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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Como as Unimeds equalizam contas e interesses

Com faturamento anual de R$ 30 bilhões, o Grupo Unimed mostra que o modelo cooperativista tem garantido competitividade e preocupado as outras operadoras de saúde do mercado
 
O Grupo Unimed responde por 36% do faturamento total do setor de saúde suplementar, avaliado em R$ 82 bilhões/ano, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No ano em que completa 45 anos, a Unimed já registra 367 cooperativas no Brasil, com cobertura de 83% do território nacional, presente em 4.623 municípios e com mais de 111 mil médicos cooperados.
 
Apesar deste cenário que sinaliza o sucesso do modelo cooperativista e sua evolução, a ANS tem, hoje, 18 cooperativas Unimed sob direção fiscal em todo o País. Trata-se de uma intervenção fiscal regulatória em instituições que passam por dificuldade econômico-financeira. Com a entrada da autarquia, a empresa precisa apresentar uma proposta de solução dos problemas, que é acompanhada por 365 dias, podendo ser renovada por igual período. A Unimed Paulistana entrou em Regime de Direção Fiscal em setembro de 2009 devido a problemas econômico-financeiros que estavam gerando dificuldades administrativas para a empresa, o que resultou no afastamento da diretoria eleita na época. A operadora apresentou um programa de saneamento com ações e metas que a levaram a sair do regime de Direção Fiscal em março de 2011.
 
Como surgiu de um ideal político da classe médica de eliminar um intermediário entre o serviço de saúde e o paciente, a estrutura operacional da Unimed tem em seu DNA a política e a conciliação de interesses da classe, o que rende para a instituição um tempero a mais nas relações com o corpo clínico e até mesmo com o setor.
 
Com um negócio cooperativista, na contramão do sistema das demais operadoras de saúde do setor, o sistema Unimed busca aplicar no Brasil o modelo de saúde europeu, baseado na prevenção e no médico referência da família. Além disso, tendo os médicos como sócios do negócio, o percentual de glosa é inferior à média do mercado. Cada vez mais verticalizada, a Unimed tem investido continuamente em rede própria, capacitação dos médicos tanto nas especialidades quanto na gestão e garantido alto poder de negociação junto aos fornecedores.

Negociação e custos
Na Unimed BH, o percentual de glosa é de 0,5%, sendo que a média do mercado varia entre 8% a 10%. Para o Dr. Luiz Otávio Andrade, Diretor de Provimento de Saúde da Unimed-BH, este indicador é reflexo do próprio perfil do negócio, no qual o médico se entende como dono da operadora e do recurso, por ser cooperado. “Existe um esforço institucional para glosar o menos possível. Somos mais liberais e menos burocráticos na autorização de guias, porque atendemos aos interesses do nosso cooperado, que é sócio”, diz.
 
A cooperativa não tem fins lucrativos, mas a Unimed calcula o percentual de sobra após o pagamento das obrigações financeiras da operadora. Este valor é distribuído entre os cooperados. Isso faz com que os médicos sejam corresponsáveis pelo resultado do sistema.
 
Na Unimed Vitória, desde julho de 2011, cada especialidade clínica tem uma câmara técnica, responsável por analisar o comportamento dos médicos especialistas. Formada por profissionais que compõem a equipe, a câmara avalia se os protocolos clínicos estão sendo cumpridos, conforme o estabelecido em assembleia, que prevê a quantidade de materiais que serão utilizados, atuação baseada em evidência, entre outros itens. “Caso um médico caminhe na contramão do que foi estabelecido, a própria câmara alerta o profissional, o que garante um percentual de glosa baixo, relacionada em sua maioria a procedimentos não autorizados. Com o estabelecimento dessa câmara, houve uma queda no número de discussões judiciais com os pacientes”, pontua o presidente da Unimed Vitória, Márcio de Oliveira Almeida.
 
De acordo com Andrade, o custo operacional da Unimed BH é de 8,5% do faturamento, sendo que a média do sistema é de 16% conforme divulga a ANS. “Temos feito um movimento consistente de aumento da eficiência administrativa. Isso é reflexo da política de profissionalização, com aplicação das melhores práticas em processos e gestão. Temos racionalidade na gestão, que é enxuta do ponto de vista administrativo e trabalhamos com escala adequada”, justifica. “É isso que garante que conseguimos ter sobra e repassar mais para os cooperados e prestadores, garante o fluxo financeiro”, completa.
 
