Este tema remete para vários debates: A menção (genial) sobre os equipamentos com caricato afastamento da questão humana é tão presente nos dias atuais que se corre o risco de nem parecer tão non-sense. Como se a máquina substituísse o profissional, o modelo de incorporação de tecnologias, e não só equipamentos médicos, tem criado em geração de técnicos que parecem mais distantes do paciente. PING.
A densidade de equipamentos, com distribuição completamente irregular pelo país, contribuem ainda mais para este cenário preocupante. Por exemplo, enquanto o Canadá tem 8 máquinas de ressonância nuclear magnética para cada milhão de pessoas, a França e Austrália tem 6, o Reino Unido tem 5, o Brasil tem 17 para quem tem plano de saúde e 2,5 para quem depende do SUS. PING.
Em medicina existe um fenômeno de mercado já bem descrito: quanto maior a oferta, maior o consumo. Aliado a uma séria de distorções históricas, incluindo a remuneração insuficiente que a maioria dos médicos recebem (pública e sistema suplementar), a solicitação de exames virou uma rotina, eventualmente para exclusiva proteção dos médicos de processos judiciais. PING.
Algumas tecnologias parecem muito interessantes mas não agregam vantagem clinicamente relevante, a luz de medicina baseada em evidência sob olhar critico. O diagnóstico através de imagens e testes não é algo milagroso e é fundamental que um bom profissional faça o exame e a interpretação crítica dos resultados. Ter acesso a um médico que use o tempo necessário para explicar com detalhes riscos de cada exame e o que ele pode contribuir para tomada de decisão é um grande desafio para muitos brasileiros. PING.
O ritmo de inovação científica pode ser, felizmente, rápido…. mas o registro oficial no país para incorporação de novas tecnologias não é claro e tem critérios, no mínimo, questionáveis e heterogêneos. Existem alguns exemplos em que o medicamento para determinada doença é aprovado, mas o teste para avaliar se o medicamento é indicado, não. PING.
No Brasil, além do mais, discutimos fraudes e desvios que escasseiam mais o orçamento da saúde. Repito o que tenho dito e escrito: discussões sobre incorporação de exames sofisticados ficam prejudicadas pelo fato de que não adianta fazer um diagnóstico preciso e precoce se a fila de espera para o tratamento da doença identificada for maior do que evolução natural da doença.
Se não fosse trágico, seria engraçado. PING!
Fonte SaudeWeb
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