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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Vacina contra Aids: novos paradigmas

Por Instituto Oswaldo Cruz
 
Artigo publicado na revista científica ‘Nature’ aponta que é possível percorrer um novo caminho, uma nova abordagem, que ainda não tinha sido suficientemente validada por pesquisadores 
 
Artigo publicado na revista científica Nature no dia 30 de setembro representa a abertura de um novo paradigma na busca de uma possível vacina para o HIV. Até agora, os estudos buscavam uma abordagem focada nos anticorpos contra a síndrome. O estudo liderado por David Watkins (Universidade de Miami) com colaboração de quatro brasileiros usa como foco uma abordagem celular, tendo como alvo as células T CD8. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) integra o esforço de pesquisa, que conta com quatro brasileiros.
 
“Com este artigo, nosso grupo está apontando que é possível percorrer um novo caminho, uma nova abordagem, que ainda não tinha sido suficientemente validada”, afirma a pesquisadora Myrna Bonaldo, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e uma das colaboradoras do projeto, juntamente com Ricardo Galler (pesquisador de Bio-Manguinhos/Fiocruz), Marlon Santana (bolsista do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC/Fiocruz) e Maurício Martins (brasileiro que atua na Universidade de Miami, na equipe de David Watkins).
Gutemberg Brito
 
Myrna Bonaldo, do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC, e o joven Marlon Santana, bolsista do laboratório: novo caminho para uma possível vacina contra a Aids

Alvo celular
As células T CD8 protetoras estão associadas ao processo de controle da carga viral que ocorre nos chamados ‘controladores de elite’, aqueles indivíduos que apresentam uma limitação espontânea da replicação do HIV no organismo. Quando o vírus se replica menos, o adoecimento é evitado: apesar de possuir o HIV, a pessoa não desenvolve o conjunto de sintomas que caracterizam a Aids. No complexo processo imunológico envolvido na doença, as células T CD8 atuam com função citotóxica: elas são verdadeiras células assassinas matando as células T CD4 infectadas com o HIV, que atuam como ‘fábricas’ onde o HIV se replica.
 
“Muito provavelmente os controladores de elite no homem tenham células T CD8+ com atividade de destruir células infectadas pelo HIV e este seria o mecanismo responsável pelo controle. O próximo passo será descobrir o que torna estas células citotóxicas tão eficazes”, afirma Watkins, que atua como pesquisador visitante na Fiocruz e na USP. “Uma em cada 300 pessoas com Aids integra o grupo dos chamados ‘controladores de elite’. O entendimento deste mecanismo poderia dar pistas de como desenvolver uma vacina efetiva”, complementa. Uma das novidades do estudo publicado na Nature foi identificar que os ‘controladores de elite’ controlam a carga viral ao gerarem uma vigorosa resposta imune mediada por células T CD8 protetoras.
 
No estudo publicado na Nature, os cientistas tinham como objetivo comprovar que as células T CD8 controlam a replicação do vírus, independentemente da produção de anticorpos. “A intenção não era medir a capacidade de proteção desta ou daquela substância, mas comprovar que uma ação sobre a produção de células T CD8 seria uma alternativa interessante para pensarmos no caminho para o desenvolvimento de uma possível vacina”, Myrna situa.
 
Para testar a validade da abordagem celular, os pesquisadores utilizaram dois grupos de macacos rhesus. Um grupo recebeu diferentes compostos indutores de produção de células T CD8 protetoras. O outro grupo foi utilizado como controle, para permitir a comparação dos dados. Todos os primatas foram inoculados com o vírus SIV (o vírus específico de símios que é capaz de provocar um quadro análogo à Aids), seguindo o modelo experimental utilizado em todo o mundo nos estudos sobre a doença.
 
Engenheira de vacinas
Foi neste momento que entrou a contribuição da Fiocruz. A pesquisadora Myrna Bonaldo é uma ‘engenheira’ de novas vacinas: segundo um método inventado e patenteado pela Fiocruz em 2005, a pesquisadora utiliza a vacina da febre amarela (uma vacina de vírus atenuado utilizada desde 1937 e comprovadamente segura e eficaz, cujo principal fabricante mundial é a Fiocruz) como uma ‘plataforma’, na qual introduz modificações genéticas que poderão servir como imunizantes para outras doenças. Segundo esta estratégia, ela tenta produzir vacinas para malária, doença de Chagas e Aids. Para isso, corta e cola trechos de DNA, num processo complexo e cheio de etapas. Seu ajudante nesta tarefa é Marlon Santana, estudante de graduação em Farmácia que teve o sonho de publicar na Nature precocemente concretizado.
 
