Conheça a modalidade que une malabarismo e corrida, deixa o corpo e a mente em forma e tem até campeonato mundial
Você conseguiria se imaginar correndo enquanto tenta impedir que três bolinhas atiradas para o ar e, tempos diferentes caiam no chão? Pois saiba que tem gente que pratica isso como exercício físico. Estamos falando de joggling. Isso mesmo, joggling (ou juggling, em inglês), ou seja, praticar jogging fazendo malabarismo. Ou seria praticar malabarismo fazendo jogging?
Quando era filho único na cidade rural de Kalkfeld, na Namíbia, a mãe o ensinou a fazer malabarismo com três bolinhas. Em pouco tempo, o jovem era capaz de fazer o exercício dançando com um bambolê.
“Eu nasci para aquilo”, afirma Hirschowitz, que passava horas depois da escola estudando os acrobatas e os palhaços de um pequeno circo itinerante.
O joggling começou depois de adulto, pois ele desejava ficar em forma. Como não queria parar de fazer malabarismo, chegou à conclusão de que poderia fazer os dois ao mesmo tempo.
“É muito chato ficar só jogando as bolinhas para o alto.”
Agora, ele criou a própria performance e muitos se referem a ele como o ‘joggler intelectual”.
“Fico lisonjeado em ser chamado assim, mas realmente não tento ter o melhor resultado”, diz.
Hirschowitz admite que adora a atenção que recebe e, durante o treinamento de malabarismo no Equinox ou pelo Central Park, o sorriso aberto e cheio de dentes de Hirschowitz surge tão branco quanto as bolas que joga para o alto. Quase todos que passam por ele fazem algum comentário. A exceção, claro, está no pelo grupo de distraídos que podemos chamar de “textantes” – caminhantes que não param de mandar mensagens de texto.
“As pessoas me chamam de Homem dos Malabares e gritam 'Lá vai o joggler'”, conta, destacando que durante uma corrida, a filha já usou uma camiseta com os dizeres: “Estou com o Joggler”.
Hirschowitz começou a misturar o malabarismo com o jogging no começo dos anos 1990, achando que isso era invenção sua. Mas então, descobriu que a atividade tinha nome e um grupo de praticantes.
O primeiro evento oficial foi realizado em 1981 pelo festival da Associação Internacional de Jogglers (IJA, sigla em inglês). Comandado por Bill Giduz, o editor da revista Juggler's World e inventor do termo, a Competição Mundial de Joggling logo ganhou seguidores. Em 1998 Hirschowitz foi a seu primeiro festival da IJA, em Primm, Nevada, onde os jogglers corriam em eventos que iam de 50 a 5000 metros.
“Não há muitas pessoas na categoria másters”, relata Hirschowitz, que já competiu em todas as categorias, incluindo “sprints"” (o chamado “tiro”).
“Sempre saio com medalhas de ouro, devo ter umas 20 ou 30.”
Albert Lucas, fundador da Federação Esportiva Internacional de Juggling, está tentando expandir o esporte por meio do registro dos resultados de competições, da criação de um arquivo histórico do esporte, e da padronização de sua prática.
“Muitos espectadores esperam nos ver com cabelo cor de laranja, nariz vermelho e sapatos de palhaço”, afirmou Lucas, que foi convidado por Fred Lebow para praticar o joggling na Maratona da Cidade de Nova York de 1987, depois que Lucas conquistou o primeiro recorde de joggling em maratonas no mesmo ano, em Los Angeles. Ele explicou que o joggling não tem a ver com fazer truques ou exibicionismo barato e por isso prefere o termo malabarismo esportivo.
“Em determinado ponto de minha carreira, precisei me perguntar se era artista ou atleta. Mas artistas não saem por aí quebrando recordes mundiais. Esse é o mundo dos atletas.”
Michal Kapral, do Canadá, é a pessoa mais rápida do mundo no malabarismo esportivo em maratonas, com um tempo de duas horas, 50 minutos e 12 segundos, e descreve a atividade como “um esporte marginal para lunáticos”.
