Economista mundial da Saúde descreve três modelos básicos em voga: Paternalista, Informado e Compartilhado – todos praticados de acordo com as particularidades de cada caso a ser tratado
É natal, os shoppings estão preparados para o consumo, e a mãe diz à criança apontando para os mais variados tipos de brinquedo. – Pode escolher o que quiser! O olho brilha diante de tantas cores, formas e tamanhos. As múltiplas opções foram dadas e, agora, é com o “pequeno”. Essa pode ser uma das formas de relação entre o médico (mãe) e o paciente (filho) – muitas vezes não tão prazerosa – denominada Modelo Informado, por Amiram Jacob Gafni, eleito pelo Banco Mundial um dos cinco economistas da Saúde mais influentes do mundo.
Atento à evidente busca dos pacientes pelo maior envolvimento na hora de decidir seu tratamento, Gafni reconhece a complexidade das relações e elenca três modelos básicos: o Paternalista, em que o médico determina a conduta; o Informado, em que o paciente conhece seu diagnóstico e, exposto às opções de tratamento, escolhe o melhor segundo seu julgamento; e o Compartilhado, quando o paciente, munido de informações clínicas, e o médico, a par de todo o contexto pessoal do indivíduo em tratamento, entram em um consenso sobre os próximos “passos”.
De acordo com o economista e também professor do Departamento de Epidemiologia Clínica e Bioestatística da McMaster University, no Canadá, e membro do Centre for Health Economics and Policy Analysis (CHEPA), os três modelos, entre muitos outros, coexistem e são colocados em prática de acordo com o perfil de cada caso, tendo relação direta com aspectos comportamentais, culturais, etários e estruturais do sistema de saúde local.
“Por exemplo, a decisão tomada por uma paciente do Canadá com câncer de mama, semelhante a uma brasileira, pode ser diferente”, explica Gafni, supondo que uma senhora canadense poderia preferir a Mastectomia (remoção completa da mama) ao invés da Lumpectomia (retirada de parte da mama, com sessões de radioterapia) por habitar em um país frio e, portanto, habituada a roupas invernais e por ter um marido que a apoie. Já uma brasileira, que costuma usar roupas mais leves devido ao clima, poderia escolher pela Lumpectomia.
“É típico ver países como o Brasil procurando soluções fora. Mas, para mim, elas devem sempre ser construídas dentro de “casa”. O Brasil é muito diferente, possui um mix de culturas e um sistema de saúde particular, dividido entre público e privado”.
Incongruências
Entretanto, apesar das inúmeras diferenças envolvidas, há dois cenários em comum acontecendo em países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Brasil, entre muitos outros. De um lado, os médicos são pressionados a atender cada vez mais pacientes e, para isso, o modelo paternalista é mais fácil e rápido. Enquanto, do outro, os pacientes estão cada vez mais informados e questionadores, demandando um atendimento mais personalizado, ou seja, mais próximos aos modelos Informado e Compartilhado.
O impacto nos custos, segundo Gafni, ainda não está claro, entretanto, para ele é óbvio que “se você quer reduzir custos, não fornece opções de escolha às pessoas.”
A sociedade é peça fundamental nesse contexto antagônico, em que questões sociais e econômicas estão fortemente entrelaçadas. “Nos Estados Unidos, por exemplo, muitas mulheres que tiveram câncer de mama começaram a se mobilizar, pois estavam sentindo que os médicos não ligavam para seus interesses. Elas começaram a pedir mais envolvimento e conseguiram”, enfatiza, deixando evidente que os modelos podem ser aplicados de acordo com a área da medicina e suas necessidades.
O movimento “Não Decida Sem Mim”, na Inglaterra, que prega o envolvimento do paciente nas questões de seu próprio tratamento, está ganhando força, segundo o economista.
Postura médica
A complexidade das resoluções humanas impõe um grande desafio ao médico que, de acordo com o professor, precisa ser sensível e flexível em relação ao paciente para, assim, criar um ambiente onde possa sentir a abertura para uma relação de parceria e igualdade. “O consenso entre os dois não é fácil de atingir. A decisão compartilhada nem sempre vai acontecer”, diz o economista, esclarecendo que o modelo paternalista não vai morrer, pelo contrário, ele é propício para casos bastante graves, em que muitos pacientes preferem não se envolver e deixar a decisão nas mãos do médico.
Para colocar em prática tal amadurecimento nas relações entre médico e paciente, Gafni apoia-se na força da educação, voltada tanto para o médico como para o paciente. O professor tem trabalhado em documentos que ensinam os profissionais a explicar, em linguagem simples, todas as possibilidades de escolha da pessoa em tratamento.
Modelos
Paternalista: o médico determina a conduta, podendo ser de forma autoritária ou por escolha do paciente, que geralmente acontece em casos bastante graves.
Informado: em que o paciente conhece seu diagnóstico e é exposto às opções de tratamento, incluindo possíveis resultados satisfatórios e contra-indicações, podendo conversar com familiares e amigos para a decisão final.
Compartilhado: relação de parceria e confiança estabelecida entre os dois. O paciente é munido de todas as informações clínicas – incluindo possíveis resultados satisfatórios e contra-indicações – e o médico também fica sabendo do histórico e preferências do “doente” para, juntos, decidirem o tratamento a ser seguido.
Fonte SaudeWeb
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