Sempre rodeada de medos e mitos, a contracepção contínua já não é mais o bicho de sete cabeças que durante muitos anos levantou polêmicas. Se, antes, pensava-se que se livrar dos transtornos "daqueles dias", parando de menstruar, seria um risco para a saúde feminina e uma afronta à natureza da mulher, hoje a história tomou outros rumos.
Grande corrente de médicos já recomenda, em seus consultórios, que pacientes que sofrem com a menstruação — sofrem com cólicas, inchaços ou mesmo tensão pré-menstrual (TPM) e não se adaptam ao sangramento — interrompam de vez o ciclo regular. Mesmo com o respaldo dos doutores, as brasileiras não estão tão convencidas disso e, apesar de sonharem com o "fim daqueles dias", ainda têm um pé atrás para se livrar do sangramento.
Essa vontade freada pela desconfiança foi mostrada em uma pesquisa do Instituto Resulta, feita em 2011, em quatro capitais do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Foram entrevistadas 340 mulheres de 18 a 30 anos, e o resultado surpreendeu: a cada 10, quatro declararam que gostariam de não menstruar, para se livrar das cólicas, desconfortos e todos os sintomas da TPM.
No entanto, mesmo que 40% se mostrem incomodadas, apenas 19,3% revelaram já ter feito uso do método de contracepção contínua, que existe há 10 anos no país. A pequena porcentagem se justifica quando os pesquisadores apontam que 71,9% das voluntárias afirmaram desconhecer tratamentos que interrompem a menstruação. A desconfiança está, de acordo com o estudo (45% das participantes), relacionada ao medo de efeitos colaterais da contracepção contínua.
— Há muitas crenças a respeito disso, mas asseguramos que os métodos são seguros — assegura Eliano Pellini, membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
— Para quem pretende adiar a gravidez, tem na família histórias de miomas (fenômenos ligados à endometriose) ou são mães que precisaram retirar o útero, parar de menstruar vai protegê-las — defende Pellini, citando ainda as mulheres que se sentem muito mal com a menstruação, com dores de cabeça e cólicas fortes.
Segundo a Febrasgo, 25% das mulheres do país sofrem com TPM intensa. O dispositivo intrauterino, o DIU, de acordo com Pellini, cessa a menstruação, mas não alivia a mulher desse mal. As pílulas, nesse caso, atuam melhor: os comprimidos de uso contínuo são poucos no mercado e, segundo o especialista, muitas acabam emendando cartelas de 21 dias para parar de menstruar — o que não faz mal, mas não é o recomendado. Com os anticoncepcionais de 21 dias as mulheres fazem pausa de sete dias, para assim menstruar.
— Esse intervalo não traz nenhum benefício, ao contrário, há mais desvantagens — salienta o presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Febrasgo, Rogério Bonassi.
Fonte Zero Hora
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