“Sempre achei o termo joggling hilário”, afirmou.
Mas quando Kapral tentou praticar o esporte durante um evento beneficente, foi completamente fisgado. Kapral logo começou a trocar recordes com seu rival Zach Warren, um pesquisador do riso em Harvard, e ficou feliz por encontrar uma desculpa para “continuar agindo feito criança”.
“Pode até parece ridículo, mas assim como correr, o joggling é viciante”, afirmou Kapral, acrescentando:
“O movimento do malabarismo entra em perfeita sincronia com o balanço dos braços durante a corrida. Entro em uma espécie de transe, sem olhar diretamente para as bolas, mas através delas, para rua à minha frente.”
O joggling tem duas regras: o corredor precisa jogar ao menos três bolas durante todo o trajeto e, se uma bola cair, deve parar e recomeçar do mesmo ponto. Fora isso, vale tudo. Há recordes com cinco bolas. Além disso, é possível praticar o esporte com pinos, mas é complicado – facas não são aconselháveis e o malabarismo com pesos é só para os profissionais.
A maioria dos jogglers escolhe saquinhos recheados de alpiste do tamanho da palma da mão, leves o bastante para longas distâncias, mas pesados o suficiente para resistir ao vento. Segundo Hirschowitz, ele derruba em média quatro bolas ao longo dos 42,2 quilômetros da maratona, quase todas perto do fim.
“Depois de 32 quilômetros, começa a ficar difícil”, afirmou Hirschowitz, que já teve tendinite, bolhas nas mãos e dores nos pés.
O consultório dele está repleto de medalhas, fotografias de maratonas em molduras e pôsteres de juggling. Durante anos, utilizou o juggling como metáfora em um workshop de liderança que dava para outros médicos. Derrubar a bola, por exemplo, ensinava os participantes a aprender com os erros e fazer juggling com facas os encorajava a adotar tecnologias de ponta.
“Há florestas e árvores. É preciso encontrar o padrão no ar e, ao mesmo tempo, ficar atento a cada uma das bolas para consertar o movimento caso o padrão seja alterado.”
Durante a rotina semanal que inclui a coordenação da seção nova-iorquina da Associação Americana de Psiquiatria, 10 horas de joggling, cinco horas como professor e 40 horas de clínica, às vezes Hirschowitz usa roupas de corrida por baixo do terno, para facilitar a troca rápida de roupa.
Às terças à noite, treina com os Malabaristas da Rua Carmine, e trabalha na "borboleta", um movimento no qual muda um cilindro de acrílico de um braço a outro, antes de equilibrá-lo na testa. O psiquiatra já foi visto praticando o joggling com bolas azuis iluminadas durante a corrida Road Runners de Nova York, à meia-noite na virada do ano.
Perry Romanowski, químico cosmético que pratica o joggling em ultramaratonas e escreve um blog chamado "Just Your Average Joggler", estima que uma em cada 1.000 pessoas pratique o esporte nos Estados Unidos.
“A sensação de individualidade é ótima; ela ajuda a destacar as pessoas do mosaico que é a maratona”, afirma Richard Finn, porta-voz da Road Runners, que não aceitou as brincadeiras propostas pelo Guiness World Records: “Não somos um circo.”
O blog de Romanowski encoraja os jogglers a praticar a boa etiqueta durante a corrida, dando passagem aos demais corredores. “Muitos maratonistas irão detestá-lo”, escreveu, “sobretudo se você estiver à frente deles”.
Hirschowitz afirmou que as multidões costumam saudá-lo quando passa por eles, mas ele lembra que certa vez cruzou com um jovem na linha de chegada que disse: “Que vergonha! O que minha esposa vai pensar de mim quando vir que um malabarista chegou junto comigo?”.
“A maioria das pessoas pensa que eu correria muito mais rápido sem fazer malabarismo”, conta, acrescentando que seus braços ficam duros quando ele corre sem equilibrar as bolas.
“Mas, para ser sincero, a parte mais difícil é correr.”
Fonte iG
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