Estudantes que promovem o bullying (comportamento de intimidação e
violência) podem, também, ter relacionamentos conflituosos com pais e amigos,
além de falta de preceitos morais.
Uma pesquisa recente – um estudo conjunto que foi conduzido por pesquisadores
da Universidade de York e da Universidade do Queens, EUA – mostrou que quase
10% dos estudantes do ensino médio havia cometido atos de bullying em
alguma fase escolar.
Mais de 13% admitiram que promoveram comportamentos intimidadores no ensino
primário, mas afirmaram que depois haviam cessado as intimidações.
Aproximadamente 35% dos entrevistados admitiram cometer o bullying, mas
que consideravam os atos “leves”, e 41% responderam nunca ter presenciado o
bullying em toda a adolescência.
Os pesquisadores acompanharam durante sete anos mais de 800 estudantes, cujas
idades variaram dos 10 aos 18 anos. Todo ano essas crianças eram questionadas
sobre o ato do bullying e comportamentos intimidadores.
“Mas não é só intimidação”, afirma Lauro Monteiro, pediatra especialista no
assunto e que coordena o Observatório da Infância, um grupo que estuda a
violência contra a criança. “O bullying pode ter várias facetas, incluindo
violências verbais que são aceitas até pelos professores, que não se
conscientizam do ato”, diz.
Professores também participam
Em uma pesquisa feita com quase 5.500 alunos, com idade média de 13 anos,
realizada em 12 escolas na cidade do Rio de Janeiro, o principal ato de
bullying observado foi o verbal: 54% dos estudantes se sentiam
oprimidos ao se depararem com apelidos dados pelos colegas. Na maioria das vezes
os professores compartilhavam dos atos de intimidação. “Parece bobagem, quando
não observamos atentamente o problema, mas um aluno obeso que tinha sido
apelidado de ‘lasanha’ pela classe se sentia desamparado por não poder contar
com a ajuda do professor, que também o chamava assim durante a aula”,
exemplifica Monteiro.
No Brasil, ao contrário dos outros países, o bullying dentro da sala
de aula é muito maior que nos horários de intervalo. Além do bullying
verbal (que inclui apelidos e vaias, por exemplo), 16% dos alunos entrevistados
foram alvo de agressão física e quase 12% indicavam a difamação
(bullying social) como problemas enfrentados na escola.
O papel da família
“Um dos fatores que contribui para esse comportamento, no caso dos
agressores, é, normalmente, a falta de uma estrutura familiar”, observa
Cristiano Nabuco de Abreu, integrante do Ambulatório Integrado dos Transtornos
do Impulso (Amiti) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP
(FMUSP), e que também atende casos de cyberbullying. “Nesses núcleos
familiares, o que falta é a demonstração da empatia, do estímulo para se colocar
no papel do outro. Muitas vezes os pais também já demonstram um comportamento
antissocial e estimulam esse tipo de postura nos filhos”, continua.
“Do outro lado”, observa Monteiro, referindo-se às vítimas, “há problemas de
baixa autoestima, dificuldade de comunicação – mesmo entre a família –,
introversão extrema, não saber se impor… Tudo isso precisa ser observado e
também passa pelo ambiente familiar.”
E há ainda outros problemas associados: muitas vezes as vítimas de
bullying na escola podem reproduzir esses comportamentos em outros
cenários, como forma de compensação.
“Isso afeta os pais – algumas vezes alheios aos problemas dos filhos – e
irmãos menores (que podem se tornar vítimas)”, diz Nabuco, “e podem se refletir
na internet – em jogos e redes sociais –, através do cyberbulling, onde
esses indivíduos podem se refugiar e promover uma violência em um cenário em que
eles tentam ter o controle das situações.” Outras vezes, esse controle não se
concretiza e as crianças passam a ser alvos de violência também na internet,
piorando a sensação de opressão e levando ao desenvolvimento de outros
transtornos mentais, ou mesmo levando ao risco de suicídio.
“A melhor forma de combater essa situação de violência na escola – e que mais
tarde pode se transferir para outras situações sociais, como no trânsito ou no
local de trabalho – é promover a conscientização do problema e promover a
participação de pais e professores na resolução desses transtornos de
comportamento”, sugere Monteiro.
Fonte O que eu tenho
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