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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mais de um terço dos jovens nos EUA toma suplemento para aumentar músculos

Não são apenas as meninas que andam obcecadas por um ideal corporal inatingível.
 
David Abusheikh, por exemplo: aos 15 anos, ele começou a levantar pesos duas horas por dia, seis dias por semana. Agora, estudante do ensino médio na Fort Hamilton High School, no Brooklyn, Nova York (EUA), ele acrescentou barras e shakes de proteínas à dieta, para ganhar massa muscular sem ganhar gordura.
 
"Antes eu não usava suplementos", disse Abusheikh, 18, que pretende estudar engenharia. "Mas eu queria alguma coisa para ganhar músculos em menos tempo."
 
Pediatras estão começando a soar alarmes sobre garotos que tomam medidas pouco saudáveis para tentar conquistar corpos como o de Charles Atlas, algo que apenas a genética pode proporcionar realmente.
 
Quer seja passando muitas horas na academia, gastando suas mesadas com suplementos caros ou até fazendo experimentos de risco com esteroides ilegais, os adolescentes americanos parecem estar dispostos a pagar cada vez mais para conquistar um corpo perfeito.
 
Num estudo publicado na revista médica "Pediatrics", mais de 40% dos adolescentes (dos 12 aos 18 anos, aproximadamente) disseram que malham regularmente para aumentar sua massa muscular. Trinta e oito por cento deles disseram que tomam suplementos de proteínas. Quase 6% revelaram já ter tomado esteroides.
 
Ao todo, 90% dos meninos entrevistados na pesquisa --que vivem na região de Minneapolis-St. Paul, mas, segundo médicos, exemplificam um fenômeno nacional-- disseram que malham pelo menos ocasionalmente para ganhar massa muscular.
 
"Nos últimos 30 anos, ocorreu uma mudança marcante nas atitudes em relação à imagem corporal masculina", comentou Harrison Pope, professor de psiquiatria em Harvard que estuda a cultura dos fisiculturistas e não participou do estudo. A imagem do homem sem gordura e com musculatura bem definida "é muitíssimo mais prevalente em nossa sociedade do que era uma geração atrás", diz ele.
 
Não é de hoje que os homens em idade universitária se interessam pelo fisiculturismo, mas pediatras se dizem surpresos por constatar que hoje mesmo garotos de 12 a 15 anos estão tão fixados em reforçar seus músculos. E o fato de serem tão jovens encerra riscos.
 
Do mesmo modo como meninas que contam cada caloria consumida num esforço para emagrecer podem causar mais mal do que bem a si mesmas, meninos que perseguem uma imagem ilusória de virilidade podem acabar tolhendo seu desenvolvimento, dizem médicos, especialmente quando recorrem a suplementos para acelerar seus resultados --ou, pior ainda, a esteroides.
 
"O problema com os suplementos é que não são regulamentados, como medicamentos, então é muito difícil saber o que contêm", explicou o professor de medicina Shalender Bhasin, do Centro Médico Boston. De acordo com ele, alguns contêm esteroides anabolizantes, e até mesmo suplementos proteicos de alta qualidade podem ser perigosos em grande quantidade ou se forem tomados para substituir refeições. "Essas coisas simplesmente ainda não foram bem estudadas", disse ele.
 
Para Bhasin, os esteroides anabólicos trazem perigo para jovens cujo corpo ainda está em desenvolvimento. Os esteroides, segundo ele, "interrompem a produção de testosterona no homem", levando a problemas terríveis de abstinência quando rapazes ainda em crescimento tentam parar de tomá-los. Mesmo assim, o fato de esteroides serem associados a atletas de elite como Lance Armstrong e Barry Bonds perpetua a ideia de que é possível administrar seu uso com sucesso.
 
Na internet, em fóruns sobre fisiculturismo para adolescentes, garotos mal saídos da puberdade compartilham seus percentuais de gordura corporal e seus regimes de levantamento de pesos e avaliam o progresso uns dos outros. No Tumblr e no Facebook, adolescentes postam imagens de atletas bombados sob a legenda "fitspo" ou "fitspiration", uma contração de "fitness inspiration" (inspiração de fitness). Os tags vieram das imagens e dos vídeos de "thinspo" e "thinspiration" (inspiração de magreza), hoje barrados em muitos sites por promoverem a anorexia.
 