Além destes pontos, o executivo aponta que a Unimed tem uma vantagem competitiva, que é ter médicos na gestão. “Quase 85% do nosso custo passa pela assistência. É preciso entender a lógica e ter um nível de interlocução que seja íntimo na negociação”, defende Andrade.


Remuneração médica e benefícios

Na Unimed Santos, o ganho médio do médico por produção é de R$ 6.900 por mês. Além disso, a renda do médico cooperado é complementada pela distribuição da sobra. “Quanto mais racional o gasto com saúde, melhor vai ser remunerado o médico”, reforça o presidente da Unimed Vitória.
 
A Unimed BH distribuiu no último ano R$ 140 milhões em sobra para 5 mil cooperados. “Em média, temos 200 vagas disponíveis anualmente, e somos procurados por cerca de 700 candidatos. Existem diversos aspectos além da remuneração que atraem os cooperados”, acredita o diretor da Unimed BH.
 
Entre os principais benefícios dos médicos, estão: plano de saúde, plano odontológico e fundo de pensão de previdência complementar. A Unimed BH anualmente já colocou cerca de R$ 250 milhões no fundo de pensão dos cooperados e cada cooperado recebeu neste período cerca de 50 mil.
 
Segundo o presidente da Unimed Vitória, o dinheiro da cooperativa é socializado com os médicos. Além disso, os profissionais não gastam com receituário médico, jaleco e conseguem preços melhores em serviços, como seguros por incapacidade temporária, permanente e seguro de vida. “A Unimed Vitória tem um gasto mensal com benefícios da ordem de R$ 1 milhão”, conta.
 
Existem ainda os cursos promovidos pela Fundação Unimed e os apoios aos congressos médicos. A Unimed Vitória conta ainda com um Centro de Ensino e Pesquisa que promove a atualização profissional há 9 anos. “É uma forma de valorizar o corpo clínico”, sintetiza.
 
Verticalização
Em 1996, a Unimed Vitória tomou a decisão de se verticalizar e criar uma rede própria. O motivo? “A maioria dos hospitais da cidade criou planos de saúde próprios e rescindiu na ocasião o contrato com a Unimed”, revela o presidente da operadora.
 
No início, a Unimed Vitória arrendou um hospital da cidade para atender emergência e urgência. Hoje, a Unimed Vitória conta com hospital próprio, serviço de promoção de saúde, entre outros (ver tabela). “Ao todo, 350 pacientes são atendidos em domicílio e 40 estão internados em domicílio”, conta Almeida.
 
O executivo antecipa os planos de expansão. “O Centro Integrado de Atenção à Saúde Unimed será expandido para mais 121 leitos, com o início das obras previstas para o ano de 2013”, revela.

Para o presidente, a operação verticalizada traz a segurança de rede própria e racionalização de custos. “Nós passamos a conhecer profundamente o custo do setor. Ao negociar, você sabe o impacto do custo e a relação fica mais transparente com os hospitais”, posiciona-se.
 
De acordo com Almeida, as unidades verticais da operadora conseguem reduzir custos, porque compra-se em volume. “Temos ainda a segurança de que a medicação de qualidade está sendo aplicada no cliente, assim fidelizamos a família e o cliente”, acredita.
 
No caso da Unimed BH, a realidade é parecida. De acordo com Luiz Otávio Andrade, Diretor de Provimento de Saúde da Unimed BH, há uma política de investimento em serviços próprios que visa uma atuação complementar a rede credenciada. “Trabalhamos complementariamente, identificando as lacunas assistenciais, que são situações em que não tenho na minha rede credenciada um serviço com o volume ou qualidade adequada”, justifica. A operadora tem investimentos em andamento na ordem de R$ 500 milhões, que serão injetados na rede própria para ampliação de unidades existentes e construção de novas.
 
Segundo o diretor, 16% das consultas eletivas, 20% das internações e 35% dos atendimentos de urgência e emergência são feitos na rede própria.”O custo da rede própria não é menor necessariamente, mas ele garante as condições de atendimento e facilita um processo regulatório na negociação junto à rede credenciada”, pontua Andrade.
 
Além do investimento na rede vertical, a Unimed BH tem um Projeto de Qualificação da Rede de Prestadores, que remunera de forma diferenciada a entidade, de acordo com o nível de acreditação.”Pagamos de 7% a 15% a mais do que a tabela padrão, conforme a evolução na acreditação. Isso é uma forma de cobrar e remunerar a qualidade”, conta o diretor.
 
