A expectativa de vida da população brasileira cresceu nos últimos
anos, mas os idosos estão vivendo com menor qualidade de vida, pois convivem por
mais tempo com doenças crônicas típicas de sua faixa etária.
Isso é o que
apontou uma pesquisa conduzida pelo médico geriatra Alessandro Gonçalves
Campolina, que faz parte de um estudo, chamado Sabe (Saúde, Bem-Estar e
Envelhecimento), que vem sendo desenvolvido na Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo (FSP-USP).
Campolina é autor da pesquisa que buscou avaliar a ocorrência de um processo
chamado de compressão da morbidade, ou seja, se o intervalo entre o aparecimento
da doença e a morte estava diminuindo e se o aparecimento da doença estava sendo
postergado para os últimos anos de vida. Para ele, a pesquisa demonstrou que, no
caso específico de São Paulo (Campolina acredita que esses números se assemelham
aos do restante do país, embora nenhum estudo semelhante tenha ocorrido em
outros lugares do Brasil), está ocorrendo um fenômeno oposto: a expansão da
morbidade o que, segundo ele, é um aspecto negativo, pois a população passa mais
tempo doente.
Em 2011, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
expectativa de vida ao nascer no Brasil era 74 anos e 29 dias, o que representou
um incremento de três anos, sete meses e 24 dias sobre o indicador de 2000.
Praticamente no mesmo período, entre 2000 e 2010, a pesquisa desenvolvida por
Campolina detectou que os idosos estão vivendo com menor qualidade de vida, pois
convivem por mais tempo com doenças crônicas típicas de sua faixa etária.
“Esse projeto é parte de um estudo maior, que é o Sabe, que vem acontecendo
na faculdade desde 2000. É um estudo populacional que tem uma amostragem das
diversas regiões representativas de São Paulo e que vem seguindo essa população
de idosos, com mais de 60 anos, desde 2000, fazendo avaliações periódicas e
incluindo novas populações de idosos para fazer comparação entre gerações. Em
2000 foram acompanhados 2.143 idosos, que passaram a ser seguidos pelo projeto,
em domicílio. Já em 2010 foi feita uma nova comparação”, explicou.
Segundo Campolina, a pesquisa avaliou o impacto das doenças crônicas que
acometem a população idosa em termos de expectativa e de qualidade de vida. “Se
as pessoas continuassem vivendo no estado em que elas estão agora, com as
doenças crônicas, as doenças seriam mais frequentes e haveria mais
comprometimento da qualidade de vida”, disse. Quando se fala de doenças crônicas
relacionadas à população idosa, explicou Campolina, a pesquisa refere-se
principalmente à hipertensão arterial, diabetes, às doenças cardíacas, à doença
pulmonar crônica, às doenças mentais, como depressão e demências, às doenças
articulares, como artrite e artrose, e às quedas.
Mas a pesquisa, de acordo com Campolina, também demonstrou que, caso fossem
desenvolvidas políticas públicas preventivas voltadas para a população idosa, a
situação poderia ser alterada. “O estudo fez a análise de outros cenários
possíveis, ou seja, se essas doenças fossem prevenidas. Isso mostrou que este
processo estaria sendo revertido. Aí a população ganharia mais anos de vida e
mais anos de vida saudáveis”, falou em entrevista à Agência
Brasil.
“Se houvesse estratégias que evitassem que as pessoas desenvolvessem a doença
cardíaca, por exemplo, praticando atividades físicas e tendo uma nutrição
adequada, você teria mais anos de expectativa de vida saudável. E se as pessoas
já têm a doença instalada e mesmo assim fizessem esforço para tratamento
adequado e controle dessa doença, também haveria um impacto positivo na
expectativa de vida saudável”.
Para Campolina, as políticas públicas de prevenção voltadas para os idosos
ainda “são insuficientes” no país. “A grande questão do estudo são as políticas
de prevenção e de controle das doenças crônicas. Uma questão que acho muito
importante é que nessa população específica de idosos, muitos acreditam que não
vale mais a pena fazer a prevenção. Há o preconceito de que as doenças já estão
instaladas, que as pessoas já estão no fim da vida, mas o estudo mostra
exatamente o contrário, inclusive nas pessoas de idade mais avançada. Se as
doenças fossem prevenidas e houvessem políticas de atividade física, nutrição,
combate ao tabagismo e controle dessas doenças com tratamento adequado,
provavelmente essa população viveria melhor, mesmo os mais idosos”, disse.
Fonte Agência Brasil
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