Por causa de um zumbido contínuo nos ouvidos, a professora Silvana Hare, de 50 anos, teve depressão. Há dois anos e meio, o economista Ronaldo Buzzo, de 26 anos, teve a primeira crise com ruídos estranhos na via auditiva. O problema, nem sempre levado a sério e raramente tratado como doença, atinge 25% da população adulta em todo o mundo.
A projeção é de uma pesquisa feita pelo Departamento de Otorrinolaringologia e da Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachusetts sobre a prevalência e características do zumbido entre os adultos. Publicada pelo American Journal of Medicine, o levantamento aponta que 25% da população adulta mundial sofre com zumbido. Estudos anteriores apontavam 15%.
As evidências científicas sobre a eficácia de tratamentos para zumbido ainda não existem. Por isso, alguns médicos não consideram uma doença. “A estimativa é de que hajam 28 milhões de brasileiros com o problema”, diz Tanit Ganz Sanchez, otorrinolaringologista especializada em zumbidos e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
De acordo com a médica, zumbido significa perceber um som que não está sendo gerado no meio ambiente naquele momento. Ele pode ser definido como uma ilusão auditiva, ou seja, uma sensação sonora não relacionada com uma fonte externa de estimulação. “Apesar de não ser uma doença grave, o problema atrapalha a rotina, concentração e interfere na qualidade de vida do paciente”, explica Tanit.
Numa palestra ministrada durante o 41.º Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, realizada no início deste mês na capital paranaense, a médica fez questão de alertar seus colegas otorrinos sobre o zumbido – assunto que, segundo ela, muitas vezes é tratado com desdém pelos profissionais que não têm uma matéria específica sobre o tema na fase de residência. “Se formos considerar a literatura científica diremos para nossos pacientes que não tem cura. Que ele não vai morrer disso, mas com isso”, salientou a médica.
Foi exatamente essa frase que a professora Silvana ouviu de um otorrinolaringologista quando procurou ajuda pela primeira vez, em 2003. “Acordei de madrugada com aquele barulho no ouvido. Era parecido com o som do chiado de uma televisão e algumas vezes era como uma panela de pressão”, conta, satisfeita por ter encontrado a doutora Tanit. “Confesso que cheguei num ponto de pensar que ainda era nova e queria morrer se fosse para viver com aquele ruído no ouvido.”
Já o economista Buzzo descobriu o problema há quase três anos e o que não podia imaginar era que seu gosto por doces e sua arcada dentária tivessem ligação com ruídos.
Na opinião da otorrinolaringologista Tanit Sanchez, o incômodo e alteração que o zumbido causa na vida de pessoas com o problema devem ser levados em consideração pelos profissionais da medicina. “Precisamos nos colocar no lugar dessas pessoas que têm suas vidas completamente afetadas por conta de um barulho constante em seus ouvidos.”
Ao contrário do que se pode imaginar, o mal não atinge só pessoas idosas ou com problemas auditivos. Há três anos, o economista Ronaldo Buzzo, de 26 anos, descobriu dois motivos para o zumbido que ouvia e nenhum deles estava ligado à audição.
Uma das origens de seu problema era metabólica – causada principalmente por compulsão de doces e carboidratos. A outra, era somato-sensorial, causado por problemas na arcada dentária, entre outras regiões.
Como Ronaldo tinha histórico de diabete na família, recebeu orientação para controlar a ingestão de doces e fazer uma dieta diferenciada. Além disso, uma parceria com um dentista foi necessária para tratar uma alteração na mandíbula. Hoje ele usa um aparelho para corrigir a mordida. “O tratamento tem eficácia e as pessoas não devem se acostumar a viver com isso (zumbido)”, diz Buzzo.
Para ajudar esses pacientes, é preciso que o médico dedique tempo na consulta, segundo Marcelo de Toledo Piza, diretor da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico – Facial. “Isso é um problema porque os médicos de convênio, por exemplo, ganham pouco por cada consulta e querem atender muitos pacientes e rápido. Mas para zumbido, não tem como fazer uma consulta rápida e dar uma solução rápida.”
Pingue Pongue Dra. Tanit Ganz Sanchez
O zumbido tem cura?
Pela literatura científica não, mas precisamos considerar a realidade do consultório. Muitas pessoas sofrem disso.
Qual é o tratamento eficaz?
Não tem um tratamento que é bom para todo mundo. Costumo dividi-los em subgrupos ([ITALIC]leia quadro[/ITALIC]). Para mim a questão do diagnóstico, saber o que está por traz do zumbido, é importante.
Qual é o problema do zumbido?
A resistência dos médicos para entender que é preciso ajudar os pacientes. Se reverto a causa, aumento a chance de reverter o zumbido. É um trabalho que exige paciência, investigação.
Fonte Estadão
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