A Unimed Santos também é 100% verticalizada. Para o presidente da cooperativa, Raimundo Viana de Macedo, a rede própria facilita o controle de glosa, além de garantir um serviço de excelência. “Em oncologia, no serviço próprio, além de ser de excelência, é altamente humanizado. Os medicamentos de alto custo são comprados diretamente pela Unimed Santos, reduzindo custos”, conta.
 
De acordo com o presidente da Unimed Santos, na rede credenciada, 8% dos pacientes que vão ao pronto socorro são internados. “Na rede própria, isso cai para 1 a 2%, pois existe uma estrutura diferenciada de plantão, salas intensivas, etc”, complementa.
 
Agora, a Unimed Santos visa uma ampliação. Recentemente, a operadora comprou um terreno de 6.250 metros quadrados no bairro Vila Mathias, em Santos, para a construção de um hospital, que já possui um estudo de viabilidade econômica e está aguardando liberação do financiamento. “O hospital terá de 10 a 12 leitos, atenderá alta complexidade, como realização de cirurgia cardíaca, neurocirurgia e cirurgia ortopédica. O plano é de que ele fique pronto entre 2 a 3 anos, após aprovação do financiamento”, antecipa com exclusividade o presidente. “A ideia é diminuir os custos, melhorar qualidade e, consequentemente, vender mais planos de saúde”, completa.

Perenidade da gestão, não dos gestores
O modelo cooperativista estabelece a necessidade de que a diretoria da operadora se renove a cada quatro anos por meio de votação dos cooperados.
 
O diretor de provimento de Saúde da Unimed BH, Luiz Otávio Andrade, é anestesista e cooperado da operadora desde 1996. Ele assume que quando se cooperou “não tinha noção do que era uma cooperativa”. Depois de estabelecido o vínculo, envolveu-se com o mercado e começou a participar ativamente na Unimed.

“A Unimed busca entre os cooperados aqueles que têm interesse e vocação para o processo de gestão e investe em qualificação, para se tornarem candidatos naturais para a gestão da cooperativa”, revela o executivo, que já foi conselheiro de administração entre 2002 e 2010. De acordo com Andrade, “existe um processo compulsório de renovação”, sendo que cada diretor pode permanecer por no máximo oito anos, o que garante continuidade no processo de gestão. “Do ponto de vista da gestão, há mais constância, pois os mandatos são estabelecidos. Mas o corpo técnico faz planejamento para ciclos de dez anos, isso garante perenidade na gestão independente das mudanças de diretoria”, posiciona.
 
O presidente da Unimed Vitória, Márcio de Oliveira Almeida, também avalia que a sucessão é feita de forma profissional na Unimed. “No cooperativismo é importante a renovação, mas existe uma espinha dorsal preparada para dar continuidade”, diz.
 
Há um ano no cargo, Almeida já assume que ele próprio é um exemplo claro de sucessão desenvolvida dentro da Unimed. “Passei por várias diretorias antes de assumir a presidência. Em geral, os diretores são preparados passando por conselhos”, conta.
 
Para o presidente da Unimed Vitória, o fato de ser médico e estar à frente da gestão de uma empresa médica faz toda a diferença. “Você traz toda a sensibilidade do médico para a gestão e garante um diferencial humano”, acredita. Na Unimed Vitória, atualmente, 29 médicos começaram o curso de MBA em Gestão de Saúde. Existem outros 10, no curso de Gestão de Projetos.


Como surgiu o modelo Unimed:

Final da década 60: com a unificação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) no Instituto Nacional de Assistência Médica de Previdência Social (INPS), que mais tarde viria a se transformar no Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), extinto em 1990 para dar lugar ao Sistema Único de Saúde (SUS), além da queda no padrão de atendimento, as mudanças levaram ao surgimento de seguradoras de saúde.
 
Em 1967: surge a primeira cooperativa de trabalho na área de medicina do país – e também das Américas: a União dos Médicos – Unimed, fundada na cidade de Santos (SP), como uma resposta da classe ao modelo das operadoras de saúde.
 
O potencial do cooperativismo médico ganhou força e fez com que outras Unimeds fossem criadas e implantadas por todo o País, em estados como o do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Brasília, entre outros.
 
Década de 70: surgem as Federações Unimed – as chamadas cooperativas de segundo grau, formadas por no mínimo três singulares -, visando padronizar procedimentos operacionais e estimular a troca de experiências entre as cooperativas de um mesmo estado.
 
Em 1975: é criada a Confederação Nacional das Cooperativas Médicas – Unimed do Brasil, entidade máxima do Sistema Unimed, que congrega todas as federações e singulares.
 
Fonte SaudeWeb

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