O resultado positivo publicado na ‘Nature” é fruto da parceria a equipe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC e outras instituições de pesquisa internacionais
 
O grupo da Fiocruz produziu em laboratório três formulações de compostos indutores de produção de células T CD8 protetoras que foram empregados nos testes com macacos divulgados na revista Nature. Em cada formulação, foram utilizados diferentes trechos do vírus HIV, identificados como potenciais para alvos em estudos anteriores. Os testes em primatas utilizaram ainda uma terceira formulação, baseada na vacina de adenovírus, preparada pelo grupo de Miami, além das duas baseadas na plataforma da vacina de febre amarela, preparadas pelo grupo da Fiocruz.
 
“O trabalho tem um mecanismo de base celular, mediante o estímulo de produção de células T CD8. Este é um conhecimento que contribui para que se descubra o que é importante no desenvolvimento de uma vacina eficaz. Entretanto, é prematuro demais falar em uma potencial formulação de vacina”, Myrna pontua.

Resultados
Em comparação com o grupo controle, o grupo de primatas que recebeu os compostos indutores de produção de células T CD8 apresentaram importante redução na replicação do vírus – num processo semelhante ao que acontece de forma espontânea nos indivíduos ‘controladores de elite’. Além do sangue dos animais, amostras de órgãos e tecidos foram analisados. A redução da carga viral do SIV foi encontrada em todos os macacos durante a fase aguda da infecção. Em relação ao grupo controle, a replicação viral foi reduzida em mais de 10 vezes na fase aguda.
 
Para observar a fase crônica, os primatas foram acompanhados ao longo de 50 semanas e o resultado de baixa replicação viral foi observado de forma sustentada ao longo deste período. Em comparação ao grupo controle,a redução na carga viral foi de até mil vezes.
 
Em todos os animais testados, a redução da carga viral aconteceu na fase aguda. Na fase crônica, em apenas dois animais que receberam os compostos o vírus começou a replicar. Quando foram investigar o que houve nestes dois casos, os pesquisadores descobriram que aconteceram mutações no vírus SIV em regiões que eram ‘reconhecidas’ pelos compostos indutores de produção de células T CD8 protetoras. “Nossos dados indicam que o vírus escapou do controle destas células por mutações e isto fez com que a carga viral voltasse a ser alta. Ocorreu um mecanismo de escape do vírus SIV”, David esclarece.

Divulgação
Liderado por David Watkins (Universidade de Miami), o estudo aponta um novo caminho possível, não mais focado em anticorpos, mas em controle da replicação do vírus mediante a indução da produção de células T CD8 protetoras pelo organismo.
 
“Nosso estudo aponta um novo caminho possível, não mais focado em anticorpos, mas em controle da replicação do vírus mediante a indução da produção de células T CD8 protetoras pelo organismo. É como se, na rodovia do estudo de vacinas para a Aids, estivéssemos fixando uma placa nova, apontando para um novo caminho, baseado na abordagem celular”, Myrna sintetiza.
 
A descoberta contribui para que se descubra o que é importante no desenvolvimento de uma vacina eficaz, mas ainda é cedo para falar em uma potencial formulação de vacina.
 
Watkins também é cauteloso. “Há 30 anos se procura uma vacina para a Aids. Este é um percurso difícil e ainda temos muito chão a percorrer. Trata-se de um vírus com altíssima variabilidade genética, portanto é com se tentássemos atingir um alvo que se movimenta. Uma vacina eficaz provavelmente precisará incluir duas abordagens: tanto a de anticorpos neutralizantes quanto a de produção de células T CD8 protetoras”, o especialista pondera.
 
As atividades do projeto desenvolvidas pelos pesquisadores da Fundação contam com recursos da Fiocruz e com apoio da Faperj e do CNPq e faz parte do instituto Nacional de Ciencia e Tecnologia em Vacinas (INCTV). O grupo internacional colaborativo de pesquisa liderado por Watkins foi recentemente contemplado com um auxílio financeiro de US$ 10 milhões do NIH dos Estados Unidos (National Institutes of Health’s National Institute of Allergy and Infectious Diseases) para o desenvolvimento de uma vacina candidata contra o HIV a partir do vírus vacinal da febre amarela.
 
Fonte SaudeWeb

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