Rede privada fez 72 mil cirurgias em 2012, contra 5.332 na pública. Sete estados brasileiros não têm centros especializados que atendem pelo SUS
Números apresentados nesta terça-feira (2) pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) revelam o acesso desigual à cirurgia de redução de estômago no País.
Enquanto o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 5.332 cirurgias bariátricas este ano, na rede particular foram 72 mil operações, um índice 13 vezes maior.
O procedimento é indicado para quem convive com obesidade mórbida em níveis ameaçadores da saúde, aproximando infarto, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes e hipertensão.
A radiografia realizada pelo próprio Ministério da Saúde mostra que esta condição de risco não é exclusiva da parcela mais rica brasileira e que tem plano de saúde. Ao contrário: entre os adultos com índices baixos de escolaridade (até 8 anos de estudo) 52% estão acima do peso. O número cai para 47% entre os que têm 12 anos de estudo ou mais (nível superior).
O estudo feito pelo governo federal, chamado Vigitel, não mapeou a renda dos 52 mil pesquisados. Mas o acesso à educação é considerado pelos especialistas como indicativo de classe econômica. Isso evidencia, dizem especialistas, que a epidemia da obesidade está espalhada por todas as esferas populacionais do País.
“Há um abismo imenso no acesso à cirurgia bariátrica. Não existem centros especializados e profissionais capacitados em todo País, disponíveis na rede pública”, afirma Irineu Rasera Júnior, especialista em cirurgia do aparelho digestivo, revisor da Obesity Surgery, médico do SUS e autor do levantamento da SBCBM.
“Em 2000, quando a cirurgia bariátrica passou a fazer parte da grade coberta pelo Ministério da Saúde, eram 17 centros credenciados para o procedimento. Atualmente, são 77, mas 23 destas unidades estão em São Paulo (29,8%). Sete Estados não contam com nenhum hospital público capaz de realizar a operação. Isso obriga os pacientes a viajarem e mudarem de casa caso queiram ser contemplados, fato que presencio quase diariamente no hospital”, completa Rasera Júnior, que atua na capital paulista.
Nos locais sem opção de hospital público para a redução de estômago, as taxas de obesidade são semelhantes as do resto do País – atualmente 15,8% dos brasileiros são obesos. Rondônia (13% de obesidade), Paraíba (14%), Goiás (13%), Amazonas (18%), Acre (17%), Roraima (13%) e Paiuí (13%) são os estados sem centros públicos que fazem a operação.
Uma década de espera
Apesar da concentração de centros públicos em São Paulo, a fila de pacientes apenas na capital paulista soma 5 mil pessoas e a espera para o acesso ao procedimento é de 10 anos, segundo o presidente da SBCBM, Ricardo Cohen.
“Conseguimos estes números com os hospitais paulistanos que fazem bariátrica via SUS. Já sabemos que precisamos de um banco de dados nacional para conseguir responder ao tamanho da demanda reprimida em todo o território brasileiro”, afirma Cohen.
“Mas seguramente posso afirmar que muitas pessoas, obesas mórbidas, morrem enquanto esperam. Na Santa Casa de São Paulo (uma das unidades públicas de SP) a taxa de mortalidade na fila é de 2,9%. O índice de mortalidade da cirurgia bariátrica é de 0,1%”, endossa Cohen.
Critérios iguais, entraves diferentes
Almino Ramos, presidente de São Paulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, afirma que os critérios para indicar uma cirurgia a um paciente obeso são os mesmos, seja ele dependente do SUS ou com plano de saúde. Nos dois casos, é preciso ter um acompanhamento médico de, no mínimo, dois anos, e evidências de que reeducação alimentar e prática de atividade física não foram suficientes para reduzir o peso.
Os entraves para o acesso à operação, no entanto, são diferentes. Na rede pública, faltam vagas. Na particular, sobra burocracia.
“Para o plano de saúde aceitar um paciente obeso, precisamos comprovar que todas as alternativas para o emagrecimento foram esgotadas. Um dossiê precisa ser encaminhado às operadoras, informando desde quando a pessoa tentou emagrecer a primeira vez. Reunir os laudos médicos colecionados no caminho, que indicam o risco cardíaco, a pressão arterial descontrolada, o diabetes em níveis alarmantes, nem sempre é possível”, diz Ramos.
Para o especialista, muitas vezes a bariátrica não é a última alternativa do obeso e, sim, a única opção.
“Sem acesso ao procedimento, com 200 quilos e colesterol lá em cima o sistema cardiovascular, este paciente morre enquanto espera a bariátrica”, lamenta.
Fonte iG
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