Estudantes de Medicina de São Paulo que pretendem boicotar o exame do
Conselho Regional de Medicina (Cremesp) - utilizado para avaliar a qualidade do
ensino médico do Estado - podem ser impedidos de obter o registro profissional,
de acordo com o órgão. Quase 3 mil formandos devem realizar a prova amanhã em
dez municípios paulistas.
"Se de fato acontecer esse boicote, onde poucos alunos pretendem comparecer
ao exame apenas para marcar a opção 'b' nas questões, essa prova vai ter de ser
retirada do cômputo geral para não prejudicar o desempenho da escola", afirma o
presidente do Cremesp, Renato Azevedo Junior.
O Cremesp modificou as regras neste ano e agora condiciona a concessão do
registro profissional à realização efetiva do exame, ou seja, os participantes
deverão assinar a lista de presença e não poderão deixar a prova em branco. O
desempenho, porém, não será levado em conta.
Segundo o presidente do Cremesp, depois de identificada a marcação da mesma
letra nas 120 questões do exame, a prova será encaminhada ao departamento
jurídico da entidade. "No jurídico, pode ser que se tenha um entendimento de que
esse tipo de marcação seja uma não realização da prova", diz. Com a decisão de
invalidar a prova, não seria possível ao candidato obter o registro.
A mobilização pelo boicote, presente de forma mais intensa na Faculdade de
Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na faculdade de
Medicina de Marília (Famema), é organizada em resposta à obrigatoriedade da
prova a partir deste ano - o exame foi criado em 2005. Os líderes estudantis
defendem a adoção de uma avaliação progressiva no decorrer da graduação.
"Essa prova não vai melhorar a educação e a saúde no País", afirma André
Citroni, aluno do 2.º ano de Medicina da Unicamp e um dos coordenadores do
movimento, que representa 110 estudantes.
Segundo Rafael Romero, de 25 anos, concluinte do 6.º e último ano de Medicina
da Famema, cerca de 15 colegas de turma - de um total de 80 - participarão do
boicote.
Outras instituições também manifestaram apoio ao boicote: a Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.
Na opinião da estudante Ariane Garcia, do Centro Acadêmico Pirajá da Silva,
da Universidade Estadual Paulista de Botucatu, o alto índice de reprovação nos
exames de avaliação realizados em anos anteriores será uma alavanca para a
criação de cursinhos preparatórios, como já ocorreu com o exame da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB).
O Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, entidade que representa os alunos de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP), decidiu não boicotar o exame. "A
prova do Cremesp é um paliativo, que tem falhas, como o fato de ser somente
teórica, por exemplo", diz Gabriel Dias, aluno do 3.º ano e presidente de centro
acadêmico da USP.
Crítica
A possível punição pelo Cremesp aos alunos que
aderirem ao boicote é duramente criticada pelos estudantes da Unicamp. "Não
aceitamos ser tratados como rebeldes. O edital nos dá a segurança jurídica de
que nada pode acontecer profissionalmente com quem aderir ao boicote. Querem
sugerir algo que não está escrito no edital", afirmou um dos coordenadores do
movimento de boicote da Unicamp, o estudante Fabrício Donizete da Costa.
Mas, de acordo com José Luiz Toro, advogado especialista em saúde, o boicote
das questões pode ser passível de alguma avaliação punitiva de ordem ética, a
ser feita pelo Cremesp, mesmo sem a devida menção desse tipo de penalidade no
edital. "Hoje, o Direito não é só edital, não é só uma resolução, o Direito é
uma coisa maior. Se alguns estudantes estão se propondo a este tipo de
comportamento, eles podem estar sujeitos a algum tipo de represália", explica
Toro.
Fonte Estadão
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