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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Pequena parte das descobertas científicas chega aos hospitais

Por Alberto Wainstein
 
Profissional do setor considera a pesquisa clínica um caminho para a inovação na medicina. Atualmente, a grande limitação é o difícil processo que vem após a descoberta de uma nova droga
 
Temos visto por toda a imprensa, nas últimas décadas, centenas de avanços nas fronteiras da medicina, como o deciframento do genoma humano, anticorpos monoclonais, DNA recombinante e diversas drogas com promessas de melhorias no tratamento de inúmeras doenças. Mas por que, mesmo com tantas pesquisas e inovações, não conseguimos mensurar ou ter acesso a estes benefícios no dia-a-dia? A grande limitação é o difícil processo que vem após a descoberta de uma nova droga potencialmente efetiva e antes de disponibiliza-la para uso: a fase de testes, ou, pesquisa clínica. Pelo grande tempo, custo e, principalmente, necessidade de mostrar segurança e efetividade, apenas uma pequena parte das descobertas científicas chega às prateleiras das farmácias ou hospitais.
 
A pesquisa clínica é o processo pelo qual todos os produtos ou resultados de pesquisas, sem exceção, são testados e avaliados para uso em humanos de maneira segura e eficiente, em um processo extremamente democrático e justo. Globalmente, um paciente em um protocolo de pesquisa clínica no Brasil vai ser tratado exatamente da mesma maneira que outro nos Estados Unidos, na Inglaterra ou na índia, fazendo exatamente os mesmos exames e recebendo exatamente a mesma medicação.
 
Este conceito é sólido e transparente. Dentro do Brasil, em um mesmo protocolo clínico, são todos iguais, não existe rico ou pobre, formado ou não instruído, povo ou político.
 
Todos recebem o mesmo tratamento, atenção, exames e medicação e todos têm acesso a um tratamento mais avançado do que os disponíveis no mercado. O nosso saudoso e querido ex-presidente José de Alencar era um dos que apostavam e acreditavam nos procedimentos, participando ele mesmo de pesquisas clínicas como sujeito de pesquisa.
 
Quando uma droga é descoberta através de plataformas tecnológicas inovadoras, o primeiro passo consiste em fazer todos os testes possíveis em animais e modelos pré-clínicos para garantir a segurança e possível eficácia em humanos – sempre regulados e acompanhados por comitês de ética para se garantir o menor sofrimento possível para os animais. Em seguida, é iniciada a fase do “First Use in Human”, ou Primeira Aplicação em Humanos, feita através de um protocolo clínico mensurando-se todos os riscos, possíveis benefícios, eventos adversos esperados e possíveis critérios de inclusão e exclusão para os voluntários de pesquisa.
 
Depois que o protocolo é autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa responsável, procede-se à fase I, em que um número muito pequeno de voluntários de pesquisa recebe doses mínimas do produto para se avaliar a segurança e a toxicidade. Caso o produto mostre-se seguro e com toxicidade aceitável, é então feito um novo protocolo clínico, submetido para aprovaçãodos órgãos éticos e reguladores mais uma vez antes de ser iniciada a fase II, que envolve um grupo maior de voluntários de pesquisa e visa avaliar a eficácia e eficiência do produto. Todos os resultados são rigorosamente avaliados e, sendo o produto seguro e eficiente, inicia-se então a fase III, de protocolos com centenas de centros de pesquisa envolvendo milhares de pacientes em dezenas de países, sempre seguindo todos os trâmites científicos, regulatórios e éticos.
 
Todo este processo demora cerca de 10 anos e custa quase um bilhão de dólares. Mesmo com a demora e o custo, conduzir pesquisas clínicas permite que o Brasil se mantenha atualizado com as inovações científicas e tecnológicas, capacite equipes e centros de pesquisa que passam a ter a competência também de desenvolver produtos nacionais, gere massa crítica e desenvolvimento intelectual, entre muitos outros benefícios. Também existem muitos ganhos para a população.
 
Através da pesquisa clínica, milhares de pacientes podem ter acesso a medicações inovatórias e eficientes que, mesmo aprovadas no Brasil, dificilmente serão disponibilizadas de maneira rotineira no sistema público e privado de saúde.
 
Hoje em dia, por exemplo, o tratamento padrão brasileiro no sistema público e privado de saúde para melanoma metastático (câncer de pele maligno que já se espalhou para outros órgãos do corpo) é a Dacarbazina (DTIC), que apresenta apenas 5% de resposta. Em muitos países, já estão disponíveis drogas como Vemurafenib, Ipilimumab, Interferons e Interleucina-2, que podem chegar a mais de 50% de resposta, uma diferença muito grande em relação aos míseros 5% da Dacarbazina. No Brasil, os pacientes só conseguem ter acesso a tais medicamentos através das pesquisas clínicas.

*Dr. Alberto Wainstein, oncologista e sócio-fundador da Trymed, empresa sediada em Belo Horizonte e especializada na condução de pesquisas clínicas

Fonte SaudeWeb

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