Resultados divulgados nesta quinta-feira, 6, mostram que 54,5% dos estudantes avaliados não acertaram mais de 60% das questões. Avaliação foi boicotada por egressos da Unicamp
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) divulgou nesta quinta-feira, 6, os resultados do exame destinado a estudantes recém-formados em cursos de medicina no Estado de São Paulo. Realizada desde 2005, a prova era opcional até o ano passado e, pela primeira vez, foi realizada de forma obrigatória.
Dos 2.943 estudantes recém-formados inscritos, 71 não compareceram (2,4 %), 347 se formaram em outro Estado (11,7%) e outros 114 (3,8 %) boicotaram a prova, assinalando em todas as questões a letra “b” ou apresentando respostas inconsistentes. Foram considerados válidos, então, 2.411 exames (81,9 % do total). Apesar do caráter obrigatório da prova, o não comparecimento – e o boicote -, não impedem os estudantes de obterem o registro profissional.
O resultado do exame mostra que mais da metade dos estudantes avaliados, ou 54,5%, foram reprovados, ou seja, não acertaram mais do que 60% das questões. A prova continha 120 questões das seguintes áreas de conhecimento: Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Pediatria, Ginecologia, Obstetrícia, Saúde Mental, Epidemiologia, Ciências Básicas e Bioética.
Para Renato Azevedo Jr., presidente do Cremesp, o resultado do exame é preocupante. “Quem não acertou 60% da prova tem graves problemas na formação e terão problemas no atendimento médico”. Bráulio Luna Filho, coordenador do exame, avalia como “lamentável” os resultados.
Áreas consideradas cruciais para a prática da medicina tiveram média geral de acerto abaixo dos 60%, como Clínica Médica (53,1%) e Saúde Pública (46,1%). Outras áreas de conhecimento avaliadas tiveram as seguintes médias de acerto: Saúde Mental (41%), Pediatria (55,5%), Ginecologia (55,4%), Ciências Básicas (61%), Obstetricía (63,1%), Clínica Cirúrgica (66,7%) e Bioética (66,9%). Os estudantes de faculdades públicas tiveram um índice de acerto de 63,74% de acertos, ao passo que os alunos de instituições de ensino privadas alcançaram um índice de 54,38%.
Os alunos receberão, confidencialmente, os resultados de seus exames e as universidades, os dados gerais de seus estudantes avaliados, sendo preservada a identidade dos alunos. Não haverá um ranqueamento das instituições que participaram da prova. “Vamos às escolas, conversar, para podermos avaliar como melhorar os cursos. Também iremos enviar um relatório ao Ministério da Educação”, afirma Rento Azevedo. Para ele, é função do MEC, acompanhar e avaliar os estudantes, durante a graduação.
Os alunos que faltaram à prova poderão se justificar e realizar o exame no próximo ano. De acordo com Reinaldo Ayer, coordenador do exame, até a presente data, apenas 2 candidatos dos 71 ausentes ainda não apresentaram uma desculpa formal para o não comparecimento. Segundo ele, caso um aluno não se justifique e não compareça ao exame no ano seguinte, há a possibilidade dele não obter o registro. Já os recém-formados que boicotaram o exame obterão o registro, mas apenas no dia 31 de janeiro, após terem analisados cada caso de forma particular.
O presidente do Cremesp afirma que “um médico recém-formado que tem como a primeira atitude boicotar um exame já começa errando”, completando que o baixo índice de estudantes que boicotaram a prova mostra que tal atitude foi um “fracasso”. Ele afirma, ainda, que não existe uma lei no Brasil que permita que uma avalição barre o registro de novos médicos, tal qual acontece com o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - há um Projeto de Lei do Senado, (PLS) 217/2004, de autoria do senador Tião Viana (PT-AC), que propõe a instituição do Exame Nacional de Proficiência em Medicina como requisito para o exercício da profissão.
Bráulio Luna é mais enfático nas críticas. “Quem boicota a prova faz parte de uma elite que se recusa a ser avaliada”, afirma. “São pessoas egoístas, que não querem colaborar para a melhoria do ensino de medicina no país”.
O outro lado
Presentes na sede do Cremesp para uma audiência com o presidente Renato Azevedo, estudantes da Unicamp reafirmaram a posição de boicotar o exame.
Elaine Vieira, recém-formada pela Unicamp, boicotou a prova, assinalando a letra “B” em todas as questões, mas respondeu, para sua própria avaliação, as questões, acertando 74% delas. Ela afirma que a “avaliação foi mal elaborada” e não testou a instituição e as competências do médico, “balizando o indivíduo”.
Vieira afirma que “é papel do MEC, e não do Cremesp, avaliar os estudantes que se formam em Medicina”, ressaltando que o ideal seria um teste que avaliasse o aluno ao longo do curso, e não apenas ao término dele.
O estudante do 3º ano da mesma universidade, André Palma, concorda com Vieira. “Queremos uma prova semelhante ao teste progresso, que avalie também o corpo docente e a infra-estrutura da universidade”.
Para ele, o atraso na liberação do registro médico é uma clara punição aos estudantes que boicotaram a prova. Ele afirma que a reunião realizada nesta quinta, após a divulgação dos resultados da avaliação, tem por objetivo “agilizar a liberação da papelada”.
Fonte iG
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