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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Drogas internam 2,4 mil pessoas e custam 2,5 milhões por mês à Saúde de SP

Carlos Eduardo de Quadros / Fotoarena
Janaina e Gelson usaram crack por 10 anos e tiveram
dois filhos em meio a dependência
Número engloba dados de 2012 sobre pacientes hospitalizados de forma voluntária e compulsória
 
As internações hospitalares provocadas pelo uso de drogas e de álcool acarretam custos mensais de R$ 2,5 milhões ao Estado de São Paulo, mostra levantamento feito no banco virtual de dados mantido pelo Ministério da Saúde, o DataSus.
 
Entre janeiro e novembro do ano passado – último dado disponível – foram computadas 27.290 internações do tipo nos hospitais paulistas, com gastos totais no período de R$ 27,6, uma média de 2,4 mil doentes por mês.
 
No País todo, foram 97.228 hospitalizações em 2012, motivadas por uso de substâncias psicoativas (crack, cocaína, maconha, remédio e bebidas alcoólicas), que alcançaram a cifra total de R$ 107 milhões. Desde 2008 os dados deste tipo de internação são crescentes.


Internações por uso de drogas
Nos registros, estão englobadas pessoas hospitalizadas por vontade própria e também por decisão judicial, mecanismo chamado de internação compulsória. Esta hospitalização “à força” do paciente começou a ser implantada como política pública pelo governo do Estado de São Paulo nesta segunda-feira (21) aos usuários de crack que vivem no perímetro urbano da capital paulista chamado de Cracolândia.
 
No Rio de Janeiro, a mesma política já está em curso para crianças e adolescentes em situação de rua e que são usuários de crack.
 
Divisão
O método compulsório de internação divide especialistas. Os psiquiatras Dartiu Xavier, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e Carlos Salgado, da Associação Brasileira de Estudos para Álcool e Drogas (Abead) são exemplos das opiniões antagônicas sobre a utilização.
 
Xavier avalia que “internar à força frequentadores da Cracolândia é mais medida de higiene do que de saúde”. Já Salgado pondera que o filho de um médico ou advogado teria acesso à internação compulsória em unidades particulares, caso precisasse.
 
“Por que o indíviduo morador de rua não merece este esforço por parte do Estado?”, questiona, emendando: “Vale lembrar que todo esforço para o dependente químico que resulta em abstinência, ainda que por um curto período, abre uma janela para a mudança de comportamento e de atitude por parte do usuário”, defende Carlos Salgado.
 
Causas de morte
Mapeamento feito pela Unifesp mostrou que o Brasil acumula atualmente 2,6 milhões de usuários de crack e cocaína. Da mesma forma que os especialistas concordam que não é toda esta população que exige a permanência em leitos hospitalares como intervenção de saúde exclusiva, também é consenso entre os estudiosos que nem todos terão o livre arbítrio de procurar ajuda médica para tratar a drogadição antes de colocar a própria vida em risco ou das pessoas que convivem com este usuário.
 
“A internação compulsória deve ser exceção e não regra, indicada para 10% dos usuários. O que incomoda é a visibilidade das falências de todas as políticas públicas que os usuários da cracolândia deixam em evidência. Por isso, ganham força estas medidas higienistas”, afirma Dartiu Xavier.
 
“Vigora a falsa premissa de que a situação de miséria enfrentada pelos frequentadores da cracolândia é originária do crack. Já sabemos que o uso da droga é consequencia e não causa. Internar compulsoriamente sem tratar a origem do uso é caro e pouco eficaz. A pessoa vai voltar para a utilização compulsiva depois de ser hospitalizada”, pondera o psiquiatra, que trabalha com usuários da cracolândia paulistana.
 
Os impactos do crack ao organismo são diversos. A substância transforma o coração em bomba-relógio, mais vulnerável ao infarto e acidente vascular cerebral, já alertou a Academia Brasileira de Neurologia.
 
Apesar do corpo todo do dependente sofrer com as sequelas das pitadas do cachimbo, que podem viciar já no primeiro contato com a droga, a violência é a principal causa de morte entre os usuários, revelou estudo pioneiro feito com 170 moradores da cracolândia de São Paulo.
 
Nos programas de proteção às crianças ameaçadas de morte, mantidos pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, o uso de droga responde por metade das inclusões dos meninos e meninas na rede de proteção sigilosa. Entre os relatos, dívidas de apenas R$ 10 entre usuários infantis e traficantes são o suficiente para colocar os garotos na lista dos assassinos.
 
Porta de entrada
Por este motivo, os psiquiatras sabem que tratar a dependência química é mais do que oferecer medicamentos e leitos hospitalares. O próprio psiquiatra da Abead, que concorda com a internação compulsória como ferramenta de saúde, ressalta que determinar a hospitalização sem garantir uma rede eficaz de atendimento é inválido.
 
“Mais importante do que a forma como o paciente tem acesso ao tratamento médico, seja compulsória ou voluntária, é a qualidade do serviço médico que ele vai encontrar depois de ingressar no sistema de saúde”, reforça Carlos Salgado.
 
O casal Janaína e Gelson resume que a mistura entre acesso à medicina, ao emprego formal e à religião foi o que os fez deixar, após uma década de dependência química, os algarismos de 2,6 milhões de usuários de crack brasileiros. Por vontade própria, eles figuraram entre os 102 mil internados por drogas em 2011 e hoje não estão entre os 70% que acabam desistindo do tratamento clínico, conforme os levantamentos oficiais.
 
Fonte iG

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