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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Terapia na adolescência: fazer ou não?

Ajuda profissional na fase de maiores mudanças da vida pode ser fundamental. Mas para isso é preciso escolher o tratamento ideal e ter apoio dos pais
 
A adolescência é uma fase de muitas mudanças. É neste período em que nosso corpo e mente passam por transformações e principalmente começamos a nos dar conta das aflições e angústias da vida que, durante a infância, eram facilmente esquecidas com algumas horas de brincadeira no playground. Alguns lidam com essa transição da melhor forma possível, outros nem tanto. E então vem a pergunta: “começar a fazer terapia ou não?”
 
Às quartas-feiras, Nina, interpretada por Bianca Müller em “ Sessão de Terapia”, do canal pago GNT, visita o consultório do psicólogo Theo, quem começou a ver após sofrer um misterioso acidente de carro. A partir dos encontros semanais, a personagem, que é ginasta e sofre pressão de seus pais e equipe, revela alguns de seus fantasmas internos e aos poucos aprende a lidar com eles.
 
Ninguém precisa, no entanto, passar por uma situação tão dramática para sentir a necessidade de começar a fazer análise, mas a história fictícia da garota de 15 anos mostra como pode ser benéfico o acompanhamento psicológico durante esta fase tão confusa da vida.
 
Antonio Carlos Amador Pereira, professor de Psicologia da PUC de São Paulo, conta que, às vezes, um terapeuta pode ser apenas um bom ouvinte. “O jovem tem muita timidez na hora de se abrir para um amigo ou familiar, então conversar com uma pessoa mais velha pode ajudar”, comenta. “Ainda há a questão de que ali a privacidade está assegurada e de que ele terá, uma vez por semana, uma pessoa para apenas ouvi-lo por pelo menos uma hora inteira. É um momento só para ele”.
 
O também professor Miguel Peroza, que cuida em seu consultório tanto de pacientes adultos como de adolescentes, complementa: “Fazer acompanhamento é bom tanto para quem tem algum tipo de problema pessoal, como para quem quer se aprofundar no auto-conhecimento”.
 
Ainda segundo Antonio Carlos, a própria vontade já caracteriza uma necessidade. “Se a pessoa tem o impulso de visitar um consultório, é porque ela acha que é necessário ver um médico, mesmo que não saiba muito bem o porquê.”
 
Segundo a tese “ A Terapia do Adolescente”, de Marta Regina Cemin, professora da PUC-RS, a adolescência é uma boa época para começar um trabalho de psicoterapia porque o jovem está passando por uma fase de revisão de tudo o que já aprendeu até então, além de as estruturas da personalidade ainda não estarem completamente sedimentadas e, portando, existir muita mobilidade.
 
“A pessoa de 13 aos 18 anos é mais moldável”, explica Peroza. “É gostoso trabalhar com um adolescente porque as respostas ao tratamento são vistas quase imediatamente, já que ele ainda não tem um padrão rígido de comportamento”.
 
O início é a parte mais difícil deste tratamento. “O jovem acabou de descobrir um mundo dentro de si e não quer lidar com a existência dele, enquanto o psicólogo quer fazê-lo olhar para ele. Assim, fazer o a garota ou garoto se comprometer neste processo é algo bastante intrincado”, conta o professor.
 
O tratamento ideal para cada pessoa
Como é um caminho complicado, é importante certa afinidade entre o profissional e o paciente. “Quando o terapeuta entende a vivência do jovem, facilita muito. E, a partir do momento que o adolescente encontra uma razão para estar ali, o trabalho deslancha”, completa Miguel.
 
O especilista deixa claro que não adianta começar a fazer terapia se o adolescente não tem vontade. “Existe uma piada no nosso meio que é assim: ‘Quantos psicólogos são necessários para trocar uma lâmpada? Apenas um, mas a lâmpada tem que querer ser trocada’”, brinca o especialista. “Ou seja, só há um avanço terapêutico se o paciente quiser estar ali”.
 
Antonio Carlos Amador conta que ainda há casos de jovens que são trazidos pelos pais a força porque andam tendo um “mau comportamento”. “Quando este tipo de situação acontece, deixo claro que o meu contrato é com o adolescente e que ele é a mais importante ali, então o pai e a mãe não podem dar muito palpite”. O médico ressalta, ainda, que é importante que os parentes entendam a privacidade das sessões. “Lidar com pais de um jovem é bastante complicado, por isso tem que haver uma cooperação mútua”, diz.
 
Carol Carminatti começou a fazer terapia aos 12 anos, quando tinha crises de melancolia. “Eu era meio depressiva e, por isso, pedi para minha mãe arranjar alguma ajuda para mim”, comenta a jovem, hoje aos 22 anos, que trabalha como produtora de TV. Antes de encontrar um profissional que atendesse suas necessidades, ela passou por três médicos diferentes.
 
Julia Mariano, de 21 anos, fez tratamento psicológico dos 9 aos 14 anos, mas nunca aproveitou o tratamento. “A primeira pessoa que eu via não falava muito comigo e só me mandava eu jogar ‘stop’. Hoje em dia eu sou muito boa neste jogo”, brinca a jovem. Quando completou 18 anos, ela decidiu voltar a fazer um acompanhamento com outro profissional, mas a experiência também não foi boa.
 
“Eu fiz apenas uma consulta, porque a mulher olhou para mim e disse: ‘Não precisa vir mais aqui, você não tem mais o que fazer aqui’”, explica.
 
Assim, nem sempre a gente encontra o profissional ideal na primeira tentativa. “O paciente tem que se sentir confortável, respeitado e seguro dentro do consultório de seu terapeuta”, explica Miguel. “Se isso não acontecer, é preciso buscar alguém que atenda suas expectativas”, diz Antonio Carlos. Quem não consegue se enquadrar nas terapias convencionais, existe uma série de vertentes alternativas.
 
Carol, por exemplo, está fazendo um tratamento holístico, em que o médico vê o corpo físico, mental, espiritual e sentimental como um só. “Ela mexe com florais e com o meu subconsciente. Então eu anoto alguns sonhos e ela me ajuda a me conhecer por eles”, explica. “É preciso acreditar no tipo de tratamento que você está recebendo, se não não dá certo”, afirma Antonio Carlos.
 
Apesar de ser bastante entusiasta da terapia, Carol não foi sempre compreendida por seus pais. “Eles me ajudaram em muita coisa, é claro, mas os meus pais achavam que terapia era coisa de rico, que meus problemas eram só uma fase”, explica.
 
As mudanças comportamentais e o progresso da jovem junto ao trabalho do psicólogo, no entanto, convenceram o pai e a mãe dela. “Eles viram como eu melhorei quando comecei a ir ao terapeuta. Isso provocou uma troca de conceito na cabeça deles”, comenta a garota.
 
“Existe uma ideia de que quem faz terapia é porque tem um problema sério”, fala Miguel Pedroza. “O que não é verdade”. Este tipo de pensamento faz com que muitos adolescentes tenham vergonha de ir ao psicólogo ao admitirem que precisam de um acompanhamento.
 
“Já vi casos de pacientes que escondiam que iam ao terapeuta porque não sabiam qual seria a reação de seus colegas de trabalho, por exemplo”, comenta Amador. “Outro caso foi de um aluno meu fazia um trabalho em um time de futebol em que um dos jogadores ficava falando: ‘Mas, doutor, eu não sou louco!’”

Fonte iG

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