Apneia pode acarretar males como hipertensão, diabete tipo 2 e acidente vascular cerebral
Pacientes que roncam e foram diagnosticados com apneia leve têm agora mais uma opção de tratamento. Um microchip implantado no fundo do céu da boca, o chamado palato mole, por meio de um procedimento minimamente invasivo, promete reduzir em até 80% o ruído do ronco.
Estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que 33% dos moradores de São Paulo sofrem de apneia do sono, caracterizada pela interrupção momentânea da respiração enquanto a pessoa dorme. Há estimativas que indicam que 50% da população em geral tenha o problema, que pode acarretar males como hipertensão, diabete tipo 2 e acidente vascular cerebral.
O implante palatal é comercializado com o nome Pillar e é fabricado pela Medtronic. A técnica, já usada na Europa e nos Estados Unidos, foi aprovada recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Cada unidade custa cerca de US$ 200 — são usadas de três a cinco implantes em cada paciente.
Nesta semana, a técnica será apresentada por médicos do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital São Camilo, em São Paulo, durante um curso sobre diagnóstico e tratamento da apneia obstrutiva do sono.
Segundo José Antonio Pinto, chefe do serviço de otorrinolaringologia do São Camilo, a técnica é uma boa opção para pessoas com grau leve de apneia do sono, que é caracterizada por cinco a 15 interrupções da respiração por hora. A apneia moderada ocorre quando o sono é interrompido de 15 a 30 vezes e a grave quando é acima de 30.
De acordo com o especialista, a técnica usa minúsculos implantes de polietileno — um tipo de plástico usado na área cirúrgica e em outros enxertos. No consultório, o paciente recebe anestesia local ou sedação e, por meio de uma pistola especial, os implantes são aplicados no fundo do céu da boca, onde ocorre a maior vibração.
Em geral, são usados três implantes e o procedimento dura 20 minutos. Até agora, cinco pacientes do São Camilo receberam o implante, mas ainda não é possível avaliar os resultados porque o procedimento foi realizado recentemente.
Técnica é contestada por médicos
A explicação para a eficácia dos implantes, segundo os criadores da técnica, é que eles produzem uma reação na região onde a cirurgia é feita, gerando uma fibrose, cicatrização que enrijece o tecido e, consequentemente, reduz o ronco.
O paciente retoma as atividades normais em seguida e consegue se alimentar normalmente após alguns dias, sendo indicada alimentação líquida no período pós-cirúrgico. Nas primeiras semanas, pode ser necessário tomar algum analgésico para reduzir o inchaço.
— Fica uma sensação de corpo estranho na garganta, mas some rápido — garante José Pinto.
Para a médica Lia Bittencourt, que coordena o Instituto do Sono, os resultados com o implante palatal não são tão eficazes quanto o uso do CPAP (aparelho que impede o fechamento da garganta durante o sono) e do aparelho intraoral (tipo de mordedura de silicone que mantém a boca do paciente fechada durante o sono e que puxa a mandíbula para a frente).
— O uso do CPAP é melhor para todos os casos, mas nem todos os pacientes aderem. Não está totalmente comprovado se o implante palatal realmente ajuda a regularizar as interrupções da respiração para menos de cinco vezes por hora de sono. Por isso, ainda não usamos — diz.
O otorrinolaringologista Michel Cahali, do Hospital das Clínicas de São Paulo, conhece a técnica e diz ter uma impressão ruim sobre sua eficácia:
— Aparentemente, o implante seria eficaz para reduzir o barulho do ronco, mas teria eficácia quase zero para tratar apneia. E menos de 5% dos pacientes têm ronco sem apneia associada.
Para Cahali, ainda é necessário que sejam realizadas mais pesquisas na área para demonstrar que o implante é realmente uma boa alternativa, especialmente por causa do preço.
— Não é um procedimento novo. Nos EUA deve ser usado desde 2004, mas a difusão ainda é baixa porque a tecnologia é cara.
Vale lembrar que o ronco — que afeta grande parte da população — traz uma série de problemas de saúde, e pode influenciar nos níveis de colesterol e glicose no sangue e, ainda, fazer com que as artérias envelheçam mais rapidamente, levando ao infarto.
Causas do ronco
:: Flacidez nos músculos da boca e da garganta
:: Amídalas e adenoides hipertrofiadas
:: Desvio do septo
:: Pólipos no nariz
:: Palato em forma de ogiva
:: Rinite, sinusite e obstruções nasais
:: Queixo retraído
:: Envelhecimento
Fatores de risco
:: Estar acima do peso
:: Ingerir bebidas alcoólicas
:: Usar de remédios para dormir ou de calmantes
:: Dormir de barriga para cima
:: Comer demais ou comer pratos pesados antes de dormir
:: Ter refluxo gastroesofágico
:: Fumar
Fonte Zero Hora
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