Reprodução/Thenewyorktimes Reconstrução dos seios acarreta riscos |
A revelação foi elogiada por alguns ativistas como uma decisão ousada, que
irá inspirar as mulheres a serem proativas, a investigarem seus riscos e
históricos familiares e a cogitarem fazer exames genéticos.
Ao mesmo tempo, alguns cirurgiões temem que as pessoas fiquem com a impressão
de que a cirurgia reconstrutiva é um procedimento rápido e fácil.
Para a maioria dos pacientes, a reconstrução de mama exige uma série de
operações prolongadas e retornos médicos. Os resultados podem ser variáveis.
Algumas mulheres experimentam tantas complicações que acabam precisando retirar
seus implantes.
Jolie disse que concluiu suas cirurgias reparadoras em nove semanas, mas,
para muitas pacientes, o processo dura mais de nove meses. "Três meses é um
pouco incomum", disse Gregory Evans, presidente da Sociedade Americana de
Cirurgiões Plásticos. "Normalmente, digo às minhas pacientes que vai levar cerca
de um ano."
Mesmo com um ótimo cirurgião plástico, a reconstrução de mamas acarreta
riscos de infecção, hemorragia, complicações da anestesia, cicatrizes e dores
persistentes nas costas e ombros. Os implantes podem estourar ou vazar, exigindo
uma substituição. Se o tecido é transplantado de outras partes do corpo para as
mamas, haverá incisões adicionais que precisarão cicatrizar. Se algum músculo
for removido, pode haver fraqueza em curto prazo.
Uma síndrome chamada disfunção do quarto superior --com sintomas que incluem
dor, restrição da mobilidade e redução da sensibilidade e da força-- foi
relatada em mais de metade das sobreviventes de câncer de mama. Essa síndrome
pode ser ainda mais frequente em pacientes que se submetem à reconstrução do
seio, segundo um estudo de 2012 na revista "Cancer".
"As pessoas precisam entender que não é uma brisa", disse Geri Barish, que já
sobreviveu a três tumores de mama. "Não quero que as pessoas pensem que essa é a
panaceia, que é isso aí, vá correndo fazer o exame e retire seus ovários e
seios."
Com uma variedade de novas técnicas disponíveis, cada uma com seus próprios
riscos e potenciais benefícios, a escolha pode ser difícil. A primeira decisão
na reconstrução mamária é colocar implantes ou criar um novo seio a partir de
músculos ou de gordura e pele retirados de outras partes do corpo,
frequentemente o abdome --a chamada transferência autóloga de tecidos. Os
cirurgiões plásticos estão mais familiarizados com os implantes, e o
procedimento é mais barato que a transferência de tecidos.
Sejam implantes salinos ou de silicone, até metade dos implantes precisa ser
retirada ou substituída em dez anos, segundo a Sociedade Americana do Câncer. Os
implantes podem romper, infeccionar e causar dores. Escaras costumam se formar
em torno deles, deixando o seio duro ou desfigurado.
Com as transferências autólogas, alguns cirurgiões acham que o resultado é
mais natural à vista e ao tato. Há várias opções, cada uma com riscos que
incluem fraqueza muscular e morte dos tecidos.
A reconstrução dos mamilos é um antigo desafio. Os cirurgiões usam escaras da
incisão ou tecido retirado da virilha ou entre as nádegas para criar mamilos.
Tatuagens também são usadas para escurecer a aréola, com tatuagens 3D que criam
a impressão de um mamilo.
Na mastectomia que poupa mamilo e pele, o cirurgião remove todo o tecido da
glândula mamária, mas preserva a pele, a aréola e o mamilo --como se retirasse
os gomos de uma laranja e preservasse a casca.
Porém, mesmo quando isso dá certo, os mamilos costumam se tornar insensíveis
e não podem mais desempenhar o mesmo papel na excitação sexual.
Células mamárias residuais podem ficar para trás. Há a preocupação de que
elas possam se tornar cancerosas.
Uma potencial complicação na cirurgia que poupa o mamilo é a necrose do
mamilo e da aréola, o que, segundo um estudo recente, atinge um quarto das
pacientes, exigindo novas cirurgias
Qualquer que seja o procedimento adotado, as infecções são uma complicação
comum, exigindo tratamento agressivo com antibióticos e, muitas vezes, cirurgias
para retirar os implantes. Um estudo de 2012 estimou que infecções ocorrem em
até 35% dos procedimentos reconstrutivos na pós-mastectomia.
A multiplicidade de opções e as incerteza sobre qual cirurgia é a mais
apropriada para determinada paciente faz com que as decisões sobre a mastectomia
preventiva tornem-se cada vez mais difíceis.
A cirurgia mamária reconstrutiva de Roseann Valletti foi um sucesso sob
praticamente todos os ângulos. Mas ela se sente desconfortável o tempo todo.
"Parece que estou enrolada em fita crepe", disse Valletti, 54, referindo-se
ao aperto no peito que muitas mulheres descrevem depois da reconstrução.
"O aspecto deles é incrível", acrescentou Valletti, professora que mora em
Valley Stream (em Nova York) e soube há cinco anos que tinha câncer em estágio
inicial em ambas as mamas. "Mas nunca vai dar a sensação de que não está puxando
e não está apertado. Levei um tempo para aceitar isso. Esse é o novo normal."
Fonte The New York Times/Folhaonline
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