Em congresso mundial sobre o tema, neurologistas defendem políticas que acabem com a diferença de acesso a prevenção e tratamento entre ricos e pobres
O impacto social na vida de quem sofre um acidente vascular cerebral precisa ser diminuído com urgência. Essa é a opinião do neurologista Ayrton Massaro, professor da Universidade de São Paulo (USP) e médico do Instituto de Reabilitação Lucy Montoro.
“Pessoas que vivem em áreas mais ricas morrem menos do quem mora nas mais pobres. Essa disparidade precisa diminuir”, afirma o especialista, que está em Brasília participando do Congresso Mundial de AVC, realizado pela World Stroke Organization.
Massaro diz que as diferenças de acesso não só à saúde, mas também à educação são determinantes.
“A prevenção é o mais importante contra essa doença. Temos recursos, mas usamos da maneira errada, não alcançamos os pacientes”, critica.
Para o especialista, o principal controle do que eles já consideram uma epidemia pode ser feito de maneira simples. Os fatores de risco são o sedentarismo, a diabetes, a hipertensão e o tabagismo, além de arritmias cardíacas. Todos esses temas, garante, podem ser trabalhados nas unidades de atenção primária à saúde.
“A população precisa ter acesso aos médicos e a enfermeiros que os expliquem tudo isso. Não precisamos de superhospitais para evitar os AVCs”, defende. A doença é mais comum em pessoas acima dos 60 anos, mas o índice entre jovens aumentou. Atualmente, 10% dos casos ocorrem em pessoas com menos de 45 anos.
Uma em cada seis pessoas no mundo terá um AVC ao longo da vida, de acordo com a Organização Mundial de AVC. Além de mortes prematuras, a doença pode deixar sequelas graves, que afetam a vida do indivíduo: 70% dos pacientes que sofrem um AVC não voltam ao trabalho e metade se torna dependente de outras pessoas para realizar atividades básicas.
Programas de prevenção
Elza Dias Tosta da Silva, presidente da Associação Brasileira de Neurologia, acredita que o Brasil está “despertando” para a epidemia agora. Em 2011, médicos e gestores chegaram a um acordo sobre como a doença deve ser tratada na rede de saúde. A portaria que determina como deve ser o atendimento nos hospitais (nº 665) foi publicada em abril.
“As unidades hospitalares devem criar ambientes específicos para tratar AVC, com neurologista à disposição e equipamento para realizar tomografia. Quem é identificado com a doença precisa ser medicado em três horas para evitar sequelas e garantir sobrevida”, ressalta Elza. Para ela, esse é o maior gargalo: aumentar o número de hospitais preparados.
Sheila Martins, presidente da ONG Rede Brasil AVC, que é consultora técnica do Ministério da Saúde, diz que há 90 unidades de saúde habilitadas para esse atendimento específico. A meta é fazer com que os 250 hospitais públicos que têm tomógrafo façam parte dessa rede.
O ministério está preparando, de acordo com a neurologista, um treinamento para profissionais que atuam em todos os níveis de atendimento. Em um ano e meio, 120 mil pessoas serão capacitadas.
“Hoje, um paciente que sofre um AVC deve ligar imediatamente para o Samu. Eles sabem para onde encaminhá-lo”, afirma.
Há dois tipos de AVC, o isquêmico e o hemorrágico. O primeiro é o mais comum, 85% dos casos ocorrem por causa da obstrução de um vaso sanguíneo no cérebro. No segundo caso, um vaso sanguíneo cerebral se rompe, provocando sangramento. Os sinais mais comuns do AVC são: fraqueza ou formigamento da face, braço e perna; dificuldade para falar, alteração da visão, do equilíbrio, dor de cabeça súbita.
Fonte iG
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