Pacientes com glaucoma sabem pouco da doença. É o que mostra uma pesquisa da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em parceria com o Jefferson Medical
College, da universidade norte-americana Thomas Jefferson, na Filadélfia. Os
pesquisadores entrevistaram 100 pacientes no Brasil e 183 nos Estados Unidos,
todos diagnosticados e em tratamento.
Os resultados foram alarmantes nos dois países. Nos Estados Unidos, 44% não
sabiam responder adequadamente o que é o glaucoma, no Brasil, a porcentagem é
maior, 54%. Ontem (26) foi comemorado o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma. A
data foi instituída para dar mais visibilidade à doença.
O oftalmologista Thiago Pacini não se surpreende com os dados, ele explica
que a doença é difícil de diagnosticar e de ser entendida pelo paciente. A
prevenção e o acompanhamento são fundamentais para que a doença seja controlada
e o paciente não perca a visão. "O tratamento do glaucoma é caro e diário e pode
ter efeitos colaterais. O uso do colírio pode deixar o olho vermelho, pigmentar
a pele, criando olheiras e até mesmo pigmentar o olho. Como não sentem nada, os
pacientes param de usar os colírios e isso é um grande problema. O tratamento é
algo que deve ser feito até o fim da vida e do qual não se pode abrir mão".
A pesquisa mostra também que 30% dos americanos não sabiam porque usavam as
medicações e 45% não sabiam os valores considerados normais de pressão
intraocular. Entre os brasileiros, mais da metade, 54%, desconheciam o porquê do
uso dos medicamentos e 80% não sabiam os valores adequados da pressão do
olho.
O glaucoma ocorre quando a pressão elevada no interior do olho, no decorrer
de alguns anos, danifica as fibras nervosas do nervo óptico. Se não tratada a
tempo, o glaucoma pode causar cegueira. A doença não tem cura, mas pode ser
controlada com tratamento adequado e contínuo. De acordo com a Associação
Brasileira dos Amigos, Familiares e Portadores do Glaucoma, no Brasil, 1 milhão
de pessoas são portadoras do glaucoma. A doença é silenciosa, em 80% dos casos
não apresenta sintomas no estágio inicial.
Pacini reforça a necessidade de acompanhamento desde cedo. "Criança tem que
ir no médico. Com 1 ano tem que levar no oftalmologista e saber se tem algum
fator de risco. Aqueles que apresentarem algum desses fatores devem ir ao médico
pelo menos uma vez por ano para medir a pressão intraocular, avaliar o nervo
óptico e se tiver alguma alteração, fazer exames para identificar já no estágio
inicial".
Os fatores de risco do glaucoma são idade a partir dos 40 anos, hipertensão
arterial, miopia elevada, raça negra e hereditariedade. Os tratamentos
atualmente são diversos, podendo ser feitos por meio de comprimidos, colírio,
lasers ou cirurgias. Segundo o Ministério da Saúde, 95% dos tratamentos de
glaucoma são feitos em regime ambulatorial, com uso de colírio.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento integral à doença desde
2011, quando o Ministério da Saúde passou a distribuir colírios para o combate
ao glaucoma. Um colírio não genérico custa em média R$ 100.
O glaucoma é a segunda causa de cegueira no mundo, segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS). O portador que não trata a doença começa perdendo a
visão periférica. Os danos causados aos nervos não são reversíveis. O arquiteto
e urbanista Renato Barbato perdeu a visão por causa da doença. Apesar de ter
sido diagnosticado cedo, aos 15 anos, o tipo de glaucoma era grave. Ao todo, ele
passou por cerca de doze cirurgias, até que, já com mais de 40 anos, perdeu a
visão.
Barbato sempre estudou muito o glaucoma e tirava as dúvidas que tinha com os
médicos. Ele fez o tratamento e conseguiu retardar a cegueira. "Tem que cuidar,
não desanimar, fazer o que os médicos mandam. Evitar cigarro e bebidas. E não
ter a ilusão de que volta, o que perder não volta mais", recomenda para quem
tiver a doença.
Fonte Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário