Endocrinologista britânico explica como a operação afeta o gosto por açúcar e gordura e fala sobre o futuro da redução de estômago
Carel Le Roux é um dos nomes mais importantes da área de metabolismo e cirurgia bariátrica em todo o mundo.
O médico, que recentemente participou do Congresso Mundial de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, em Maceió, acredita que a operação do estômago desponta como uma forma de prevenir o diabetes.
Le Roux lidera a equipe de controle de obesidade do Imperial College and King's College Hospital, em Londres. Uma de suas principais linhas de pesquisa investiga a mudança no paladar depois da cirurgia bariátrica.
“Antes da operação as pessoas dizem que sentem prazer em comer fast-food e comidas gordurosas, mas depois dela relatam satisfação em comer vegetais. Não é obrigação, mas sim gosto, elas têm prazer”, diz ele. Confira a entrevista:
Quais são as novidades nos tratamentos contra a obesidade?
Carel Le Roux: Antes pensávamos que as pessoas deveriam ou tomar medicamentos ou passar pela cirurgia. Hoje vemos que as coisas se complementam. Hoje vemos que a cirurgia é o melhor que podemos oferecer. Ela torna todas as coisas mais fáceis para o corpo: a pressão e a glicose melhoram. Mas se incluirmos os remédios, podemos ter mais benefícios. É como uma pessoa que tem câncer: o que se faz é tirar a parte doente, e depois tratar com quimioterapia, radioterapia, ou seja, com medicamentos. Juntando as duas terapêuticas estamos atacando a doença de diferentes ângulos e as chances de sucesso aumentam.
A combinação das duas coisas já está sendo empregada na prática?
Le Roux: Estamos apenas começando, mas isso ocorre porque estamos operando pessoas cada vez mais doentes e somente a cirurgia não tem sido suficiente. Se o paciente tem diabetes há 20 anos, por exemplo, só a cirurgia não será satisfatória. Então, se tratar com cirurgia e remédio vai perceber que será necessário muito menos remédio e o controle da doença será muito melhor. A cirurgia nos permite reduzir a quantidade de medicação e também fazer com que ela tenha melhor ação. Além disso, se o paciente está acima do peso e tem probabilidade de desenvolver diabetes, ou seja, tem histórico familiar da doença, ele pode passar pela cirurgia de forma preventiva. Neste ponto, você não vai precisar de remédios pós-cirurgia.
Então uma das aplicações da cirurgia seria mesmo a prevenção do diabetes?
Le Roux: Sim. Isso já está provado em um estudo recém-publicado com 2 mil pacientes, estamos muito confiantes. Mas também sabemos que são poucos os que serão tratados preventivamente. Já para aquelas pessoas que têm diabetes por cinco anos, por exemplo, e estão usando medicação, 40% serão curadas do diabetes somente com a operação, sem necessidade de remédio. Em 60% dos casos, no entanto, ainda precisarão de medicamentos. E também temos aquele grupo de pessoas que tem diabetes há 20 anos, eles têm problema na visão, nos rins ou até já tiveram um ataque cardíaco. Nesses casos, sempre precisamos incluir os remédios.
Uma das suas principais linhas de pesquisa é a mudança no paladar depois da cirurgia bariátrica. Isso realmente ocorre? Por quê?
Le Roux: Quando você prova alguma coisa, ativa três níveis de resposta. O primeiro é a sensação: se você toma um café adoçado, consegue me dizer se tem açúcar ou não. O próximo nível é a recompensa: ao beber café com açúcar, você gosta. E o terceiro é o fisiológico: ao colocar açúcar na boca, há produção de saliva. Se olharmos para os pacientes que passaram pela cirurgia de bypass, vemos que esses três níveis mudam.
Le Roux: Quando você prova alguma coisa, ativa três níveis de resposta. O primeiro é a sensação: se você toma um café adoçado, consegue me dizer se tem açúcar ou não. O próximo nível é a recompensa: ao beber café com açúcar, você gosta. E o terceiro é o fisiológico: ao colocar açúcar na boca, há produção de saliva. Se olharmos para os pacientes que passaram pela cirurgia de bypass, vemos que esses três níveis mudam.
Depois da cirurgia, se colocamos açúcar na água, por exemplo, os pacientes podem sentir o sabor de concentrações muito pequenas do doce. Então, em vez de colocar duas colheres de açúcar, agora ela precisa de apenas uma para ter a mesma sensação. O segundo ponto é a recompensa. E essa é a maior mudança que observamos. Antes, os pacientes contam que gastam muito tempo e energia pensando no que vão comer no almoço, ou no jantar. Depois da cirurgia, o mecanismo de recompensa ligado à comida muda. Eles não passam mais tanto tempo pensando em comida e comem menos.
Depois da cirurgia o terceiro nível (a fisiologia) também muda: quando a pessoa coloca açúcar na boca, produz menos saliva. É o corpo respondendo de forma menos intensa. As pessoas dizem que antes da operação sentem prazer em comer fast-food e comidas gordurosas, mas depois dela relatam satisfação em comer vegetais. Não é obrigação, mas sim gosto, elas têm prazer.
Como isso ocorre?
Le Roux: Ainda não sabemos exatamente qual é o mecanismo, mas achamos que pode estar relacionado com sinais que vêm do intestino. Este sinal vai para o cérebro, alguns são hormonais e outros nervosos, mas é definitivamente uma mudança nessa região.
Le Roux: Ainda não sabemos exatamente qual é o mecanismo, mas achamos que pode estar relacionado com sinais que vêm do intestino. Este sinal vai para o cérebro, alguns são hormonais e outros nervosos, mas é definitivamente uma mudança nessa região.
A mudança é observada somente nesse tipo de cirurgia?
Le Roux: O bypass foi a técnica mais estudada. A banda gástrica não tem esse efeito, por exemplo, e as outras parecem similares ao bypass.
Le Roux: O bypass foi a técnica mais estudada. A banda gástrica não tem esse efeito, por exemplo, e as outras parecem similares ao bypass.
A bariátrica despontou como forma de combater a obesidade e agora está virando uma ferramenta para combater distúrbios metabólicos. Como é trabalhar com essa mudança?
Le Roux: Eu diria que as pessoas procuram os cirurgiões porque querem ficar magras e felizes. Mas se perdem 20% ou 25% do peso, no fundo ainda são as mesmas. Então, não ficam mais felizes, mas se tornam mais saudáveis e funcionais. O que eu escuto no consultório é que agora essas pessoas podem fazer coisas como brincar com os filhos ou amarrar o próprio tênis. E isso é a maior recompensa: torná-las saudáveis e funcionais, e fazer uma grande diferença na qualidade de vida delas.
Le Roux: Eu diria que as pessoas procuram os cirurgiões porque querem ficar magras e felizes. Mas se perdem 20% ou 25% do peso, no fundo ainda são as mesmas. Então, não ficam mais felizes, mas se tornam mais saudáveis e funcionais. O que eu escuto no consultório é que agora essas pessoas podem fazer coisas como brincar com os filhos ou amarrar o próprio tênis. E isso é a maior recompensa: torná-las saudáveis e funcionais, e fazer uma grande diferença na qualidade de vida delas.
Fonte iG
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