"Levantei pesos antes da aula hoje, me senti bem mas estava fraco demais", escreveu um garoto que disse ter 15 anos e ser de Tallahassee, Flórida, num mural no site Bodybuilding.com em setembro, dizendo que levantou 111 kg. "Mal consegui."
 
Muitos desses garotos provavelmente se identificam com Mike Sorrentino (ou "The Situation"), do reality show "Jersey Shore", transmitido pela MTV, ou com o personagem Adam Sackler do seriado "Girls", da HBO, que raramente está de camisa e quase sempre está fazendo abdominais.
 
David Abusheikh, por exemplo, tem uma página no Facebook cheia de fotos dele mesmo sem camisa e exibindo sua barriga "tanquinho". Em seu colégio, o concurso anual de fisiculturismo teve a participação de 30 alunos neste ano, um recorde.
 
"Eles nos perguntam sobre tudo", contou Peter Rivera, professor de educação física na Fort Hamilton High School e um dos diretores do concurso. "Como faço para perder peso? Como posso ganhar massa muscular? Quantas vezes por semana devo malhar?" Alguns garotos querem ficar mais fortes para praticar esportes, disse ele, mas "outros querem mudar seu tipo corporal".
 
Em comparação com um estilo de vida sedentário, ocupando-se com videogames e televisão, uma obsessão por malhar talvez não seja vista como risco para a saúde. E professores de educação física como Rivera dizem que a maioria dos garotos quer conselhos sobre as maneiras mais saudáveis de ficar em forma, sem aditivos químicos.
 
Como tão pouco é sabido sobre os suplementos, pode ser difícil, especialmente para adolescentes, tomar decisões corretas.
 
Alonzo Huizar, 16, de Tucson, não soube dizer com precisão que suplementos de creatina ele toma. "Vou mudando. Costumo tomar um de sabor chocolate, dependendo do preço." Ele começou a levantar pesos aos 15 anos porque queria ganhar músculos para jogar futebol. "Mas eu também simplesmente queria ganhar peso de modo geral." Ele diz que gostaria de ter o corpo do jogador de futebol Cristiano Ronaldo.
 
Sua mãe, Ana, contou que preferiria que Alonso esperasse até ficar mais velho para treinar com pesos, mas que a pressão dos treinadores e dos outros garotos tornou isso impossível. "É uma coisa quase que imposta a eles: se você vai jogar futebol, tem que levantar pesos."
 
A maioria das meninas entrevistadas num estudo no Minnesota disse que também tinha mudado seus hábitos alimentares ou de exercícios físicos para ganhar massa muscular; 21% tomaram suplementos de proteínas e quase 5% usaram esteroides.
 
"Hoje o modelo de beleza feminina é algo mais tonificado e esculpido do que era uma geração atrás", explicou Marla Eisenberg, professora assistente de medicina pediátrica na Universidade do Minnesota e autora principal do estudo publicado na "Pediatrics". "Não se busca apenas a magreza, mas a magreza tonificada." Quem visita a página "Fitspo" no Facebook é saudado por uma modelo musculosa em cujo top está escrito: "Ser forte é a nova magreza".
 
Paradoxalmente, a ênfase sobre levantamento de pesos entre adolescentes pode estar reduzindo o número de participantes em concursos de fisiculturismo para adolescentes, porque muitos dos jovem não passam em exames antidoping. "Antigamente havia muitos fisiculturistas teens, mas hoje não se veem tantos", disse Andrew Bostinto, presidente da Associação Nacional de Ginástica. "Muitos desses teens usam aditivos químicos, então não podem participar. Hoje em dia você encontra garotos com 1,65 m ou pouco mais que pesam 120 kg e têm 2% de gordura corporal. Me poupe! Não é possível ganhar 14 kg em um mês."
 
Abusheikh, que tem 1,50 m de altura e pesa 56 kg, disse que não toma esteroides e preferiria não usar suplementos. Mas, em função de sua baixa estatura, precisava da massa extra para poder competir no concurso de fisiculturismo de sua escola. "Quero estudar engenharia mas, se não der certo, acho que vou poder ser personal trainer", disse ele.
 
Fonte Folhaonline

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