Vacinação contra febre amarela em 2009;
casos mais comuns
são com vacinas contra outras doenças
|
O Tribunal Regional Federal do Rio Grande do Sul condenou a União, o Estado e
o município de Marau a pagar solidariamente uma indenização de 300 salários
mínimos (R$ 203 mil em valores atuais) por danos morais, R$ 3,6 mil por danos
materiais, além de uma pensão de 1 salário mínimo para mãe e filho, por conta da
morte do marido 5 meses após ele tomar vacina contra febre amarela. Cabe
recurso.
Em outra ação, a Justiça também determinou o pagamento de indenização por
dano moral de 200 salários mínimos (R$ 135 mil) a cada um dos pais e de 100
salários mínimos (R$ 67,8 mil) a cada um dos dois irmãos da vítima. Também cabe
recurso.
O pedreiro Claudinei Saggin, que na época tinha 33 anos, foi com a mulher
Maria José e o filho Gabriel, de 7 anos, tomar a vacina em uma campanha
convocada pelo governo em 2009 por conta de um surto de febre amarela que
atingia a região. Na época, 3,6 milhões de pessoas foram vacinadas no Estado,
com 6 casos de reação autoimune. Só o de Saggin evoluiu para morte.
Ele desenvolveu síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune caracterizada
por uma reação inflamatória exagerada que atinge o sistema nervoso periférico
(que atua nos membros superiores, inferiores, tórax e abdome).
A inflamação acarreta perda de força muscular até atingir a musculatura
respiratória. Os sinais iniciais são dormência e fraqueza nas pernas e braços,
dificuldade para respirar e engolir. Em Saggin, eles surgiram 5 dias após ele
tomar a vacina.
Num primeiro momento, Saggin foi apenas medicado. Os sintomas pioraram e ele recebeu o diagnóstico clínico de Guillain-Barré, o que foi confirmado com exames específicos após ele ser encaminhado para um hospital regional, em Passo Fundo.
Num primeiro momento, Saggin foi apenas medicado. Os sintomas pioraram e ele recebeu o diagnóstico clínico de Guillain-Barré, o que foi confirmado com exames específicos após ele ser encaminhado para um hospital regional, em Passo Fundo.
O pedreiro ficou meses internado no Centro de Terapia Intensiva, com
progressiva perda muscular. Maria José abandonou o emprego para cuidar do
marido, que morreu após três paradas cardiorrespiratórias.
Ainda não se conhece a causa específica da síndrome. Uma das hipóteses é que
a infecção aciona o sistema de defesa do organismo para produzir anticorpos de
maneira exagerada. Por isso, a vacina contra a febre amarela, assim como
qualquer outra, pode ser uma possível causa.
Caso raro
"A síndrome ocorre geralmente após infecção, cirurgia ou
vacinação. Os casos mais comuns acontecem após a vacina contra gripe, varicela,
sarampo, antirrábica e hepatite. A de febre amarela é menos comum", diz Marcos
Raimundo de Freitas, professor de neurologia da Universidade Federal Fluminense
(UFF).
Produzida em Biomanguinhos/Fiocruz há mais de 70 anos, a vacina de febre
amarela é exportada para vários países. Reinaldo Martins, consultor científico
da unidade, diz que a doença é gravíssima, com taxa de letalidade próxima de
50%.
"A Amazônia e parte do Centro-Oeste são áreas endêmicas. O vírus circula nas
florestas e isso é impossível controlar. A única forma de evitar é a vacina,
senão seria uma tragédia", diz.
Martins diz ainda que não há nenhum estudo na literatura científica que
sustente a associação da vacina contra febre amarela ao aparecimento de doença
autoimune. "A síndrome (Guillain-Barré) pode aparecer com ou sem vacina. A
vacina contra a febre amarela é questão de saúde pública fundamental para manter
a doença sob controle", diz.
"Há uma resistência geral em associar a síndrome à vacina. Essa é a tese da
defesa. Mas apresentamos laudos de uma junta médica que acusaram a ocorrência da
síndrome por causa da vacina", diz o advogado Vitor Hugo Oltramari, que
representa Maria José.
Freitas, da UFF, concorda. "Se ele (Saggin) foi vacinado até 30 dias antes e
teve Guillain-Barré, tem de relacionar. Não há dúvida."
O Ministério da Saúde e o governo gaúcho ainda não foram intimados da
decisão. O ministério informou que a vacina é segura e que, na época, o caso de
Saggin foi estudado pelo Comitê Institucional de Farmacovigilância de Vacina e a
análise não chegou a um resultado conclusivo: não confirmou nem descartou a
associação da síndrome à vacina. A reportagem não conseguiu contato com a
Prefeitura de Marau.
Fonte Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário